Dr Sinclair Ferguson
O movimento puritano nos ensina a importância vital da recuperação do púlpito para a recuperação da igreja. Os puritanos tinham o objetivo de captar os centros universitários para o evangelho porque queriam captar todas as cátedras para o evangelho. Hoje, um sociólogo poderia dizer que eles estavam buscando os meios de comunicação, e que nós aprendemos dos puritanos que a verdadeira Igreja Cristã precisa dominar a mídia. Sem dúvidas isto poderia ser verdade, mas não era isto o que os puritanos buscavam. O que eles fizeram, até certo ponto, foi buscar elementos da comunicação do século XVII, porém queriam ocupar os púlpitos não porque esses eram instrumentos da mídia, e sim porque eram lugares onde a Palavra de Deus poderia ser pregada com poder. Era com isto que eles estavam preocupados.
Suponho que se possa entender um cristão no século XVI dizendo: “Bem, lógico, as pessoas iam à igreja; a pregação era muito importante naquela época.” Mais isto não é verdade. As pessoas normalmente faltavam à igreja. A pregação, quando existia, estava empobrecida. O que era necessário era uma pregação que quebrasse as expectativas comuns dos homens e mulheres com relação as pregadores, que nada diziam de essencial, a fim de que o evangelho pudesse penetrar tanto nas pequenas sociedades rurais da Inglaterra como nas grandes cidades como Londres, e trouxesse homens e mulheres, rapazes e moças, aos pés de Jesus Cristo, o Redentor, buscando salvação.
Uma frase usada com certa regularidade na primeira metade do séc XVII, quando as pessoas que tinham algum discernimento falam sobre o ministério, era “ O que nós realmente precisamos é de um ministro que fixe residência entre nós, e seja piedoso e instruído.” Com o que se queria significar não simplesmente um ministro instruído no conhecimento secular, mas alguém que fosse realmente perito no ensino do evangelho.
Na Escócia, minha terra natal, ouso dizer que o ministério Cristão é talvez a mais desprezada de todas as profissões. Até mesmo os professores são mais considerados que os ministros. Facilmente se ouve: “Ah, quem dera que voltasse o tempo!” Mas a triste verdade é que se nós ministros não somos peritos no ensino do evangelho, de certa forma é merecido todo o desprezo que nos sobrevêm, porque ensinar o evangelho é nosso chamado e nosso ofício. O ministério havia caído em desprezo no século XVII. Os púlpitos precisavam ser recuperados por homens que entendesse cada virgula do evangelho e fossem espiritualmente capazes de atingir de uma maneira clara e poderosa aqueles que os escutavam.
À medida que se lê os sermões dos puritanos é possível entender que essa era a sua característica principal; Eles falavam a verdade da Palavra de Deus no poder do Espírito Santo de acordo com a necessidade do ouvinte, de maneira a moldar o pensamento e a conduta daqueles que punha suas vidas sob o ministério da Palavra de Deus. Porém, eles não precisavam apenas ser instruído, era preciso que fossem piedosos, pela seguinte razão: Muitos deles entendiam que a Palavra de Deus, de uma forma real e duradoura, fizesse bem, ou operasse piedade, nos corações daqueles que pregavam.
John Owen falou certa vez sobre a experiência de que seus sermões partiam dele com mais poder do que aquele que chegavam até ele. Falando de forma genérica, aqueles que possuem algum discernimento podem testemunhar da diferença entre a mensagem que atinge o ouvinte, e a mensagem que é dada pelo orador simplesmente porque ele pensa que pode influenciar alguém com ela. Essa é uma razão porque algo incrível sobre os puritanos dizia respeito ao numero de vezes em que liam suas Bíblias. Essa é uma das razões porque, ao ler os puritanos, você sinta como se ele talvez sinta como se ele estivesse percorrida cada linha da Bíblia, e selecionadas cuidadosamente aquelas pérolas sobre os quais meditavam.
Eles conheciam a Bíblia de capa a capa. Por isso eram, como eles mesmos costumavam a dizer, farmacêuticos que conheciam os recursos presentes na Palavra de Deus para lidar com todas as doenças espirituais da humanidade. Eles preocupava-se em que estes ministros piedosamente instruídos fixasse residência. Isto nem sempre acontecia porque com freqüência no sistema episcopal os ministros eram itinerantes. Eles recebiam sua remuneração e partiam para outro lugar. Os ministros tinham muitos cooperadores, e podiam pôr qualquer outro em seu lugar sem importar se quem lhes sucederia era um homem espiritual ou não.
Os puritanos entendiam que um ministro do evangelho deveria permanecer entre aqueles que ministrava até que aprendesse aplicar a Palavra de Deus às necessidades especificas daquelas pessoas, e para tanto poderia trabalhar entre eles de casa em casa, como um evangelista. O grande exemplo disto entre os Puritanos, embora de maneira alguma fosse único, era Richard Baxter, que nos conta em sua grande obra, O Pastor Aprovado, que depois de algum tempo em Kidderminster, visitou um homem que estava ouvindo sua pregação durante anos e permanecia sem saber afirmar se Cristo era homem, ou Deus, ou ambas as coisas. Baxter mudou de rumo e foi contratar dois assistentes, e os três saíram em volta da congregação, nos campos e ao redor da paróquia, catequizando o povo, não com ameaças ou com uma palmatória, mas usando isto como um modo de explicar a graça do evangelho à pessoas que pouco entendia sobre dela, e atraindo de um modo pessoal. A cidade foi espiritualmente incendiada! Você vai concordar que, no fim das contas, isto não aconteceu porque eles estavam usando catecismo, conquanto fossem instrumentos maravilhosos, mas porque estavam preparados para, face a face, um nível pessoal, trazer o evangelho nas casas e sentir qual o progresso espiritual daquelas pessoas. Não era simplesmente uma visita superficial, mas o extravasamento de uma preocupação Cristã pelo seu bem-estar espiritual.
Este é um principio importante que freqüentemente distingue os ministérios puritanos das igrejas evangélicas de hoje. Se você perguntar às pessoas: “O que faz daquela igreja uma igreja Bíblica?” A Bíblia esta sendo pregada no púlpito. Os puritanos jamais se contentariam com esse tipo de resposta. Para eles, a Bíblia deveria ser pregada no púlpito e entre o povo, em suas casas e em seus corações. Era por isso que eles queriam recuperar a Palavra de Deus nos púlpitos de sua terra; não para que permanecessem ali somente, mas para dar à Palavra de Deus uma maneira de entrar nos corações e nas vidas das pessoas.
Hoje também a necessidade gritante de uma pregação da palavra de Deus de forma mais clara, minuciosa, essencial, simples e, contudo, profunda, perscrutando os corações e iluminando as mentes. Não precisamos de mais pregadores famosos. O que precisamos é de mais pregadores residentes, eruditos e piedosos.
Soli Deo Gloria!
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