E se católicos romanos se unissem aos ortodoxos?
Qual o impacto teológico que haveria na reunificação das Igrejas Católica Romana e Ortodoxa? Até que ponto os cristãos deveriam considerar isso como prioridade?[1]
Antes de responder às questões supracitadas, é bastante salutar dar uma breve visão sobre a Igreja Ortodoxa, visto que a Romana é por demais conhecida no Ocidente. Também convém observar como as diferenças teológicas se desenvolveram, além das questões político-doutrinárias que colaboraram para o cisma, e as tentativas fracassadas de reunificação.
De acordo com Champlin, o termo ortodoxo é empregado, como título, para falar “sobre a comunhão das denominações cristãs orientais cuja ortodoxia é determinada pelos sete primeiros concílios ecumênicos” [2]. As Igrejas Ortodoxas estão vinculadas por uma fé comum, formando uma confederação frouxa e não possuindo uma unidade de comando como o catolicismo romano. O patriarca de Constantinopla, por exemplo, tem apenas uma posição honrosa em relação aos demais, mas não possui nenhuma autoridade sobre os outros patriarcados antigos de Alexandria, Jerusalém e Antioquia, e muito menos sobre os outros patriarcados espalhados pelo mundo, como Bulgária, Rússia, EUA, dentre outros.
As diferenças teológicas entre Tertuliano, de Cartago, e Clemente, de Alexandria, já no II século, representavam embrionariamente as inclinações diferentes entre ocidentais e orientais, respectivamente. Tertuliano desafiou o paganismo, enquanto que Clemente fez uso dele, naquilo que achava benéfico. Entretanto, vai ser a partir do IV século, com a transferência da sede do Império Romano para Constantinopla, que tais discrepâncias vão aumentar. No VI século os romanos acrescentam a palavra filioque ao Credo Niceno, e em VII d. C. o Islã toma o Mediterrâneo e controla as suas comunicações. Para completar a animosidade, no século XI questões político-dogmáticas acabam na excomunhão mútua do Cardeal Humberto e do patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário. Algumas tentativas de reunificação foram tentadas, como os Concílios de Lião (1274) e de Florença (1438 e 1439), mas foram em vão, em virtude dos ortodoxos não abrirem mão de seus postulados.
As convicções ortodoxas devem ser observadas ao se tentar prever qual seria o impacto teológico numa reunificação das Igrejas Romana e Ortodoxa. Tal anseio certamente deve ser visto como algo além de uma declaração formal do tipo “somos irmãos”. Sem sombra de dúvidas, há muitas diferenças de importância secundária. No entanto, há muitas outras não recebidas pelos orientais como um “simples modo de ser”. Basta olhar para trás para se perceber que os ortodoxos provavelmente nunca vão aceitar o bispo romano como superior hierárquico, e muito menos os concílios promovidos pelos católicos romanos, além dos sete concílios ecumênicos. Portanto, o que deve ser analisado é a possibilidade de haver ou não concessões dogmáticas.
Talvez tal reunificação seja bastante improvável de se concretizar. Questões como infalibilidade papal e supremacia universal da jurisdição de Roma são difíceis de serem aceitas por serem os patriarcados orientais autocéfalos. É mais provável o papa abdicar de seu orgulho ex-cathedra numa tentativa de união. Certamente, seria um impacto teológico glacial o catolicismo romano retornar às prescrições dos sete primeiros concílios ecumênicos, visto que quem se afastou da espinha dorsal do catolicismo foram os romanos, e não os orientais. Foi o romanismo que modificou os Dez Mandamentos, o Credo Niceno, criou as indulgências e mantém o celibato clerical, dentre outras divergências. Os orientais não sofreram o impacto da Renascença, da Reforma, do Iluminismo. Eles conseguem manter sua tradição quase que intacta em muitos aspectos. Assim, o retorno do catolicismo romano ao cristianismo dos primeiros séculos poderia ser a realização de um sonho não concretizado por muitos reformadores do século XVI.
O protestantismo certamente veria com bons olhos um processo de retorno à Igreja pós-apostólica por parte do catolicismo romano, visto que para boa parcela evangélica o Vaticano representa uma igreja atolada num pântano de heresias sem fim. De fato, o romanismo se descaracterizou como Igreja Cristã por seu envolvimento político e sua absorção pagã. Uma reavaliação de seus postulados antibíblicos à luz da ortodoxia oriental significaria uma reforma e um avanço para o cristianismo mundial.
Este avanço da fé deve ser o objetivo de todo aquele que se diz cristão. Priorizar tal reunificação significaria cumprir o requisito dos que andam “na luz”, que é ter “comunhão uns com os outros” (1Jo 1.7b). Isso concorreria para uma maior evangelização no mundo, além de servir de testemunho, visto que, não obstante nossas diferenças em questões secundárias, teríamos uma confissão de fé mínima que nos identificaria como verdadeiros seguidores de Jesus. Mas, é claro, o romanismo teria que abrir mão de sua doutrinas pagãs absorvidas ao longo dos séculos.
[1] A questão em pauta faz parte da seção Perguntas para estudo, In: NOLL, Mark A. Momentos decisivos na história do Cristianismo. Trad. De Alderi Souza de Matos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2000. p. 366.
[2] CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. 6ª Ed. São Paulo: Hagnos, 2002 V. 4 p. 632.
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