A Parábola do Servo Infiel

Diante de muitos pedidos postamos agora o estudo sobre a parábola do servo infiel; vale a pena ler de novo e se alimentar dessa rica passagem bíblica o texto em destaque encontra-se em Lucas 16:1-9

 

 
Conta-se que uma certa pessoa afirmava não poder seguir a Bíblia, porque a mesma estava cheia de erros e contradições. A pessoa afirmava que os autores bíblicos e Jesus teriam uma moral duvidosa, Um dos textos citados foi a parábola acima. Muitos crentes ficam numa sinuca. Sabem que Jesus nunca aconselharia algo errado apesar de parecer que ele está dizendo isso na passagem selecionada. O que fazer então?
Nós aqui do plugados com Deus somos calvinistas e presbiterianos, portanto, sabemos que todo texto antigo como a Bíblia tem uma história e uma gramática que não devem ser em hipótese alguma desconsideradas. Texto fora de contexto é pretexto para heresias e heresias já colecionamos aos montes em nosso meio evangélico. Àqueles que desejam saber mais sobre método histórico gramatical podem acessá-lo em outro post aqui mesmo no plugados.
Vamos lá então, precisamos fazer algumas perguntas básicas a esta parábola para entendermos bem o contexto. Convidamos aos amados irmãos a se transportarem aos tempos da palestina do século primeiro, tentaremos pensar como um judeu antigo e assim entender de forma adequada esta parábola. Parece ser difícil não é mesmo? Não se tivermos as ferramentas corretas.
Perguntas:

  1. O senhor da parábola é honrado ou comparsa do mordomo infiel?

  2. O mordomo havia obrigado os devedores a assinar quantias mais elevadas que os débitos reais?

  3. O mordomo é um gerente imobiliário lidando com aluguel de terras ou é um agente autorizado do senhor, será esse mordomo um funcionário de confiança?

     
Respostas:
Tudo indica que o Senhor é um homem justo. Na parábola que precede imediatamente esta, a do filho pródigo, o pai é um nobre e as duas parábolas tem ligação que discutiremos mais detalhadamente no final. Podemos inferir do texto que se o senhor fosse mau ele teria maltratado seu servo logo ao saber que este estava a defraudar-lhe os bens. "Que isto que ouço a teu respeito" em grego dá a idéia de que ouço e continuo ouvindo ao teu respeito, o servo era injusto e várias vezes o Senhor ouviu a seu respeito e poderia muito bem puní-lo. Então concluímos que o senhor era justo e bom.

 
A segunda pergunta trata da ação do mordomo. Aqui precisamos um pouco de conhecimento da cultura. A mishná (comentário rabínico) afirma que ao intermediário cabia uma comissão por seus serviços. Além disso, ganhava-se uma espécie de gorjeta "por debaixo do pano" para sempre conseguir os melhores preços nas terras. Talvez o diálogo se travasse nos seguintes termos: Intermediário ao arrendatário -- Hoje tenho uma promoção imperdível meu senhor! Não irás se arrepender! Aquela terra que vale 150 eu consigo um desconto para o senhor de 50%! O arrendatário muito entusiasmado poderia responder -- é mesmo? Consiga então essa terra para mim com esse desconto! Facilite a minha vida e te darei algo depois ok? o mordomo era um intermediário uma espécie de despachante. A negociação e a burocracia não cabia a um nobre dono de terra e sim aos seus funcionários.

 
O mais provável aqui nesta parábola é que o mordomo é um funcionário com salário fixo, não apenas um corretor de imóveis. A esta categoria de pessoas chama-se shaluá. 
Ele é um gerente contratado pelo dono das terras. Tudo que conseguisse de lucro deveria ser repassado imediatamente ao seu senhor. O proprietário sempre pedia os contratos assinados pelos agricultores e ratificados pelo seu gerente. Neste processo, não haveria margem para o empregado aumentar os preços reais das terras, Porque tudo era lavrado em cartório, por assim dizer.

 
Logo no verso 2 verificamos que o senhor manda chamar o funcionário tentando colocá-lo em confissão. "Que isto que escuto a teu respeito!" Como falamos anteriormente isto é um semitismo que tem significado de algo contínuo. Uma tradução melhor ficaria, que é isto que tenho escutado frequentemente a teu respeito? Algo que se repetia continuamente, uma denúncia constante de que este mordomo estava defraudando os bens do seu senhor. O servo, que é muito inteligente, fica calado e não adiciona nenhuma informação nova. Ele esperava o pior do seu senhor. Em casos como este, o castigo seria no mínimo o insulto público (vitupério)ou a fustigação com varas acompanhada da prisão. Ao contrário do que se esperava o servo simplesmente é despedido e descobre algo no seu senhor, a misericórdia, apesar do seu erro gravíssimo!
Ao perceber isto o servo tem uma conversa consigo mesmo pensando em uma solução rápida. Notavelmente ele pensa em trabalhar na terra. Não se espera naturalmente que um homem culto
(em relação àqueles que lavravam a terra), em posição de autoridade, viesse a fazer trabalhos braçais, afinal, ele era um contador...um gerente! Mas ele não pensa assim, a única razão que encontra para não trabalhar na terra é sua fraqueza física. Ele também rejeita a mendicância. Naquele tempo a mendicância era tida como uma profissão legítima. O mordomo deseja ardentemente outro emprego porém, visto que foi despedido por ter desperdiçado os bens do seu senhor, quem agora lhe daria trabalho? Ele precisa criar uma situação que mude sua imagem perante a sociedade. Um judeu do primeiro século preferiria a morte do que a vergonha.
A chave para sua situação é que ninguém sabe ainda que ele foi demitido. Logo todos o saberão, e por isto ele precisa agir depressa. Ele precisa se preparar agora antes que entregue os livros contábeis ao seu senhor. Em primeiro lugar ele "chama" os devedores. Isto prova que os devedores não sabiam de nada, do contrario, não obedeceriam ao chamado de alguém que não tinha mais autoridade sobre as terras. Os totais das contas são grandes e fixos mas não estavam vencidos e o servo "bondosamente" baixa os preços de todos os contratos, como se fosse um presente de natal, deu uma de papai Noel dos arrendatários! Estes por sua vez, deveriam estar surpresos com tamanha benevolência do senhor que autorizara os descontos. Sim! Porque os arrendatários sabiam que um servo nao teria a autoridade de dar descontos por sim mesmo, logo, interpretaram ser uma ação benéfica do Senhor das terras.
O servo agora gozava de boa reputação diante dos arrendatários e diante da sociedade. "eu convenci o velho senhor a fazer isso" deveria ser esta a conversa dele diante de todos!
Continua parte II.

