O que significa ser confessional? Os reformados afirmaram a sua ortodoxia
adotando credos, catecismos e confissões para resumir e declarar
organizadamente o que criam. Esta é uma prática antiga na Igreja Cristã,
originando-se nas orações dos crentes da antiga aliança e nos ritos de batismo
do século I.[1] Paulo instrui Timóteo que “mantém o padrão das sãs palavras que
de mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. Guarda o bom
depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós” (2 Tm 1:12-13). Por
isso, os cristãos são chamados a guardar “o bom depósito”, isto é, a preservar
fielmente o sistema doutrinário, sem alterar a sua essência. A finalidade da
prática confessional era identificar a unidade pela verdade, denunciar o erro e
excluir os hereges.
Qual é a necessidade de sermos confessionais? David W. Hall observa que a
prática da subscrição confessional pelos reformadores possuía os seguintes
motivos doutrinários: unidade, clareza, defesa de falsas acusações, defesa e
preservação de identidade, bem como uma variedade de declarações públicas.[2]
Esta preocupação está de acordo com o claro ensino da Escritura Sagrada. Judas
declara que “quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa
comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco,
exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi
entregue aos santos” (Jd 3). Ele não se referiu somente ao aspecto subjetivo da
fé, ou seja, a confiança e consentimento, mas, em especial ao conteúdo doutrinário
da fé. Assim, o seu argumento é que os seus leitores deveriam defender a
doutrina que receberam contra indivíduos que haviam se introduzido na Igreja, e
disseminavam a libertinagem e negavam a sã doutrina (Jd 4).
Somos uma denominação reformada de herança puritana. Por isso,
subscrevemos os Padrões de Westminster como fiel exposição do ensino da
Escritura Sagrada. O endosso destes documentos doutrinários deve ser integral,
isto é, em todas as suas declarações doutrinárias. Isto significa que aceitamos
todas as afirmações e nos empenhamos em viver por elas. Mas, infelizmente há
quem sendo presbiteriano não seja coerente. Há alguns motivos para isso: 1)
aqueles que desconhecem porque não foram instruídos; 2) aqueles que conhecem
superficialmente e que, ignorando as declarações precisas e suas implicações,
acabam descumprindo a sua palavra; e, 3) aqueles que declaram verbalmente
aceitar, mas intencionalmente rejeitam no coração. Estes últimos divorciam a
convicção da confissão, e isto resulta em desonestidade confessional.
Entendemos que a reserva mental sempre é pecado! É minha intenção com este
texto, como membro desta igreja, que você seja informado, doutrinado, e
honestamente se comprometa com a nossa identidade confessional reformada.
A nossa tradição
usa confissões e catecismos para apresentar o nosso sistema doutrinário.[3]
Isto ocorre num contexto em que somos chamados a confessar a nossa fé aos de
fora da igreja. Estes documentos resumem sistematicamente o ensino da Escritura
Sagrada acerca de vários temas. Eles também são úteis para o exercício da
verdadeira piedade, bem como para uma resumida apresentação do que cremos em
nossa fé reformada.
A IPB exige de
seus oficiais e membros a plena subscrição dos Padrões de Westminster que são:
1. A Confissão
de Fé de Westminster
2. O Catecismo
Maior de Westminster
3. O Breve
Catecismo de Westminster
Entretanto,
aceitamos e usamos para estudo da fé reformada:[4]
1. A Confissão
Belga (1561)
2. O Catecismo
de Heidelberg (1563)
3. A Segunda
Confissão Helvética (1566)
4. Os Cânones de
Dort (1618-1619)
E, também
recebemos os antigos credos como parte da nossa declaração de fé:
1. O Credo
Apostólico
2. O Credo
Niceno
3. O Credo de
Calcedônia
Como usamos os
catecismos e confissões? Segue algumas sugestões:
1. A nossa
denominação os usa para afirmar a sua identidade confessional reformada. Quando
alguém nos pergunta no que cremos, eles representam a nossa herança
doutrinária. Eles são úteis para a leitura contínua e consulta do corpo
doutrinário de nossas convicções.
