Começo a
meditação bíblica deste domingo conferindo o devido crédito à sua matriz
inspiradora: um alentado estudo bíblico ministrado pelo presbítero-teólogo
Solano Portela, uma das referências da Igreja Presbiteriana do Brasil na área
do ensino bíblico, notadamente o que se direciona para o fascinante território
da Educação Cristã em suas múltiplas modalidades manifestativas. “Os sutis substitutos da pregação” foi o
sugestivo título do estudo bíblico empreendido pelo aludido presbítero, tendo
como suporte escriturístico o inspirado texto escrito pelo apóstolo Paulo e,
ato contínuo, endereçado ao seu companheiro de caminhada cristã, o jovem
pastor-evangelista Timóteo.
Estamos no âmbito da segunda
epístola encaminhada pelo bravo timoneiro do cristianismo ao jovem pastor
Timóteo, mais precisamente no conteúdo presente no capítulo quatro da aludida
carta. O contexto no qual Timóteo estava inserido, e no qual tinha sido
vocacionado por Deus para o exercício do seu ministério evangelístico, não era
dos melhores.
Ao contrário, a conjuntura
dominante era bem adversa. Internamente, isto é, na esfera da igreja, parecia
pairar sobre Timóteo certa suspeição quanto às suas reais possibilidades de
levar a bom termo as suas responsabilidades ministeriais. O ponto principal de
tal desconfiança residia na juventude de Timóteo, na sua pouca experiência para
o enfrentamento dos graves desafios que o aguardavam pela frente. A esse
respeito, na primeira epístola que enviou ao jovem pastor, assim se pronunciou
o apóstolo Paulo: “Ninguém despreze a
tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no
procedimento, no amor, na fé, na pureza” (1 Timóteo 4.12).
Externamente, a corrupção
doutrinária já exibia a sua face perversa, por meio da instrumentalidade de
falsos mestres que, despidos do mais leve vestígio de temor a Deus e apreço por
sua Palavra, não hesitavam em fazer da disseminação do erro o seu paradigma
comportamental predileto. Tais homens, no dizer apostólico, “são de todo corrompidos na mente, réprobos quanto
à fé” (2 Timóteo 3.8b). Numa quadra assim, hegemonizada pelo flagelo da
mentira teológica e de toda espécie de adulteração da Revelação do Senhor, dois
eram, dentre outros, os perigos que cercavam Timóteo. O primeiro seria,
simplesmente, fugir do campo da batalha, desertar do imperioso e claro
chamamento do Senhor para ser um proclamador incansável das transformadoras
verdades do seu glorioso evangelho. Contra tal possibilidade, de modo firme
sentencia Paulo: “Por esta razão, pois,
te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas
mãos. Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor
e de moderação” (2 Timóteo 1.6,7).
O segundo perigo a rondar o
ministério de Timóteo, tão ou mais nefasto ainda quanto o primeiro, era o que
poderia ser traduzido pela tentação do jovem pastor em reagir à situação
circundante utilizando-se daqueles expedientes a que Paulo, noutra porção
escriturística, chamou de “armas carnais”
(2 Coríntios 10.4a). No caso em foco, tais armas se corporificariam na adoção
de um evangelho comprometido em sua inalterável essência, no núcleo duro do seu
inamovível conteúdo bíblico-teológico. Um evangelho humanista, facilmente
digerível por pecadores “mortos em seus
delitos e pecados” (Efésios 2.1b). Um evangelho psicológico, terapêutico,
massageador do ego e nada confrontador do pecado. Evangelho sem cruz, sem
sangue, sem a glória de Deus, sem a majestade de Jesus Cristo, sem necessidade
de arrependimento, sem novo nascimento, sem renovado compromisso com o
crescimento em santidade. Enfim, um evangelho aprovado pelos homens e reprovado
por Deus.