Entendemos no nosso estudo anterior, que o servo infiel tinha um plano que parecia ser infalível e apostou tudo nele. Ele apostou na benevolência do Senhor, porque este já sabia que estava sendo roubado e mesmo assim não o prendeu. Nem uma surra com vara ao menos foi dada.
As estrofes três e quatro apresentam o problema. As estrofes 5 e 6 apresentam a solução. O mordomo termina seu ousado plano reunindo as contas recém modificadas e entregando-as ao seu Senhor. O senhor examina e reflete acerca das alternativas que tem. Ele sabe muito bem que na aldeia local já começou uma grande festa de celebração em seu louvor, como o mais nobre e mais generoso(qualidades imensamente aprovadas e desejáveis no oriente médio) homem que jamais arrendou terras naquela região. Agora, ele tinha duas alternativas.
Poderá voltar atrás e dizer que tudo não passou de um engano de um funcionário que havia sido demitido. Mas se ele fizer isso agora a alegria do povo se tornará em ira e ele será amaldiçoado por sua avareza, nenhuma pessoa de bem gostaria de ser amaldiçoada pelo seu povo e muito menos por uma qualidade que todos reprovam até os dias de hoje que é a avareza.
Ele pode ficar em silêncio, aceitar o louvor que agora mesmo está sendo proclamado a ele, e permitir que o astuto mordomo se eleve na crista da onda do entusiasmo popular. No verso 8 o senhor se volta para aquele serve e diz: "você é um individuo muito sábio". Uma das definições de sabedoria no Antigo Testamento é o instinto de auto-preservação. De maneira insincera, os atos do mordomo são um cumprimento ao seu senhor.
O que podemos aprender dessa parábola é o seguinte:
Deus (O SENHOR) é um Deus de juízo e misericórdia. Por causa do mal que pratica, o homem (mordomo) mergulhado no pecado terá que prestar contas no mundo vindouro pois, diante de Deus,não há um justo sequer. Desculpas não valerão de nada. A única alternativa é o homem apostar tudo na infinita graça e misericórdia do seu Senhor, que seguramente aceitará o preço da salvação do homem. Esse esperto e velhaco foi suficientemente sábio para ter total confiança na qualidade de misericórdia experimentada no inicio da história. Essa confiança demonstrou ser válida. Os discípulos de Cristo deveriam ter a mesma confiança. O servo é louvado em sua sabedoria por saber exatamente onde estava sua salvação, e não por sua desonestidade neste caso ele viu que sua salvação estava no seu Senhor que era bom e misericordioso. Em resumo, Jesus fala da natureza de Deus, do estado lastimável do homem e da base da salvação deste o homem nesta parábola nao foi salvo por ser infiel,  nem por ter sido espertalhao, nada do que ele poderia fazer o salvaria, não é por obras que conseguimos nos salvar e sim pela miséricórdia do Senhor e pela bondade deste para conosco miseráveis servos, esperamos sinceramente ter contribuído e iluminado esta tão maravilhosa parábola que nos fala de graça imerecida e esperança.
Senhor nos Ilumine
Amém.

2 comentários:

  1. Aqui vai um estudo muito interessante que trata sobre uma parábola que está na Bíblia e retrata a situação de um servo (mordomo) com uma prática acerca da adminsitração dos bens de seu senhor, muito discutida, inclusive. Entretanto, ao se manifestar Jesus por meio dessa parábola, dá conta do estado miserável do homem, e todos somos, mas que a bondade de DEUS extrapola todas as nossas condições, todos os pecados, que não é através das obras que alcançamos a misericórdia ou a salvação, mas através da graça de DEUS. Afinal, a fé sem obras também é vã, o que não nos condiciona a praticarmos a filantropia ou a caridade para termos um lugar garantido no céu. Buscar ser o que pudermos de melhor, termos um caráter firme, ajudarmos o nosso próximo, sermos humildes, mas crer em DEUS e tentar cumprir os Seus Mandamentos, as Suas ordenanças para que tenhamos a Sua imerecida graça.

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  2. Sem dúvida a melhor explicação que já li sobre essa parábola. Deus os abençoe.

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