2. O presbitério
os usa em debates teológicos e na avaliação de oficiais e tribunais
eclesiásticos. Quando há controvérsias envolvendo assuntos litúrgicos,
doutrinários e da prática da vida cristã, parte da fundamentação para corrigir
e estabelecer as nossas decisões conciliares dependerão destes documentos.
3. As nossas
instituições teológicas devem usá-los para aferir a fidelidade confessional de
seus docentes. A contratação e continuidade de um professor, que
inevitavelmente será um formador de opinião, deve ocorrer mediante exame da
JURET e JET. O ambiente acadêmico favorece o estudo e análise de diferentes
vertentes teológicas, entretanto, a formação teológica de nossos futuros
pastores, deve ser realizada com compromisso confessional pelos nossos seminários.
A maioria dos alunos são candidatos ao sagrado ministério, e devem ser
avaliados pelos seus compromissos de crença.
4. Nos cursos de
treinamento de oficiais e liderança os nossos documentos precisam ser estudados
prescritivamente. Eles exercerão o governo na igreja local e nas diferentes
esferas conciliares de nossa denominação. Antes de sua ordenação ou designação,
serão examinados pelo conselho, e professarão conhecimento, entendimento e
compromisso aos nossos padrões de fé. [ PARA TREINAMENTO E SELEÇÃO DE OFICIAIS
- ACESSE AQUI ] & [ PARA EXAME DE CANDIDATOS AO OFICIALIATO DA IGREJA -
ACESSE AQUI ].
5. O Conselho os
têm como padrão em questões doutrinárias e recebimento de membros. A unidade da
igreja se dá no compromisso coletivo com a verdade. Os presbíteros
supervisionam da honesta obediência dos votos que os membros realizaram em seu
exame e pública profissão fé.
6. Os pregadores
os citam nos seus sermões para ilustrar ou como parte da argumentação. O sermão
sempre é doutrinário em sua essência, por isso, o culto público é excelente
lugar para proclamação, instrução, correção e conforto dos seus participantes.
7. Estudá-los
nas reuniões de estudo doutrinário durante a semana. O pastor poderá realizar
estudo expositivo sequenciado usando os Padrões de Westminster. Há comentários
da Confissão de Fé e dos Catecismos que enriquecem o entendimento e a sua
aplicabilidade em questões práticas da vida cristã.
8. Os
discipuladores devem usa-los constantemente para o preparo dos estudos. Seja no
discipulado para iniciantes ou avançado, o aprendiz carece se familiarizar com
fé cristã em sua expressão documental. Esteja seguro de que não é a mera
opinião de um membro, mas o legado doutrinário que esposa fielmente a
sistematização da Escritura Sagrada.
9. Os
professores da Escola Dominical podem recorrer a eles para eximir alguma dúvida
ou controvérsia em aula. Havendo divergência nalgum assunto, os professores
deverão fechar o assunto, quando possível, através da nossa confessionalidade.
10. Os pequenos
grupos que se reúnem nas casas podem usá-los como roteiro de estudo. O estudo
do Breve Catecismo de Westminster é um proveitoso recurso para o estudo em
grupos que se reúnem nos lares. Nestas reuniões de caráter mais informal sempre
recebem visitantes, quer sejam convertidos, ou não, e os comentários dos
participantes, não podem criar no desenvolvimento do estudo uma abertura para a
aceitação da pluralidade de opiniões como igualmente válidas. O pequeno grupo
não é uma igrejinha dentro da igreja, onde o livre pensamento é adotado
independentemente do corpo doutrinário oficial.
