Luiz Sayão
Nas
últimas décadas muitos livros evangélicos foram escritos para esclarecer o problema
das seitas modernas. Grupos estranhos, heréticos e proselitistas têm surgido e
se multiplicado principalmente nos EUA, no Brasil, na Coréia e no Japão. Quem
lê e ouve a respeito do assunto, imagina que isso é coisa recente, uma aflição
dos últimos tempos. Uma enfermidade de nossa época. Não é bem o caso. Os dias
de Paulo foram marcados por problemas semelhantes e igualmente lamentáveis. A
conhecida carta de Paulo aos colossenses foi escrita entre os anos 60-62. A
maioria dos estudiosos entende que Colossenses faz parte das epístolas da
prisão. Juntamente com Efésios, Filipenses e Filemom, a carta teria sido
enviada por Paulo a partir de Roma, onde Paulo estava preso, conforme o
testemunho de Atos 28.
Colossenses,
muito semelhante a Efésios em diversas partes, tem como alvo auxiliar uma
igreja que Paulo não visitara ainda. O ambiente religioso diversificado,
místico e efervescente estava trazendo problemas doutrinários para a nova
igreja. O perfil dessa heresia colossense tem sido objeto de estudo de comentaristas
e exegetas especializados. Vale a pena dar atenção ao assunto, pois sua
pertinência é inconfundível e sua atualidade, surpreendente.
Os hereges de Colossos fizeram um
verdadeiro sincretismo de tendências religiosas distintas e criaram confusão e
desunião na igreja cristã. Tinham influência da religião greco-romana, do
judaísmo, de uma espécie de gnosticismo incipiente e das religiões de mistério
que proliferavam na Ásia Menor no primeiro século. Paulo, corajosamente,
orienta a igreja de Colossos e confronta o ensinamento prejudicial e
equivocado, exortando o povo de Deus a permanecer firme na fé. Isso pode ser
percebido em alguns versos da carta:
Antes
vocês estavam separados de Deus e, na mente de vocês, eram inimigos por causa
do mau procedimento de vocês. Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de
Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e
livres de qualquer acusação, desde que continuem alicerçados e firmes na fé,
sem se afastarem da esperança do evangelho, que vocês ouviram e que tem sido
proclamado a todos os que estão debaixo do céu. Esse é o evangelho do qual eu,
Paulo, me tornei ministro. (1.21-23)
Tenham
cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se
fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e
não em Cristo. (2.8)
Mas, afinal de contas, que perigo
a heresia colossense representava? O problema era de fato sério? O que pode ser
dito? A pesquisa tem mostrado que a nova tendência teológica herética de
Colossos era um grupo que tinha experiências espirituais extraordinárias. Tais
experiências os colocavam num nível superior acima dos demais. Influenciados
por uma cosmovisão do tipo gnóstica, eles achavam que havia vários níveis de
distanciamento entre Deus e o homem. Era necessário galgar estes degraus por
meio de experiências místicas ascéticas para chegar a um nível superior. Esse
distanciamento enfraquecia o valor de Cristo e de sua obra redentora. Foi por
esse motivo que Paulo combateu o esvaziamento de Cristo, proposto pelos
hereges. Cristo é suficiente e enche toda a plenitude (o espaço entre o céu e a
terra). Vejamos alguns textos importantes:
… pois
nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas
foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo
subsiste. Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o
primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia. Pois foi do
agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude. (1.16-19)
Pois em
Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e, por estarem nele,
que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês receberam a plenitude. Nele
também vocês foram circuncidados, não com uma circuncisão feita por mãos
humanas, mas com a circuncisão feita por Cristo, que é o despojar do corpo da
carne. Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com ele no batismo, e com
ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre
os mortos. (2.9-12)
O tipo de espiritualidade dos hereges os fazia sentir-se superior e
provocava divisão e discriminação na igreja. A decorrência prática era séria.
Os prejuízos eram teológicos, éticos e comunitários. Todavia, não faltou
criatividade no sincretismo colossense. O texto de 2.9-12 fala de circuncisão.
