Epístola aos Romanos por Martinho Lutero (parte 4) Vale a Pena Ler!


Cap. 6—A luta diária contra o pecado
No capítulo sexto considera a obra especial da fé, a luta do espírito com a carne, dirigida a matar completamente os pecados e prazeres restantes que ficam depois da justificação, e nos ensina que nós não estamos livres pela fé, de maneira que possamos estar ociosos, frouxos, e seguros, como se já não existisse nenhum pecado. O pecado continua existindo mas não conduz â condenação por causa da fé que luta contra ele. Por isso durante toda nossa vida temos bastante que fazer com nós mesmos, para subjugar nosso corpo, matar seus apetites, e dobrar seus membros, de maneira que sejam obedientes ao espírito e não aos prazeres, a fim de que sejamos iguais a Cristo, em sua morte e ressurreição e realizemos nosso batismo que significa também a morte dos pecados e uma nova vida na graça até que, totalmente puros dos pecados, ressuscitemos na forma corporal com Cristo e vivamos eternamente.
E isto o podemos fazer porque, afirma ele, estamos na graça e não na lei. Isto o interpreta de maneira tal que não estar na lei não deve significar não ter nenhuma lei, de modo que se possa fazer o que cada um quer, senão que estar debaixo da lei significa ocupar-se em suas obras sem a graça. Então dominará certamente o pecado pela lei, porque ninguém sente uma inclinação natural por ela: mas isso mesmo é um grande pecado. A graça, pelo contrário, nos faz amáveis à lei, de modo que o pecado já não existe e a lei não está mais em oposição, senão de acordo conosco.
Esta é a verdadeira liberdade^ do pecado e da lei, do qual fala até o final deste capítulo. E uma liberdade para fazer só e gozosamente o bem, e para viver de uma maneira piedosa sem a imposição da lei. Por tal motivo, tal liberdade é uma liberdade espiritual, que não dispensa a lei, antes oferece o que é exigido por ela, quer dizer, o prazer e o amor para que a lei seja silenciada, e não tenha mais que exercer ou exigir. E o mesmo que se tivesse alguma dívida com um senhor feudal e não fosse paga. Poderias desfazer-te dele de duas maneiras: ou bem não tomasse nada de ti e rompesse teu registro de dívidas, ou algum homem bondoso pagasse em teu lugar e te desse o suficiente para que saísses da dívida. Desta maneira Cristo nos libertou da lei. Por isso não é uma liberdade desordenada e corporal que não tenha que fazer nada, senão uma liberdade que faz muitas e muitas obras, mas está livre da exigência e da dívida da lei.
Cap. 7—Morto para a lei e o conflito dentro do crente
No capítulo sétimo confirma o anterior mediante uma comparação com a vida matrimonial Quando um homem morre, então sua mulher volta a estar solteira, e um está separado do outro definitivamente; mas não de tal maneira que a mulher não possa, ou que não lhe seja permitido tomar a outro homem por esposo, senão está mais ainda em completa liberdade para fazê-lo, o que não podia fazer antes que morresse seu esposo. Assim nossa consciência está atada a este homem velho e pecador; quando este perece mediante o espírito, então está a consciência livre e separada da lei, não no sentido de que a consciência não tenha que fazer nada, senão que deve primeiro e realmente unir-se a Cristo, o outro esposo, e produzir frutos na vida.
Depois expõe a natureza do pecado e da lei, a saber como mediante a lei, se excita tanto mais, e se faz poderoso o pecado. Porque o homem velho se faz sempre mais inimigo da lei, porque não pode pagar o que é exigido por ela.
Pois o pecar é sua natureza e não pode por si mesmo fazer outra coisa; por isso é a lei sua morte e seu martírio. Não é que a lei seja má, senão que a má natureza não pode suportar o bem, ou seja, que a lei exija dele algo bom. Do mesmo modo que um enfermo não pode suportar que se exija que corra, e salte e faça outras obras próprias de uma pessoa sã.
Por isso conclui S. Paulo que onde se compreende bem a lei e é captada da melhor maneira, ali não faz mais que recordar-nos de nossos pecados e nos mata mediante os mesmos e nos faz merecedores da ira eterna, o que se aprende e se experimenta tão bem na consciência quando é tocada seriamente pela lei. Por conseguinte tem-se que ter algo distinto e superior à lei para tornar o homem bom e salvo. Os que não entendem corretamente a lei são cegos; portam-se com temeridade e pensam satisfazer â lei com obras, pois não sabem quanto exige um coração livre, de boa vontade, alegre. Por isso não podem olhar a Moisés face a face; pois está coberta e tapada para eles por um véu.
Depois mostra como o espírito e a carne lutam entre si em um homem e se coloca ele mesmo como exemplo, para que aprendamos a obra de matar os pecados em nós. Mas ele chama a ambos, ao espírito e à carne, uma lei, porque assim como é próprio da lei divina que impulsione e exiga, assim também a carne impulsiona, exige e se rebela contra o espírito, e quer ver cumprido o seu desejo. Esta luta permanece em nós enquanto vivemos, em alguns mais, em outros menos, segundo que o espírito ou a carne chegue a ser mais forte; contudo o homem mesmo em sua totalidade é ambas as coisas, espírito e carne; este homem luta consigo mesmo até que chegue a ser completamente espiritual.
Cap. 8—As aflições como ajuda contra a carne
No capítulo oitavo consola a tais lutadores com que tal carne não condena, e mostra além disso a natureza da carne e do espírito e como o espírito vem de Cristo que nos tem dado seu Espírito Santo que nos faz espirituais e modera a carne e nos assegura que não obstante somos filhos de Deus, ainda que o pecado desencadeia em nós o seu furor, sempre que siga- mos ao espírito e nos opomos ao pecado para matá-lo. Como nada melhor existe para suprimir a carne do que a cruz e o sofrimento, consola-nos no sofrimento mediante a assistância do espírito, do amor e de todas as criaturas, quer dizer, ambas as coisas: o espírito suspira em nós e a criatura anela em nós que sejamos livrados ou libertados da carne e do pecado. Assim podemos ver que estes três capítulos se dirigem à mesma obra de fé, isto é, matar o velho Adão e submeter a carne.

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