O Mundo Faz Sentido?
"Há caminho que parece direito ao homem, mas afinal são caminhos de morte."
(Provérbios 16:25)
Esta afirmação do sábio Salomão, rei de Israel e famoso pesquisador judeu da antiguidade reflete a constatação feita por ele de que muitos, nesta vida, não encontram sentido ou significado para sua existência e nem razão de ser para as coisas, e que assim acabam tomando decisões e seguindo rumos que terminam em sua própria ruína.
A questão se existe sentido ou significado na existência é muito antiga. As duas posturas geralmente tem sido estas. Por um lado, os que acreditam na existência de um Deus poderoso e bom que tudo criou com um plano e um objetivo, e que orienta o mundo e a humanidade de acordo com ele. Desta perspectiva, existe uma finalidade última e maior para cada pessoa, embora nem sempre seja claramente perceptível. Uma versão não religiosa dessa visão é daqueles que acreditam em destino, sorte e azar, como forças impessoais que guiam o curso da história e dos indivíduos. Do outro lado, há os que acreditam que as coisas acontecem ao mero acaso, num redemoinho de eventos desconectados entre si, num mundo regido por leis naturais cegas, impessoais e sem qualquer propósito final.
Esta última postura tem influenciado grandemente a mentalidade e a maneira de ver o mundo da nossa geração, gerando, entre outras coisas, um vácuo de sentido e a fragmentação da realidade.
Aliás, uma das bandeiras do famoso intelectual francês Edgar Morin é a fragmentação do conhecimento na educação. Segundo ele,
... o sistema educativo fragmenta a realidade, simplifica o complexo, separa o que é inseparável, ignora a multiplicidade e a diversidade... As disciplinas como estão estruturadas só servem para isolar os objetos do seu meio e isolar partes de um todo. Eliminam a desordem e as contradições existentes, para dar uma falsa sensação de arrumação. A educação deveria romper com isso mostrando as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas que hoje existem.[1]
Concordamos totalmente com a avaliação de Morin. E gostaríamos de ir mais além e dizer que, em nossa opinião, a fragmentação que experimentamos na educação é mero reflexo da fragmentação da realidade que permeia a mentalidade do homem moderno, a qual, por sua vez, tem origem no conceito amplamente difundido pelo cientificismo moderno e por alguns ramos da filosofia de que o mundo não tem sentido.
Começando pelos filósofos epicureus até aos defensores do niilismo em nossos dias, sempre houve quem defendesse que vivemos num mundo governado pelo acaso, onde as coisas acontecem sem qualquer razão aparente ou real, num redemoinho constante de eventos totalmente desconectados, onde o acaso reina soberano.
Hoje, com o apoio de muitos cientistas que entendem que a ciência já provou que o universo é um sistema fechado de causas e efeitos, governados por leis cegas e mecânicas, a idéia de que existe significado e sentido na história, na realidade e conseqüentemente para a existência, acabou ficando relevada aos círculos religiosos, onde prevalece a crença em um Deus que criou todas as coisas e que conduz sua criação de acordo com um propósito bom, embora muitas vezes imperceptível a olho nu.
Todavia, uma leitura desprovida de despreocupações quanto às implicações de admitir que existe sentido na realidade – entre elas, a existência de um Deus – poderá nos levar a ver que existem traços de propósito e sentido em tudo que nos rodeia e toca. O reducionismo cientificista, que como o nome indica, reduz a existência humana a meras trocas químicas de átomos ao acaso, fechados num universo controlado por leis cegas, nos rouba de privilégios que se encontram enraizados no mais profundo de nosso ser, e que clamam por serem libertados, como o apreciar o belo, encontrar realização na transcendência, fazer o bem, amar sem querer nada em troca e ter satisfação em aprender e descobrir pelo que isto significa em si.
No fundo, o que está em jogo é a existência de Deus ou não, e que tipo de Deus existe. Os que não querem acreditar que Deus exista, terão necessariamente de optar pela visão reducionista e niilista de realidade e se conformar a se verem como meros sub-produtos de um processo cego que caminha para lugar nenhum, onde não existe misericórdia, perdão e bondade e qualquer sentido para a vida. Nas palavras do filósofo Schopenhauer, não existe um deus benevolente por trás da natureza e, portanto, não existe nenhum alvo pelo qual lutar.
Por outro lado, crer na existência de um Deus poderoso e bondoso, que se interessa por nós, longe de nos alienar da realidade, nos dá a perspectiva necessária para reconhecer que ela faz sentido e que tem um propósito. E desta maneira poderemos encontrar aquele fio da meada que, como um tema transversal, dá coesão e unidade à realidade e conseqüentemente à educação.
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