Em
nossos dias, não têm sido poucos os pastores que, enredados pela falácia de uma
igreja mais relevante – como se a relevância da igreja não decorresse do
simples fato de ela ser o corpo de Cristo, “coluna e baluarte da verdade” (2 Timóteo 3.16 b)- têm se afastado
do padrão fixado pelas Escrituras Sagradas para o ser/fazer da igreja e, em
direção diametralmente oposta, enveredado pela estranha senda da absorção de
metodologias mercadológicas e empresariais, supondo ser a igreja uma mera
organização humana, movida pelo braço e pela força dos homens. Por tal viés
desviante, os resultados a serem obtidos pela igreja, em sua práxis
evangelizadora cotidiana, são mais importantes do que a fidelidade à Palavra de
Deus, numa demonstração evidente de capitulação ao império da filosofia
pragmática, em cujo estuário o que vale não é o que é certo, porque Deus diz em
sua Palavra que é certo, mas sim o que funciona e atrai, carnalmente, o maior
número de pessoas.
Timóteo corria, sim, o risco de
adotar, em seu ministério, o que, com muita propriedade, Solano Portela
classificou como “os sutis substitutos
da pregação”, declinando do dever de “anunciar
todo o conselho de Deus” (Atos 20.27b), preferindo, em seu lugar, a
harmonia com a vontade pecaminosa dos que o ouviam. Contudo, a exortação
apostólica para o caminho a ser seguido por Timóteo foi claríssima: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste
e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância,
sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação pela fé em
Cristo Jesus” (2 Timóteo 3.14,15). O ponto nodal, aqui exponenciado, é que,
contra todos os modismos, invencionices e heresias, Timóteo deveria permanecer
firme no sólido terreno das Escrituras Sagradas, nas quais ele encontrou a
suficiente salvação somente propiciada pela pessoa e obra expiatória do Senhor
Jesus Cristo.
O apóstolo Paulo, em seguida,
faz uma exortação solene a Timóteo, tomando como testemunhas Deus Pai e Deus
Filho, tamanha era a seriedade de que se revestia o apelo direcionado a
Timóteo: “Prega a palavra, insta, quer
seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e
doutrina” (2Timóteo 4.1). A ênfase aqui não é que Timóteo deveria ser
agressivo e desrespeitoso para com as pessoas a quem destinaria a sua pregação,
nem muito menos inconveniente e insuportavelmente chato. Nada disso. O ponto é
que, quer em circunstâncias favoráveis, quer em ocasiões adversas, a Palavra de
Deus tem de ser anunciada em sua integralidade, de forma longânima e
doutrinária. O argumento seguinte apresentado pelo apóstolo é espantoso: “Haverá tempo em que os homens não
suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as
suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a
dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2 Timóteo 4.3,4). Tendo
para com a Palavra de Deus uma atitude tão resistente e desprezível, tais
ouvintes, na busca frenética pelos “sutis
substitutos da pregação”, valorizarão pregações alicerçadas na leviandade e
na superficialidade de enfoques suaves, tingidas de altas doses de subjetivismo
existencialista, com um mínimo de exposição bíblica séria; e um quase nada de
confrontação com o pecado, exigência de arrependimento e fé em Jesus Cristo.
Valorizarão a cultura hedonista do entretenimento, ancorada em cultos
antropocêntricos, feitos para a satisfação dos frequentadores de igreja, aqui
concebidos não como adoradores penitentes e prostrados diante da majestade do
Pai, pela mediação do Filho, no poder do Espírito Santo, mas sim como
consumidores exigentes, pródigos em atravessar a calçada e procurar outros
arraiais ditos evangélicos, ao menor indício de contrariedade das suas
intocáveis vontades. Valorizarão o ativismo emocional, o correr de um lado para
o outro, intenso e irrefletido, produzido para apaziguar a consciência e dar
uma enganosa sensação de bem-estar. Valorizarão a opulência de estruturas
organizacionais eclesiásticas alheias às prescrições bíblicas, mas aplaudidas
pelos homens como indesmentíveis signos de êxito e da suposta bênção de Deus,
esquecidos de que Deus vela pelo cumprimento da sua Palavra, conforme Ele bem o
disse ao profeta Jeremias e não pela satisfação de nossas caprichosas e
rebeldes vontades. Que Deus preserve o nosso coração e nos impeça de anelarmos,
um segundo que seja, por qualquer coisa que, pecaminosamente, intente
substituir, ainda que sutilmente, os inexauríveis tesouros da sua suficiente
Palavra. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER.
JOSÉ
MÁRIO DA SILVA
PRESBÍTERO
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