A Eterna Busca Humana
O rapaz que deixou o lar e foi para uma terra distante em busca de novas experiências não é o único. Em todos os tempos e em todos os lugares, com dinheiro ou sem dinheiro, com meretrizes ou sem meretrizes, homens e mulheres, de qualquer idade, mas principalmente antes do início da decrepitude, têm experiências semelhantes à do "filho perdido" da parábola de Jesus (Lc 15.11-31). O intelectual que só se alimenta do intelecto, o artista que só se alimenta da arte, o milionário que só se alimenta do dinheiro, o macho ou a fêmea que só se alimentam do sexo, o teólogo que só se alimenta da teologia, a socialite que só se alimenta do glamour, o perdulário que só se alimenta do consumo — todos esses saíram da casa paterna, estão muito longe dela, passam fome, comem porcarias e sentem uma saudade; estranha e, talvez, estejam com vontade de voltar.
Certo dia, um famoso educador, psicanalista e escritor se abriu publicamente: "Já estou no tempo: de fazer o balanço entre as dívidas e os haveres. Minha vida se divide em três fases. Na primeira fase o meu mundo era do tamanho do universo e era habitado por deuses, verdades e absolutos. A esperança que eu escrevia na página do haver era do tamanho da luz do sol ao meio-dia.
Na segunda fase, meus haveres encolheram. Meu mundo passou a ser habitado por heróis revolucionários que portavam armas e cantavam canções de transformar o mundo. A esperança que iluminava o universo passou a iluminar apenas os horizontes da história.
Na terceira fase, mortos os deuses, mortos os heróis, mortas as esperanças teológicas e políticas, fiquei pobre de verdade e o meu mundo se encolheu mais ainda — e chegou não à sua verdade final, mas à sua esperança FINAL, que teima em se alegrar com coisas pequenas".
Depois dessa exposição honesta e humilde, o famoso educador, psicanalista e escritor partiu para a corajosa confissão final: "Muitos deuses e muitos heróis moraram dentro de mim. Hoje não sei onde se meteram... Sou uma catedral em ruínas..." {Folha de São Paulo, 13/10/09, p.C2).
Só uma coisa falta a esse admirado educador: à semelhança do personagem da parábola de Jesus, ele precisa tomar uma única decisão: "Eu me porei a caminho e voltarei para o meu Pai" (Lc 15.18). O Pai, com "P" maiúsculo, correrá ao seu encontro e o abraçará afetuosamente, e dará uma grande festa com churrasco de
novilho gordo e muita música e dança, além de tapar a boca dos críticos e santos de pau oco (Lc 15.20-32).
Revista Ultimado Janeiro 2010
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