O SENHOR DOS EXERCITOS PARTE II


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Porquanto que isto seja verdade esta conotação não se restringe a este comando de tropas militares, como diz John Hartley, bem fundamentado biblicamente, "na verdade afirma o governo universal de Javé, que abrange cada força ou exército, tanto celeste, quanto cósmico ou terreno" (Hartler, 2001:1258). Isto significaria a supremacia do Deus de Israel sobre os outros deuses. A compreensão sobre os outros deuses. A compreensão sobre este Deus ficaria mais ampla, porque o Deus guerreiro seria também o Deus Supremo. Nenhuma nação na terra poderia nada contra o deus de Israel. Nem o Egito pode, nem Amon, nem Moabe, nem as nações cananéias, nem qualquer outra nação. Os poetas hebreus contaram essa glória:

"Pede-me, e te darei as nações como herança e os confins da terra como tua propriedade. Tu as quebrarás com vara de ferro e as despedaçarás como a um vaso de barro. Por isso, ó reis, sejam prudentes; aceitem a advertência, autoridades da terra"

Não há exército que possa com o Deus de Israel. Ele é o Deus Supremo, Salmo 46: 9 – 11.

Nesta direção, Deus rege a ordem da terra e do céu. Essa harmonia terrena e celeste é comandada por deus, o Deus de Israel. Por isso é dito que ao final da criação Deus é autor de tudo criado sobre a terra e no céu: "E foram terminados os céus e a terra e todos os seus exércitos" (Gen. 2:1). Não há como fazer um corte entre a produção literária e a cultura de onde o texto emergiu, nem como desligar a criação da conotação da experiência vivencial. É evidente a origem das onomatopéias, do "tic-tac" do relógio ao verbo "tictatear". Não se pode omitir o barulho do vento nas rochas das montanhas e montes de Israel com o som da palavra "vento" em hebraico HWr (Ruac) Há toda uma fundamentação vivencial da formação dos conceitos, como diz Humbolt "nada passa pela intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos" __ Embora os sabores são diversos, e haja o amargo e o doce , o doce e o azedo, há um fundamento comum: as papilas gustativas.

Como o nome de Deus na descrição da criação foi ~ihla? Porque sua origem é de hla, que significa "força", "autoridade", "poder". Nenhuma palavra se adequaria melhor àquela narrativa que descrevia as ações de um deus que para criar teria que ter "poder". Como o nome de Deus nos textos que falam da comunhão e da convivência é hUwhiy ? Porque é um nome que implica proximidade, aproximação, presença.

Como a expressão referente ao Deus das batalhas é twabc hUwhiyi
? Porque nenhuma outra expressão iria implicar no sentido necessário para expressar do Deus que luta pelo seu povo. É esse majestoso deus, temível e guerreiro, que comanda Israel.

O uso sincrônico da expressão

Façamos, agora, um corte epistemológico no uso da expressão, levando em conta o contexto histórico, no qual os profetas se apossaram daquela expressão conhecida comumente, para dar-lhe um sentido especial. Sendo isso feito especialmente no círculo dos profetas pós-exílios. A compreensão que esses homens de Deus tiveram do Deus deles, naquele momento difícil da vida do povo, fica marcada insistentemente nos seus escritos, onde se registra uma incidência de uso jamais constatada nos outros escritos, também sagrados, dos descendentes de Israel.



