Quem é Jesus?- Análise Evangelho de João

João 1: 1, 14
" PRÓLOGO DE JOÃO: UMA MENSAGEM ESSENCIAL DO SEU EVANGELHO".


Sem. Rogério Mattos
"Vs. 1 - No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Vs. 14 - E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai" – Edição Revista e Atualizada.
    O versículo 14 funciona como um divisor das águas no primeiro capítulo deste evangelho e, também, como uma introdução de toda a obra cristológica que vem a seguir. Este texto - 14a - é muito semelhante ao final do verso 1 quanto a sua forma gramatical. No fim do vs. 1 encontramos uma estrutura composta por uma conjunção, um nominativo, um verbo e um nominativo seguido de artigo - kai. qeo.j h=n o` lo,goj (kai Théos en hó Logos - e o verbo era Deus). No verso 14a temos a mesma estrutura: uma conjunção, um nominativo, um verbo e um nominativo seguido de artigo (embora não apareçam na mesma ordem) -
Kai. o` lo,goj sa.rx evge,neto
(kai hó Lógos sarks egeneto - e o verbo se fez carne). Neste primeiro versículo temos a eternidade do
lo,goj, sua relação com o Pai e sua divindade. A diferença entre os versos um e catorze não está a quem se referem, pois os dois falam da mesma pessoa, mas na ênfase dada; No vs 1 a ênfase recai sobre a divindade do lo,goj. Este Lógos é o próprio Deus.
    O vs. 14 está relacionado, intimamente, com o verso 1, visto que esse lo,goj , descrito por João, é o Deus que se fez carne - o` lo,goj sa.rx evge,neto
(hó Lógos sarks egeneto - e o verbo se fez carne). João nos apresenta o Deus-Conosco, o Emanuel, o Deus-homem, o Deus de carne e osso. A ênfase agora está na humanidade do
lo,goj. Ao fazer isso, João ataca, violentamente, mas de forma sutil, a idéia gnóstica, expressa pelo docetismo, de que Cristo tinha apenas a aparência de homem, mas que não tinha corpo físico, real, de um homem.
    A encarnação do lo,goj (que é Cristo) não se limitou apenas ao seu nascimento, mas por toda a sua vida enquanto esteve entre nós e nesta mesma condição na qual ele, Cristo, continua subsistindo com a mesma natureza (cf. At 1: 6-11; Ap 1: 7). A encarnação de Jesus é o próprio Deus manifestado na carne: E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne... (1Tm 3.16a, Texto Bizantino).
    Esse fato de se manifestar na carne nos remonta para o ato de Deus se fazer presente no meio de seu povo no deserto, porém não fisicamente como Jesus. João ao escrever "... habitou entre nós..." faz uso da palavra grega (evskh,nwsen – eskénosen) cujo substantivo se deriva de uma palavra que quer dizer tenda, fazendo, assim, uma alusão ao passado do judeu onde o seu Deus veio habitar no meio deles enquanto peregrinavam pelo deserto.
    Dessa maneira, a presença de Deus conduzindo o seu povo no período mosaico é testemunhada e lembrada na pessoa física do lo,goj, mostrando que o Deus do AT presente no meio daquela congregação é o mesmo Deus que se revelara por meio do Senhor Jesus Cristo; fato, este, que acaba por manifestar a glória de Deus como nos diz o restante do versículo - ...vimos a sua glória. Essa glória não era uma visão como foi no caso de Isaías e na transfiguração, por exemplo. Mas João e alguns de seu tempo puderam ver a glória de Deus através de Jesus numa série de eventos a partir de seu nascimento, batismo, morte, e até sua ressurreição.
    O próprio evangelista, ao escrever sua primeira epístola universal, capítulo primeiro e verso 3a, testifica deste fato quando diz: kai. h` zwh. evfanerw,qh kai. e`wra,kamen kai. marturou/men
(kai He zoe efaneróthe kai eorákamen kai martyrumen - Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos…). O verbo e`wra,kamen (eorákamen) traduzido por vimos – encontra-se no Perfeito Indicativo Ativo cuja qualidade da ação quer dizer algo que aconteceu no passado e tem a sua validade ainda para o tempo presente. Com isso, João diz que eles viram o lo,goj encarnado e o testemunho que tem sido dado pela igreja no presente se baseia nesta verdade. Deus se encarnou, continua encarnado e por isso nós testemunhamos, continuamente, acerca desse Deus, visto que o verbo marturou/men (martyrumen - testemunhar) encontra-se no Presente do Indicativo Ativo, indicando uma ação, preferencialmente, linear, contínua. A proclamação contínua da realidade da encarnação do verbo é o conteúdo da pregação apostólica.
    Para ratificar esta mensagem, João se utiliza de um empirismo teológico. Ele começa o verso de número 1, do capítulo 1, da primeira epístola de João, com a seguinte frase: ai` cei/rej h`mw/n evyhla,fhsan
peri. tou/ lo,gou th/j zwh/j
(hai chereis hemon epseláfesan peri tu logu tes zoes – e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida). O verbo evyhla,fhsan (epseláfesan - traduzido por apalparam) encontra-se no Aoristo Indicativo Ativo, mostrando uma ação pontilear, uma ação vista como um todo, completa e definitiva, pois não se repete. Sendo assim, João quis dizer que, enquanto o lo,goj – encarnado para sempre – esteve no meio deles, verdadeiramente, as próprias mãos dos apóstolos tocaram, fisicamente, o lo,goj
de Deus,
o unigênito do Pai (
monogenou/j para. patro,j – monogenus pará patrós).
    Esta frase monogenou/j para. patro,j é mais do que uma simples metáfora. Jesus não recebe uma glória como se fosse apenas o unigênito do pai, mas a recebe porque ele reflete plenamente, ou melhor, perfeitamente, essa realidade.
    O termo unigênito (monogenh,j) não focaliza o seu nascimento, mas enfatiza o fato de ser ele o objeto do amor do Pai. Há entre o Deus-Pai e o Deus-Filho uma relação filial diferenciada de tudo que temos em relacionamentos, humanamente, conhecidos. João tem a intenção de fazer uma distinção entre o relacionamento exclusivo de Jesus com o Pai e entre aqueles que viriam a ser filhos de Deus por meio dele. João nos mostra que Cristo se relaciona diretamente com o Pai e os demais filhos de Deus se relacionariam com o Pai por intermédio de Jesus Cristo, o mediador desta relação. Esta expressão, também, nos faz lembrar o batismo de Jesus.
    É uma expressão empregada com o mesmo sentido, por assim dizer, da palavra amado (avgaphto,j – agapetós) nos evangelhos sinóticos por ocasião da voz que veio do céu dizendo: "...Este é o meu Filho amado..." (Mt 3.17; Mc 1.11; Lc 3.22). João dá o testemunho que a partir da encarnação do lo,goj, ele, João, e os outros que estavam presentes naquela ocasião, viram a glória de Deus, em Cristo Jesus. Uma glória que só Cristo poderia ter e expressá-la. Única.
    Para concluir, nesta parte do evangelho de João chamado: prólogo, encontramos a divindade e a humanidade de Cristo descritas nestes dois versos. O versículo que faz a separação das narrativas entre essas duas naturezas é o vs. 14. Antes do verso 14 temos a ênfase na divindade e depois deste versículo a humanidade; e no restante do livro joanino toda esta parte (o prólogo) pode ser vista. Como bem disse Champlin: "Este vs. 14 faz parte integral da seção que cobre os versículos catorze a dezoito, e que serve de coroa da doutrina do Lógos, parte essa que contém a mesma mensagem essencial do evangelho inteiro de João."
    Isso nos traz algumas implicações para a nossa vida :



