Frei Heitor, 1528-1584
Achando-se um dia quatro amigos praticando, disse o teólogo, em cuja casa eles estavam:
-Eu sempre tive para mim, e tenho ainda agora, que uma das grandes perdas que há no mundo é a do tempo: porque ele é muito precioso, vale a peso de ouro, e, perdido, nunca mais se pode cobrar. Por isso diz São Paulo na epístola aos Gálatas: "Enquanto temos tempo, gastemo-lo em boas obras". fez-nos o apóstolo essa lembrança, para que não percamos tempo. E perde-se o tempo quando se gasta em vícios em coisas vãs, que a ociosidade descobre aos homens enfadados que, de não terem o que fazer, andam traçando na fantasia mil castelos de vento, tão esquecidos de si que, nascendo para o verdadeiro trabalho, não buscam senão o falso descanso: donde vem a não fazerem coisa com que deixem de si memória.
Assim como é necessário no fogo fundir o metal, para se dele fazer uma imagem de estátua que depois fique e permaneça, assim é necessário fundir nossas vidas no fogo dos trabalhos e dos bons exercícios, para daí sair uma imagem de boa forma, dirigida à honra e a serviço de Deus, a qual, depois de nossa morte, dê testemunho de nossa vida. Eurípedes diz que o trabalho é pai da boa fama; e Hermiónio afirma do trabalho e experiência aprendeu a ciência.
Os homens ociosos são inimigos de si mesmos, pos, deixada a diligência dos bons trabalhos, que é uma mina de bens, se dão à ociosidade, que é um abismo de males. E o pior é que não cuidam que ganham o tempo, senão quando o perdem: e eles não ganham com esta perda senão sua perdição.
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