A BELEZA TEOLÓGICA DAS GENEALOGIAS BÍBLICAS
A presente meditação dominical inspirou-se no sermão proferido pelo pastor da nossa igreja, reverendo Renan de Oliveira Pereira, que, na semana passada, na Escola Bíblica Dominical, tomando como texto base para a sua pregação o primeiro capítulo do livro do evangelista Mateus, discorreu sobre a importância das genealogias bíblicas, notadamente a que desemboca na pessoa de Jesus Cristo, ponto de partida e de chegada de todas as profecias que a seu respeito foram escritas NO Antigo Testamento; e que, pela soberania e ação providencial de Deus em seu absoluto e sábio controle da história, obtiveram pleno cumprimento. De modo geral, há uma tendência muito grande, verificada entre os leitores da Bíblia, de se desprestigiar os relatos genealógicos, como se eles fossem desimportantes e dispensáveis; como se, em última instância, eles ocupassem, no texto sagrado, uma posição de mero apêndice, sem maior relevância. Postura, de resto, inescondivelmente equivocada, por uma série de razões. Em primeiro lugar, porque não há nada na Escritura sagrada que seja desvalioso. Ao contrário, tudo quanto se encontra abrigado nas santas páginas das Escrituras sagradas teve o selo da infalível, inerrante e suficiente supervisão do Deus todo-poderoso que, por meio do Espírito Santo, inspirou profetas, apóstolos e outras pessoas ligadas a eles, a fim de que todos registrassem a sua gloriosa revelação especial. A esse respeito, cremos ser oportuno evocar duas emblemáticas passagens bíblicas, que, sem rasuras, evidenciam a plenária inspiração da Palavra de Deus, “pois tudo quanto, outrora, foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Romanos 15.4). Ora, se toda a Escritura é inspirada (Tota Scriptura), não são menos inspiradas as genealogias que, no limite, apontam para a milimétrica execução do plano de Deus para a redenção do seu povo. Em segundo lugar, as genealogias, conforme sinalizado anteriormente, mostram como Deus foi cirurgicamente preciso na administração do plano que traçou na eternidade, com vistas à salvação dos seus escolhidos. Tal projeto salvífico, arquitetado pela Trindade nos Pacto da Redenção, tinha em Jesus Cristo o grande agente e executor na história, pois, em face de um princípio estabelecido pelo próprio Deus, de maneira sábia e imutável, “sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hebreus 9.22), não há perdão de pecados, não há salvação, não há, enfim, esperança para o homem, somente a certeza do inevitável e terrível juízo de Deus. As genealogias, com a sua impressionante coleção de nomes e mais nomes, apontam para marcos redentivos que Deus, ao longo da história da revelação, foi espalhando. Abraão, Isaque, Jacó, Davi, dentre outros tantos que compõem o código onomástico das genealogias, são satélites que orbitam em torno do glorioso Sol da Justiça, Jesus Cristo, sem o qual todos nós permaneceríamos nas trevas e no mais dramático processo de afastamento do Senhor. A compreensão de tais verdades livra-nos de olhar para a Escritura sagrada, e para algumas das suas porções, como se ela fosse pontuada, aqui/acolá, de narrativas meramente edificantes do ponto de vista ético e moral. Como se o seu alvo primordial fosse, em determinados momentos, apenas colocar-nos, face a face, com exemplos de ações nobres, dignas de serem imitadas, praticadas por heróis épicos elevados e acima da média do comum dos mortais. Ao procedermos assim, retiramos da Escritura a sua indelével dimensão profético-redentiva e ato contínuo passamos a encará-la tão somente como uma metanarrativa histórica, em nada diferente, em seu cerne essencial, das outras tantas que abarrotam as bibliotecas pelo mundo afora. Por fim, as genealogias nos sinalizam para um Deus absolutamente fiel a si mesmo e sumamente poderoso para dar cabal cumprimento a todas as promessas que ele fez em consonância com o seu propósito eterno e com o seu irretocável caráter. Nenhum ser humano, por mais diligente que seja, é capaz de supervisionar todos os passos de sua vida, de maneira a fazer com que todos eles aconteçam exatamente conforme o que foi delineado no planejamento previamente elaborado. Aliás, sobre tal matéria a Escritura sagrada afirma-nos em nítida tonalidade exortativa: “Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por um instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isso ou aquilo. Agora, entretanto, vos jactais das vossas pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna” (Tiago 4.13 a 16). Diferentemente do homem, falível em todos os seus caminhos, Deus é aquele que “tudo pode, e nenhum dos seus planos pode ser frustrado” (Jó 42.2). As genealogias bíblicas, em sua beleza teológica, sinalizam para tal verdade gloriosa. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER.
JOSÉ MÁRIO DA SILVA
PRESBÍTERO
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