  1. Com relação a aquilo que muitas vezes nos assalta – o nosso sofrimento – podemos descansar e confiar em Cristo porque ele sabe exatamente o que é padecer, pois experimentou, no seu próprio corpo, todas as nossas mazelas físico-emocionais porque se fez carne e habitou entre nós;



  2. Como Deus-Homem ofereceu um perfeito sacrifício a Deus-Pai em favor dos seus eleitos, a tal ponto de poder dizer para o próprio Deus, nos momentos finais de sua vida, pregado naquela cruz: "Está consumado". Tudo que era necessário fazer para o eleito receber a salvação foi feito e sem falta alguma;



  3. Como Deus-Homem oferece uma perfeita intercessão por seus eleitos diante de Deus-Pai; o nosso Sumo-sacerdote, diariamente, advoga as nossas causas perante Deus-Pai que nos ouve as orações e nos abençoa mediante Cristo Jesus;



  4. O amor de Deus-Pai, por seus filhos, se evidencia no amor que ele tem por seu eterno Filho Jesus. O amor de Deus jamais acaba;
A encarnação, definitiva, de Cristo serve de base para a nossa contínua pregação do evangelho. Nós pregamos aquilo que Jesus fez por nós, desde a sua encarnação até a sua morte, ressurreição e ascensão aos céus.

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