Adoração só Reformada. E o resto é resto...



JOHNSON, Terry L. Adoração reformada: a adoração que é de acordo com as Escrituras. Trad. de Josafá Vasconcelos. São Paulo: Os Puritanos, 2001. 68p.



Um dos temas que comumente são discutidos no seio das igrejas protestantes é a chamada adoração. Não poucas vezes os debates se tornam acalorados, chegando até a serem a força propulsora para cismas eclesiásticos. Há também quem considere isso como algo de menor importância, e que também deve se coadunar com as preferências de cada igreja local. Ou seja, a adoração a Deus, segundo esta opinião, tem por instrumento regulador a discricionariedade eclesiástica local.
A despeito da indiferença de muitos, Terry L. Johnson procura apresentar não somente a relevância da temática mas também o que entende como sendo a “adoração que é de acordo com as Escrituras”, e esta, para ele, é a adoração reformada. É a partir de tal premissa que toda a obra é construída, estando dividida em quatro capítulos, sendo que o primeiro funciona como introdução e o último como conclusão do opúsculo.
Dessa forma, Johnson desenvolve toda a sua argumentação sem perder de foco as suas “lentes hermenêuticas” forjadas sob a ótica calvinista.
O primeiro capítulo, como comentado, vai ter um caráter introdutório. Nele Johnson vai falar brevemente de sua formação espiritual, onde passou pela tradição batista reavivalista, pela Igreja Comunitária da Graça, de John MacArthur, pelos corinhos do Maranatha Music, pelo Movimento Jesus, e pelo Trinity College, em Bristol, Inglaterra, onde se utilizava o Livro de Oração Comum, oriundo do anglicanismo (Cf. p. 10). Por ter vivenciado toda essa pluralidade, ele pode com propriedade dizer que o ethos reformado não se coaduna com quaisquer destas formas de adoração. Mas ele, dentre muitas abordagens feitas, vai focalizar a seguinte questão: “O que devemos fazer no Culto Público de Adoração no Dia do Senhor?” (p. 11). Ele não está preocupado com a adoração num sentido amplo, naquilo que glorifica a Deus no “dia a dia”, nem com uma estrutura litúrgica “estreita, legalista e fundamentalista” (p. 17), mas com o que deve ser feito no culto dominical. A adoração é reputada como sendo o “norte” a ser seguido, visto que é o tema central do diálogo de Jesus com a mulher samaritana (Jo 4.1-30). Além do mais, pode ser observado que a adoração em “espírito e em verdade” está fulcrada na afirmação de Jesus sobre a essência de Deus: “Deus é espírito” (v. 24). Por isso, a adoração deve ter atitude e forma corretas (f. p. 30), conforme os capítulos seguintes nos mostram.
No segundo capítulo, Johnson opta por tratar do princípio “em verdade”. A adoração calcada nele deve estar conforme as Escrituras (Cf. p. 31), ou seja, deve seguir o chamado “Princípio Regulador” que rejeita qualquer forma não sancionada no Cânon Sagrado, a despeito das opiniões contrárias de John Frame, comumente citados no rodapé do opúsculo (Cf. p. 11,31). Tal alegação é corroborada por vários exemplos bíblicos citados onde Deus normatiza o culto ou rejeita o falso culto(Cf. p. 32,33). Além disso, convém recordar que o homem está corrompido pelo pecado, depende da revelação das Escrituras, que é a regra de fé e prática dos protestantes, e que Deus é soberano para estabelecer como quer ser adorado. Também observa-se que a adoração deve estar eivada de conteúdo bíblico, ou seja, as Escrituras devem, além da leitura, preencher a pregação, os cânticos, a oração e os sacramentos (Cf. p. 43-45). Essa simplicidade não dá margem às falsas alegações de que tal culto é meramente cognitivo, a não ser que se rejeite a inspiração do conteúdo Bíblico aplicado em suas partes.
Não obstante tais objeções, a adoração que é, como já visto, “em verdade”, também é “em espírito”. Vai ser no terceiro capítulo que esse princípio vai ser analisado. Para o autor, uma adoração “em espírito” é caracterizada como sendo algo que se origina no interior do coração humano. Não está mais atrelada às representações visíveis veterotestamentárias de realidades espirituais neotestamentárias, ainda que os sacramentos do batismo e santa ceia também sejam representações das verdades do evangelho (Cf. p. 48).
A simbologia veterotestamentária é substituída pela simplicidade do culto cristão. Por isso Johnson diz que a adoração também é “simples” (p. 52). Toda a complexidade cerimonial foi deixada de lado, sendo substituída pela doutrina dos apóstolos, comunhão, partir do pão e orações (Cf. p. 56). Mas além de sua “simplicidade” e “internalidade”, a adoração “em espírito” é também reverente. Convém que se ofereça a Deus um culto “aceitável, com reverência e santo temor” (Hb 12.28). Não é à toa que Johnson vai contrastar a alegria cristã com a experimentada num baile (Cf. p. 60). O “pio exibicionismo” não é apropriado nos cultos reformados visto que o desejo não é atrair a atenção para si próprio. Apenas Deus deve ser glorificado (Cf. p. 61).
A obra se encerra no quarto capítulo, o qual vai tratar de algumas reivindicações feitas em favor do uso de expressões corporais no culto (Cf. p. 63). Nele são vistas as alegações construídas a partir de textos extraídos principalmente dos Salmos, os quais são muitas vezes descontextualizados com o objetivo de defender o emprego na liturgia de danças, palmas, dentre outras expressões (Cf. p. 63, 64). Além disso, o autor contesta o que chama de “estilo carismático” (p. 67), especialmente por sua forte ênfase não-cognitiva e experimental, a qual concorre para uma superficialidade religiosa alicerçada não na verdade, mas na experiência. Ela destoa totalmente da adoração reformada, a qual é formatada pelas Escrituras Sagradas e visa glorificar a Deus, e não entreter os homens.
Pode-se dizer que a obra é de grande valor para todo aquele que desejar conhecer um pouco sobre o conceito reformado de adoração. A inteligibilidade de sua linguagem o torna acessível a qualquer cristão, ao invés de se restringir àqueles de nível acadêmico. Ele não se propõe abordar a temática exaustivamente, mas transmitir seus princípios fundamentando-os biblicamente. Infelizmente, como uma das características do povo brasileiro é sua aversão à leitura, a grande massa evangélica acaba por herdar tal atributo, deixando de desfrutar de obras como esta, a qual, ainda que simples, é bastante objetiva e edificante para todo aquele que a lê.

2 comentários:

  1. Meu amigo Anderson, estava dando uma olhadinha no blog e vi que realmente o conteúdo é muito bom!!!
    Este post é uma realidade brasileira, sobre a preguiça brasileiara de ler e a falta de ordem no culto coisas da Assembléia de Deus. Sem contar na liturgia que não tem, o únicos ponto que observei foi sobre o bater palma e dançar, que felizmente na AD num tem dessas coisas.
    Gsotei mt do blog sempre q puder vou dar uma acessada.
    Fica na paz!!!
    Filipe

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  2. Filipe, muito obrigado por acessar o blog. Existem já vários artigos postados e arquivados à sua direita sobre os mais variados assuntos. Gostaria de lhe pedir 3 coisas:1- Ore para que esse blog sempre glorifique ao nosso criador; 2-Divulgue para seus amigos;3- Sugiram assuntos de relevância para a atualidade.
    Um gde abraço e que Deus o abençoe.
    Anderson

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