11. As famílias
podem acrescentar a sua leitura no culto doméstico. A leitura da Escritura, a
oração e cânticos, somados ao estudo dos Padrões de Westminster enriquecerão o
exercício espiritual que nutrem o crescimento. O culto doméstico propicia a
comunhão, instrução e a adoração no lar, se forem usados os nossos diretórios
doutrinários certamente forjará famílias com saudáveis convicções. Assim,
formar famílias fortes resultará numa igreja vigorosa.
12. A leitura
das declarações e textos bíblicos neles contidos são proveitosos para a
devocional diária. O uso de livretos para fins devocionais apesar de úteis,
podem ser acompanhados pela leitura de uma ou duas perguntas dos catecismos, ou
parágrafos da Confissão de Fé. São pensamentos com denso conteúdo bíblico que
alimentam e nos preparam para viver diariamente na presença de Deus.
É possível ser
membro da Igreja Presbiteriana de Brasil e não ser confessional? Os Conselhos
ao examinar o candidato à profissão de fé, ou membros em processo de
transferência, deveriam ser criteriosos quanto a nossa identidade confessional.
Caso o candidato se negue a subscrever o nosso sistema de doutrina, ele não
deveria ser recebido como membro da igreja local. Por isso, antes do exame,
recomenda-se que os candidatos a membros deverão ser discipulados, participar
da Classe de Catecúmenos e ler os Padrões de Westminster. A pressa de recebê-lo
como membro da igreja local é prejudicial, porque é necessário ajudá-lo a
entender o que cremos, para que seja verdadeiro quando fizer sinceramente a sua
pública profissão de fé diante da igreja, em culto solene, e acima de tudo do
verdadeiro Deus que exige o nosso sim, significando sim. Sobre o zelo no exame
de candidatos a membro [ ACESSE AQUI ]
Recomendo a
leitura sobre a prática da subscrição confessional, conforme adotada pela
Igreja Presbiteriana do Brasil:
1. Carl R.
Trueman, O imperativo confessional (Brasília, Editora Monergismo).
. David W. Hall, The practice of
confessional subscription (Oak Ridge, The Covenant Foundation).
. Morton H. Smith, The case for full
subscription to Westminster Standards in the Presbyterian Church in America
(Greenville, GPTS).
. Ulisses Horta
Simões, A subscrição confessional - necessidade, relevância e extensão (Belo
Horizonte, Efrata Publicações e Distribuição).
NOTAS:
[1] Philip
Schaff reconhece nas Escrituras os seguintes credos em forma embrionária: Êx
20:2-3; Dt 6:4; Jo 1:50; Mt 16:16; 28:19; Jo 6:68; 20:28; At 8:37; 1 Co 8:6; 1
Tm 3:16; Hb 6:1-2. Philip
Schaff, The Creeds of Christendom – with a history and critical notes (Grand
Rapids, Baker Books, 2007), vol. 2, pp. 3-8.
[2] David W. Hall, “Southern
Presbyterians: The virtue of confessional relaxation?” in: Joseph A. Pipa Jr.,
org., Confessing our hope – Essays celebrating the life and ministry of Morton
H. Smith (Taylors, Southern Presbyterian Press, 2004), p. 97.
[3] A relevância
da tradição está em preservar e passar adiante a verdade. Ela deve ser um
instrumento para comunicar o ensino da Palavra de Deus, e nunca parte dela.
[4] Aqueles que
leem em inglês poderão estudar de modo mais completo as confissões de herança
calvinista. Se for do interesse saber James T. Dennison Jr. publicou uma
coletânea bem extensa dos documentos confessionais reformados desde o século
XVI até o XVII. Veja em James
T. Dennison, Jr., ed., Reformed Confessions of the 16th and 17th Centuries in
English Translation (Grand Rapids, Reformation Heritage Books) em 4 volumes. Este
manual é a compilação mais completa dos documentos reformados disponível em
inglês.
http://doutrinacalvinista.blogspot.com/2016/05/somos-uma-igreja-confessional.html
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