Por que o assunto é levantado? Por incrível que pareça, a heresia colossense
misturava elementos do judaísmo em sua criatividade religiosa. Além disso, esse
judaísmo vinha acompanhado de um misticismo mágico, principalmente ligado à
influência de demônios, também chamados de “princípios elementares”. Tendo
consciência desse cenário, podemos entender alguns versículos importantes:
Portanto,
não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com
relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos
dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade,
porém, encontra-se em Cristo. Não permitam que ninguém que tenha prazer numa
falsa humildade e na adoração de anjos os impeça de alcançar o prêmio. Tal
pessoa conta detalhadamente suas visões, e sua mente carnal a torna orgulhosa.
Trata-se de alguém que não está unido à Cabeça, a partir da qual todo o corpo,
sustentado e unido por seus ligamentos e juntas, efetua o crescimento dado por
Deus. Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste
mundo, por que, como se ainda pertencessem a ele, vocês se submetem a regras:
“Não manuseie!”, “Não prove!”, “Não toque!”? Todas essas coisas estão
destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos
humanos. (2.16-22)
Os hereges passaram a vigiar a
liberdade cristã da igreja e a exigir que eles se abstivessem de alimentos (Lv
11) e de bebidas. Além disso, exigiam também que se observassem as festas
religiosas judaicas. Todavia, a questão era mais complexa. Acreditava-se que os
princípios elementares (potestades espirituais) tivessem poder sobre certas
datas. Portanto, a obediência às festas não envolvia apenas idéias judaicas,
mas também o temor pagão dos espíritos maus. Assim, a exigência legalista de
regras era muito clara e incisiva. Paulo deixa claro que isso era ensino
humano. Os hereges ensinavam que apenas crer em Cristo era insuficiente. Se os
cristãos não fossem legalistas e não “respeitassem” as potestades, teriam
problemas.
A pergunta que surge é esperável:
com que autoridade eles faziam isso? É simples! Visões espirituais determinavam
o tom da verdade. Os hereges afirmavam que participavam de um culto de nível
superior: a adoração de anjos. Não se tratava de adoração feita aos anjos, (o
genitivo do grego deve ser lido como subjetivo), mas sim a adoração que os
anjos faziam. Eles diziam que adoravam no nível angelical, junto com os anjos.
Nessas reuniões místicas surgiam as visões que lhes “autorizava” a dizer o que
afirmavam. Tais visões eram contadas detalhadamente e serviam de referência de
espiritualidade e autoridade.
Paulo foi inequívoco e direto ao condenar aquela tendência perigosa e
destruidora para a igreja primitiva. Ele argumenta que Jesus triunfou
plenamente sobre os espíritos, que precisavam mais ser temidos.
Tendo
despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando
sobre eles na cruz. (2.15)
Além disso, Paulo deixa claro que aquela espiritualidade era doentia e
revelava problemas não resolvidos do conflito contra a carne:
Essas
regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade,
falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear
os impulsos da carne. (2.23)
Em dias teologicamente incertos e
confusos, é necessário voltar a ler Colossenses com atenção. A tendência a um
legalismo judaizante, a ênfase no poder dos espíritos maus, o desinteresse pela
centralidade da cruz de Cristo, o misticismo forte voltado para experiências
extravagantes e a valorização indevida de anjos em alguns contextos são alguns
dos problemas encontradiços nos dias de hoje que devem ser confrontados com a
sábia e decisiva palavra inspirada de Paulo aos colossenses.
Bom texto!!!Mas a visao esta errada,pois senaum teremos que ficar restrito apenas a biblia,e acreditar que apenas as igrejas tradicionais estao no Caminho certo
ResponderExcluircaro oseas, sugerimos realmente uma mudança no seu ponto de vista, pois a bíblia deve ser SIM a única regra de fé e prática pois...
ResponderExcluir16 Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça,
17 a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.
(2Ti 3:16-17 ARA)
e se seguirmos os conselhos ou invencionices humanas realmente estaremos perdidos pois a Bíblia mesmo declara: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? (Jr 17:9 ARA)Deus te ilumine.