SOBRE A CONTINUIDADE DOS DONS E DE OUTRAS COISAS



Rev. Augustus Nicodemus

Guardadas as devidas proporções e os diferentes propósitos de Deus na História, acredito em milagres em nossos dias. O problema, porém, é mais complexo do que simplesmente acreditar ou não na continuidade dos dons. O fato é que espíritos mentirosos e enganadores, bem como homens maus e charlatões, são contemporâneos do mesmo jeito.
Acredito na continuidade dos espíritos malignos, na continuidade de Satanás, na continuidade do coração humano depravado e enganador, na continuidade de homens de consciências endurecidas, que falam mentiras. Eu creio nessas coisas porque a Bíblia diz que essas coisas sempre estarão presentes, lado a lado, com a obra de Deus na história.
Acreditar somente na continuidade de todos os dons é simplismo e reducionismo da complexidade que as Escrituras nos apresentam. É indispensável que juntamente com minha fé no Deus poderoso que age hoje, eu tenha também discernimento e sabedoria, para não ser iludido por espíritos mentirosos ou por falsos profetas.
Uma ingenuidade com capa de piedade, que considera como incredulidade qualquer questionamento das manifestações sobrenaturais modernas, acaba abrindo a porta para todo o tipo de engano. Essa piedade, na verdade, mais do que ingênua, acaba se tornando supersticiosa. Eu creio que Deus é poderoso para agir como lhe agrada. Mas também sei que o diabo está igualmente ativo, iludindo, enganando, corrompendo a fé de muitos; sei também que o homem é capaz de dizer muita coisa falsa, mentirosa, para enganar e tirar proveito dos crédulos.
Portanto, é necessário que exercitemos cautela, juízo, bom senso e que sempre procuremos, em oração diante de Deus, averiguar cuidadosamente a origem das manifestações sobrenaturais bem como relatos acerca das mesmas. A Igreja deve consistentemente examinar com cuidado os testemunhos, as histórias, os casos, para não cair no engano de espíritos mentirosos.
Não seria exagero admitir que o diabo, mesmo não sendo Todo-Poderoso e onisciente, pode produzir impressões e apercepções na alma humana. Pedro foi vítima desse poder, em certa ocasião e se não fora a intervenção do Senhor Jesus, teria pensado que fizera a coisa certa em querer evitar que o Senhor fosse à cruz (Mt 16.23). O diabo pode mesmo adivinhar certas coisas (ver At 16.17). Os magos de Faraó, através de suas ciências ocultas (certamente no poder de espíritos malignos), fizeram água se transformar em sangue, transformaram suas varas em serpentes e fizeram aparecer rãs, imitando os milagres de Moisés (ver Êx 7.10-12,22; 8.7). Nos tempos de Jó, Satanás fez com que fogo caísse do céu, confundindo os que o viram, que pensaram que havia sido Deus (Jó 1.12 e 16; ver Ap 13.13). Satanás pode se disfarçar e parecer até um anjo de luz, isto é, com aquele brilho da glória característico dos anjos e, quem sabe, aparecer assim disfarçado num sonho ou visão (2Co 11.14).
Já que Satanás, como imitador de Deus, pode chegar a confundir os próprios eleitos, qual o critério seguro para distinguirmos o que vem dele e o que vem do Espírito Santo? Acredito que a melhor resposta é indagarmos qual a posição que Cristo ocupa nessas manifestações. Já que Satanás, voluntariamente, jamais buscará exaltar e glorificar a Cristo (muito embora possa mencioná-lo e até falar bem dele), desconfiemos do que não traz qualquer glória explícita e proposital ao Senhor Jesus. O Senhor Jesus deixa de receber a glória que lhe é devida quando determinados movimentos, produzidos pelo homem e baseados em experiências emocionais e psicológicas, acabam exaltando o próprio homem ou essas experiências. Ou ainda, quando as pessoas acabam por deixar manifestações genuínas do Espírito, cujo alvo primário é exaltar a Jesus Cristo, se tornarem um fim em si mesmas.
“Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora...” (1Jo 4.1).

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