Nao somos Deus!


Um dos erros que cometi no meu início na Teologia Reformada foi associar Calvinismo e racionalismo. E muitos calvinistas* parecem crer que reformado é igual a racionalista. Infelizmente, 10/13 anos atrás eu não tinha maturidade teológica e nem filosófica para perceber a armadilha.

Para essa ala do Calvinismo*, tudo na fé cristã precisa ser bem explicadinho, no pior estilo 1+1=2. É o endeusamento da "razão". Não há lugar para o Mistério da Fé. Tudo é racionalizado. Se você ler, por exemplo, um Vicente Cheung da vida, será bombardeado com a ideia de que o Mistério seria, na verdade, covardia intelectual e uma forma elegante de justificar o erro. Cheung não se importa de blasfemar contra Deus, nem de sacrificar a linguagem bíblica no altar do racionalismo. Ele crê na Razão, não no Evangelho. Outro sintoma da mesma coisa é odiarem a ideia de paradoxo.

Acontece que o Paradoxo, e o Mistério da Fé, é parte essencial da Revelação e da própria Dogmatica cristã. Tentar eliminá-los da teologia e da espiritualidade equivale, penso, a criar uma nova religião. Tudo isso me parece estar muito longe do Cristianismo.

Quando leio as Escrituras encontro conceitos bem paradoxais. Pode parecer assustador, mas a Bíblia não é um compêndio de Teologia Sistemática. Ela não é calvinista, arminiana, pentecostal, luterana. Ela é, na verdade, o testemunho das experiências de fé do Povo de Deus. E a experiencia da fé é paradoxal. Como já escrevi algumas vezes, o agir de Deus na História é encarnacional. E a Encanacão é Mistério de Fé. E paradoxal. Não tem como fugir disso nas realidades da vida cristã. Somos Santos, mas pecadores - terrivelmente pecadores. Cristo não tarda, não demora cumprir Sua Promessa, mas nossa Escatologia é há muito um angustiante "ainda não" - "Já, mas ainda não".

A mesma Bíblia que diz "já passou da Morte para a vida" e "nenhuma condenação há", é a mesma que diz "você também pode ser cortado", "guarde o que tens para que não roubem a tua coroa". Há outros exemplos. Somos salvos pela fé, sem Obras. Mas a fé, sem Obras, é morta. Na Cruz tudo foi consumado, mas somos batizados "para remissão dos PECADOS". Como explicar isso? Bom, ao inves de escrever duas mil páginas para tentar explicar** esses paradoxos, pq simplesmente não aceitar a autoridade das Escrituras sobre TODAS suas afirmacões teológicas, mesmo as que causam desconforto ao nosso "sistema"? Ah! Mas tem de ser tudo bem explicadinho! Precisa ser igual tabuada e regrinha de três!

Quem disse?

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*Outras correntes correm o mesmo risco e tendem a cair no racionalismo também. Vejam como, por exemplo, os ARMINIANOS, boa parte deles pelo menos, explicam a predestinação tão bem "explicadinha" que a conclusáo é, ao fim e ao cabo, quase o mesmo que nao ter predestinação, nem eleição. Ou como os "memorialistas" esvaziam tanto os Sacramentos que a razão para Batizarem e Ceiarem se resume quase a um "a gente faz por que é mandamento, mas eles nao são realmente necessários". E por aí vai.

** Não critico com isso as explicacões, nem a Teologia Sistemática. Quero apenas enfatizar que nossas teologias são esforços humanos para entender o Mistério, não substitutos para ele.

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