Os últimos três profetas escritores pós-exílicos tiveram como contemporâneos, entre tantos outros, Esdras e Neemias. Este usa com freqüência a expressão ~imsh ihla hUhi
(YHWH Deus dos céus) como o nome do Deus do seu povo. Faz uso também do nome mais comum e universalizado ~ihla, como aquele que está em Jerusalém (Ne. 1:3). Conquanto esteja em Jerusalém, o Deus dos descendentes de Israel é o Deus também do céu. Este sentido é o que também entendiam alguns profetas pré e exílicos, como é o caso de Isaías (Is.10:5-4;47;37:16) (Jr. 10:16, etc). Deve-se levar em conta, na escolha deste título para Deus, o próprio contexto situacional de Neemias, que vivia como um funcionário do palácio do rei dominador do mundo mais conhecido de então. Ambiente que não poderia ser desconsiderado com todas as expressões próprias da função exercida no seu âmbito vivencial. Esdras também usa uma expressão, podemos asseverar, "politicamente correta", Larsy ihla
(Deus de Israel), pois afirmar o Deus de Israel não seria negar os deuses das outras nações, seria afirmar um entre outros, embora considerando o seu Deus como o maior, o mais forte, o mais importante. Apesar de todo o exemplo de vida consagrada e de dedicação profunda a Deus e do próprio ambiente, onde exerciam as suas atividades eram necessários os cuidados e requintes diplomáticos devidamente aplicados no cotidiano da vida intrincada da política interna e externa. Neste contexto vivencial as possibilidades de reflexão teológica eram praticamente reduzidas. A preocupação aí era mais de conservação do poder, manutenção do "status quo", de uma ação diplomática adequada, para evitar o confronto externo em falência interna. Daí o cuidado e a diplomacia de Esdras e Neemias, os quais se referiram a Deus de um modo bastante conveniente e cuidadoso.

No entanto, isto não ocorreu no círculo profético que foi formado no cativeiro. Nesse contexto o pensar era livre dos obstáculos da diplomacia política. Entre os profetas, a expressão twavc hUwhy foi tomada com um sentido bem mais amplo do que o até então conhecido. Fica evidente que a incidência de uso é amplamente maior do que em qualquer outro período da história da elaboração dos textos sagrados. Ageu, Zacarias, Malaquias e outros profetas que não escreveram, mas que faziam parte do círculo profético na Babilônia, se apossaram da expressão acima e a usaram para comunicar a compreensão que tiveram de Deus naquela situação aflitiva, que é a de estar no cativeiro, numa terra estrangeira, numa situação incômoda. É, exatamente, aí que surge a indagação a respeito da situação real de vida: por que fomos expulsos de nossa pátria ? O que nosso Deus tem a ver com tudo isso ? Como compreender um Deus que permite tal mudança? Por que o sofrimento da guerra e da deportação humilhante ? E perceberam que Deus é mais do que comandante dos exércitos. Mais do que autoridade sobre os astros do céu. Ele é soberano sobre todos os aspectos da vida do seu povo. Ele não seria somente o i (Gn.22:14, "Senhor proverá"). O ("Senhor é minha bandeira", Ex.17:15); o ("Senhor Deus é nossa justiça", Jeremias 2:1); o ("Senhor é paz", Juízes 24:6); ("Senhor que está lá") nem o (altíssimo); (o que provê); como o vê Isaías amplamente em seus escritos, mas, sendo esta expressão enriquecida pela experiência do cativeiro, lida e relida refletidamente por um grupo de homens preocupados e empenhados em interpretar a História para seus contemporâneos. Sem dúvida, esta era uma função bastante conhecida pela comunidade israelita e esperada por eles. Esta era uma expectativa arraigada na mentalidade dos ouvintes dos profetas: o que Deus fala na História ? o que significa a interferência do Deus que age, que se move de sua imutabilidade e de modo suprarracional, se neste de temporalidade para tangenciar a existência do seu povo e de sua História ? Quem é esse Ser que se revela, mesmo fora das possibilidades racionais ? E quando o faz, até que ponto interfere ? É sobre isso que refletiam os do círculo profético, visto que os que não pertenciam a esse círculo não tinham interesse nesse tipo de reflexão. Suas preocupações eram outras. Lícitas, mas outras. Pode acontecer o que ocorreu com Marco Aurélio, estóico do último período do Estoicismo Antigo, que era guerreiro e filósofo. Mas, o mais natural e comum é o que aconteceu no Cativeiro: homens como Daniel, Esdras, Neemias e outros produziram para os governos, tiveram uma ação fundamentada na política; homens como Ageu, Zacarias e Malaquias e outros produziram para o povo uma reflexão interpretativa, teológica, fundamentada no pensar inquiridor sobre o sentido da História do povo, do qual faziam parte.

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