OS
FUNDAMENTOS DA ALEGRIA DO CRISTÃO
Embora viva em um mundo caído,
debaixo do pecado e exposto ao santo juízo de Deus, o cristão, frequentemente
sujeito a toda espécie de sofrimento, tem sobrantes razões para cultivar, nas
regiões mais profundas do seu coração, a genuína alegria, a que nasce não das
circunstâncias provisórias da existência, mas, sim, enraíza-se em Deus e nEle
tem a sua suprema e indesviável fonte.
As alegrias do mundo, legítimas
muitas delas, são sempre muito passageiras, igualando-se, vezes sem conta, a
uma neblina que sobe e, rapidamente, se desvanece no ar, completamente
desprovida de consistência. Ao contrário, a alegria que o Senhor proporciona
aos seus filhos é sólida, emerge de uma real compreensão que Ele nos concede
acerca da realidade e do sentido último da vida, ampara-se no solo das
motivações verdadeiramente corretas do coração e, por fim, exibe implicações
para a eternidade.
A primeira razão pela qual um
cristão desfruta da verdadeira alegria é porque ele tem a plena convicção de
que a sua vida não é uma obra do acaso; de que ele não está no mundo
gratuitamente, sem finalidades, nem propósitos. Ele sabe que não é, como certa
vez apregoou o desesperado sistema filosófico-existencial de Jean Paul Sartre,
“uma paixão inútil”. Ele sabe que é
uma obra-prima das mãos de um Criador sábio, santo e Todo-Poderoso, que o
trouxe à existência por pura graça e lhe conferiu o mais sublime projeto de
vida: viver para a glória e louvor de quem o criou de modo tal especial.
As velhas indagações: quem sou
eu? De onde vim? Que estou fazendo aqui?(que tanto tormento têm trazido à alma
dos homens de todas as gerações) podem, à luz das Escrituras Sagradas,
encontrar respostas que serenam a mente e conferem paz e firmeza ao coração.
Somos a imagem e semelhança de Deus. Procedentes da sua magnífica criação. E
estamos aqui, no mundo, para glorificá-lO em cada detalhe do nosso viver, até o
dia em que estaremos com Ele para sempre, no céu de luz embeleza pela formosura
indizível da sua terna presença.
Isso traz alegria perene ao
cristão. A segunda razão pela qual um cristão pode experimentar real alegria em
seu viver decorre do fato dele saber que, a despeito do seu pecado, da sua
queda, inicialmente materializada na transgressão histórica de Adão e Eva e,
continuamente, reatualizada pelos pecados que nós mesmos cometemos, fruto de
uma natureza moral que se tornou congenitamente corrupta, Deus, em sua infinita
misericórdia e insondável amor, providenciou, em Cristo Jesus, uma grande e
eterna salvação. Salvação essa que foi urdida nos arcanos imemoriais da
eternidade e, ato contínuo, encontrou a sua plena consumação na morte e
ressurreição de Jesus Cristo, ocorrida, no palco concreto da história, há dois
mil anos.
Nessa magnífica obra da
Trindade, o cristão encontra razões multiplicadas para cultivar uma segura e
fundamentada alegria, a despeito das inúmeras adversidades com as quais se
depara em seu, por vezes atribulado, cotidiano. Alegramo-nos pelo fato de Deus
nos ter elegido para a salvação, antes da fundação do mundo. Alegramo-nos pelo
fato de Jesus Cristo, em obediência ao Pai e em santo amor sacrificial por cada
um dos seus escolhidos, ter, voluntariamente, assumido o nosso lugar na cruz,
morrido em nosso favor e, desse modo, conquistado para nós o precioso e
imerecido dom da vida eterna. Alegramo-nos pelo fato de o Espírito Santo, pela
instrumentalidade da pregação do evangelho, ter aberto os nossos olhos,
iluminado a nossa mente e, por fim, aplicado ao nosso ser, integralmente, as
perfeitas e poderosas virtudes da obra que Cristo realizou no calvário com o
fito maior de resgatar o seu povo da escravidão do pecado e conduzi-lo ao seu
reino glorioso. Alegramo-nos pelo fato de o Espírito Santo nos ter regenerado,
concedido arrependimento e fé salvadora, nos ter unido a Cristo, enfim, nos ter
selado definitivamente e se tornado o penhor da nossa eterna e inabalável
herança. Alegramo-nos pelo fato de o Senhor nos ter inserido em sua igreja,
solene ajuntamento de todos os salvos, e, dia após dia, nos guiar com a sua “Lei, que é perfeita e restaura a alma”,
conforme pontua a inspirada afirmação do salmista bíblico (Salmo 19.7).
Alegramo-nos pelo fato de podermos cultuar ao Senhor, ouvir a exposição da sua
majestosa Palavra e a ela responder com fé, obediência, amor, serviço e
adoração em Espírito e em verdade.
A terceira razão pela qual
podemos verdadeiramente nos alegrar no Senhor é por sabermos, de conformidade
com o que nos é ensinado nas Escrituras Sagradas, que o Senhor é soberano,
controlador supremo da história, e que tem as nossas vidas, nos seus detalhes
mais imperceptíveis, na palma das suas poderosas, sábias e santas mãos.
Um dos mais emblemáticos e
soberbos exemplos dessa consoladora verdade pode ser flagrantemente detectado
na Epístola de Paulo aos Filipenses. Preso, provavelmente na cidade de Roma,
por causa da sua fidelidade a Cristo e ao seu evangelho, Paulo não permite que
do seu coração brote o mais leve vestígio de amargura, a mais tênue sombra de
ressentimento e inconformidade com a situação em que se encontra. Em nenhum
momento, atribui ao poder temporal a causa do seu infortúnio.
Pelo contrário, com os olhos
fitos na soberania do Deus que tudo planeja e executa conforme o conselho da
sua “boa, perfeita e agradável vontade”
(Romanos 12.2b), sabe que “aquele que
começou a boa obra em vós irá aperfeiçoá-la até o dia de Cristo Jesus Cristo”
(Filipenses 1.5b). Sabe, também, que “as
coisas que me aconteceram contribuíram para o avanço do evangelho
(Filipenses 1.12b). Sabe, de igual modo, que, enquanto ele está preso, a
Palavra de Deus está solta, plenamente livre e executando no coração dos
eleitos de Deus, a eficaz obra da salvação. Sabe, por fim, que, em qualquer
circunstância, opulência ou escassez, honra ou humilhação, acolhimento ou
desprezo, “O meu Deus suprirá todas as
vossas necessidades, segundo sua riqueza na glória de Jesus Cristo”
(Filipenses 4.19).
Por causa essas convicções,
centradas em Deus e na completa munificência do seu poder, o apóstolo Paulo
pôde ter feito da alegria o grande tema da sua canônica carta. Assim, cada
cristão recebe de Deus a graça de poder viver com real e genuína alegria. Alegria
que não é, que fique bem claro, resultado de uma avaliação alienada e
fantasiosamente otimista da dura realidade da vida, com a qual nos deparamos
todos os dias, mas, sim, alegria que, fruto do Espírito Santo, é marca
indelével da vida de quem encontra em Deus a indesviável e indisputável razão
da sua existência. “Alegrai-vos sempre
no Senhor; e digo outra vez: Alegrai-vos” (Filipenses 4.4). SOLI DEO GLORIA
NUNC ET SEMPER.
JOSÉ
MÁRIO DA SILVA
PRESBÍTERO
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este Comentário será exibido após moderação dos Editores da equipe Plugados com Deus!