Rev. Augustus Nicodemus
Em vias de comercialização, o primeiro contraceptivo oral masculino
do mundo chega ao Brasil, e com ele, algumas indagações de cristãos
sobre a legalidade Bíblica de um homem crente usar a "pílula" para não
ter filhos.
A questão interessa a muitos cristãos. Muitos jovens casais têm
evitado filhos nos dias de hoje. As razões geralmente apresentadas são a
explosão demográfica das grandes cidades onde vivem, a depravação e
corrupção cada vez maiores do ambiente onde seus filhos haveriam de
crescer, tal como o uso de drogas e a delinqüência infantil e juvenil.
Alega-se ainda a falta de segurança que sentem em relação a filhos:
saberei dar respostas? Será que serei capaz de viver uma vida exemplar?
E, por fim, o argumento mais forte, o alto custo financeiro hoje de se
criar filhos. Para os que pensam assim, filhos atrapalhariam os planos
financeiros de se ter uma vida financeira mais tranqüila.
Por outro lado, há algumas boas razões para se enfrentar as dificuldades mencionadas acima.
1) Filhos são fonte de grande alegria, isto a Bíblia deixa muito
claro, mas especifica que especialmente os filhos que andam nos caminhos
do Senhor (ler Pv 28.7; 29.3,17). Filhos que crescem sem disciplina vão
para o mundo, desobedecendo a Deus, e dão grande dor a seus pais (Pv
17.21,25; 28.7; 29-3,15). "Grandemente se regozijará o pai do justo, e
quem gerar um filho sábio nele se alegrará" (Pv 23.24). Filhos sábios
não crescem em árvores: são fruto de toda uma vida de disciplina,
instrução, companheirismo, amor, e orientação nos caminhos de Deus. Mas o
resultado vale a pena.
2) Filhos são bênção do Senhor. Os Salmos 127 e 128 comemoram a
felicidade do justo em ter muitos filhos, como bênção de Deus. Muitos
jovens casais cristãos, ao contrário do ensino bíblico, vêem os filhos
como sendo um tropeço, um estorvo às suas carteiras profissionais, aos
planos de divertir-se, conhecer o mundo... quem pode fazer isto com
filhos pendurados nas calças?
É possível que estes cristãos mudem de idéia, quando já for muito
tarde, quando estiverem aposentados, doentes, velhos e sozinhos largados
num asilo de idosos, sem ninguém que venha visitá-los, conversar com
eles, e alegrá-los.
3) Filhos fazem parte da estratégia de Deus em transformar o mundo.
Filhos criados em famílias cristãs sólidas são via de regra os melhores
crentes e, portanto, os mais aptos a cumprir o que Jesus ensinou, que a
corrupção da sociedade poderá ser neutralizada por homens e mulheres
santos (Mt 5.13-16), agindo como sal e luz deste mundo. É em lares
cristãos fortes que jovens, que serão o sal e a luz deste mundo, são
devidamente equipados. Deus deseja que o mundo ouça o Evangelho (Mt
18.18-20). Nossos filhos podem ser os instrumentos necessários para
isso, como disse B. Ray: "O propósito de Deus em nos dar filhos é que
conquistemos o mundo para ele".
Na minha opinião, à luz do ensino bíblico sobre o plano de Deus para a
família e os filhos, constitui-se uma transgressão do propósito divino o
evitar filhos por motivos egoístas quer seja com contraceptivos
masculinos ou femininos. Gente que não quer o trabalho de criar crianças
e casam pelo sexo e companhia se esquecem que tiveram um pai e uma mãe
que pensaram diferente. O sexo e o companheirismo trazidos pelo
casamento não são a sua única finalidade. Criar filhos é bem menos
complicado e difícil do que se pensa, quando o casal o faz na
dependência de Deus.
Por outro lado, creio que não vai contra o propósito de Deus o casal
controlar o número de filhos, e mesmo chegar a uma época em que decida
evitá-los. Minha esposa e eu temos quatro filhos. Na realidade queríamos
ter cinco, mas por problemas de saúde dela, tivemos de parar nos
quatro. Creio que já demos nossa contribuição para encher o mundo e
dominá-lo! E não nos sentimos constrangidos em evitar que ela engravide
mais uma vez.
Assim, creio que nada há contrário ao uso da pílula masculina por um
cristão, desde que pelos motivos corretos. Sobre o fato de ser
"masculina", não, vejo nada nas Escrituras que condenem a pílula por
isto. A pílula masculina ainda tem a vantagem sobre alguns
contraceptivos femininos de evitar uma outra questão ética relacionada
com o controle da natalidade, que é a do uso de métodos que são
abortivos.
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