Louve ao Senhor no Salmo 100 Parte Final.

II - ANÁLISE LITERÁRIA

2.1 Os paralelismos do Salmo

    Nesta primeira parte do salmo, observamos que o elemento A (Salmo de ações de graça) faz parte de uma expressão que indica gratidão. O elemento A', na segunda cola, é a palavra traduzida por "celebrai com júbilo". Estes dois elementos se relacionam por um paralelismo sintético, ou seja, quando a primeira parte da linha poética é completada pela segunda, ampliando a idéia daquilo que o salmista queria dizer.
Com isto, a melodia para ações de graça pode ser entendida como aquele cântico de
gratidão
dado ou celebrado
com júbilo.
    Na segunda linha poética (vs. 2) os elementos encontrados, nesta parte do salmo, se relacionam de uma forma construta ou sintética; Vejamos: O elemento A (Servi ao Senhor) nos transmite a idéia de um serviço a Deus. A expressão "com alegria" completa a idéia do imperativo encontrado na palavra servir.
    O elemento B (apresentai-vos diante dele com cântico) nos mostra que aquele que serve com alegria, se apresenta diante de Deus com cântico; quando o salmista escreve este verso, percebemos que há uma progressão de idéia nos fazendo compreender que o servo de Deus o serve com alegria se apresentando diante dele, para tal tarefa, com cântico.
    Na terceira linha poética (vs. 3) temos o nome impronunciável de Deus geralmente traduzido por SENHOR. Temos um segundo nome para se referir ao Deus de Israel. Neste verso não temos duas pessoas diferentes, mas uma pessoa só, todavia expressa com nomes diferentes. O objetivo do salmista é expressar duas verdades a partir dos nomes dados a Deus, como veremos mais adiante.
    Na quarta linha poética (vs. 4) temos o elemento A (entrai); o elemento B (porta); o elemento C (com ações de graças). Numa outra linha poética encontramos o elemento B' (átrios) e o elemento C' (hino de louvor). Neste caso, as duas linhas poéticas formam um paralelo sinonímico, quase, perfeito se não fosse à omissão do elemento A na segunda parte; ainda sim, o elemento B está ligado com o elemento B' por transmitirem a mesma idéia (porta e átrio) e o elemento C está ligado com o elemento C', por terem, também, a mesma idéia (ações de graça e hino de louvor).
Vejamos:
Entrai por suas portas com ações de graças



Nos seus átrios com hinos de louvor

Na outra parte poética do versículo 4 temos o elemento D (rendei-lhe graças) e o elemento D' ((bendizei-lhe) formando um paralelismo sinonímico perfeito, onde todos os elementos se relacionam entre si; repetindo a mesma idéia, mas usando palavras diferentes: "rendei-lhe e bendizei-lhe".
    A quinta linha poética (vs. 5), na primeira parte do versículo, observamos o elemento A (bom), fazendo parte de uma estrutura chamada de posição predicativa, onde, na opinião do salmista, o SENHOR é bom (como de fato é). No fim do versículo temos a palavra que forma o elemento B (bondade). Desta maneira, na última linha poética, contemplamos um paralelismo sintético ou construtivo porque há um complemento de idéia. O Deus que é bom manifesta a sua bondade para sempre.
    2.2 A Estrutura do Salmo
    Como o próprio nome diz, este salmo se enquadra dentro do que chamamos de Salmos de ações de graça. Cássio Murilo apresenta este salmo como um hino a YHWH salvador. Sellin o apresenta como estando enquadrado na categoria dos salmos hínicos.
    Embora os nomes sejam diferentes, ambos apresentam a mesma estrutura para classificar este salmo como hino. Ele é composto de: a) convite ao louvor; b) motivação – "porque"; e c) novo convite ao louvor. Todos estes elementos encontramos no Salmo 100; todavia não na ordem descrita.
A palavra traduzida por ações de graça, pode se referir a um sacrifício de ação de graça oferecido num contexto de culto. No versículo 1, esta palavra introduz o salmo nos convocando para adorarmos por meio de ações de graça o SENHOR.
    Este salmo possui uma particularidade: é formado por sete imperativos em quatro versículos. É uma forma singular para exortar ou chamar a atenção para a singularidade da adoração ao Senhor. O salmista queria deixar muito claro a importância de adorar a Deus por aquilo que o SENHOR é e fez
    Nestes primeiros quatro versículos encontramos sete imperativos que são escritos numa sequência progressiva: Celebrar a Deus. O que celebra serve a Deus como forma de adoração. Sabe quem é Deus (o criador e o Deus presente na vida de seu povo). Entra na sua presença e lhe dá graças e lhe bendiz o nome (adorando-O).
    Esta sequência de imperativos é uma preparação para o real motivo desta adoração. Tudo o que foi dito, anteriormente, já é suficiente para rendermos uma adoração imensurável. Mas o principal motivador desta adoração é o que se encontra no último versículo. É nesta parte que está à razão de adorarmos a Deus.
O versículo 5 começa com a conjunção "porque". Nos salmos de ações de graça esta expressão indica o motivo da adoração ou a parte central do poema. Normalmente esta parte dos salmos de ações de graça se liga à introdução, porém neste caso, o versículo vem no fim por causa da estrutura montada pelo salmista por intermédio da sequência progressiva dos imperativos. É a liberdade que a poesia nos dá, transgredir a sequência lógica da escrita.
III – ANÁLISE TEOLÓGICA
    3.1 Comentário do Texto
    O salmo a ser discutido, começa fazendo uma convocação aos moradores da terra para uma adoração que se manifesta por ações de graça. A palavra traduzida por ações de graça, é uma palavra "que corresponde à necessidade espontânea de dar expressão material e pública à ação de graças por qualquer tipo de auxílio ou de benefício. Para a qual tinham por hábito se utilizar os tipos correntes de holocausto ou de imolação (Gn 46.1; Sl 50.14; 56.13; 107.22)". Dentro de um contexto de culto era oferecido esse sacrifício de ação de graça.
    De acordo com a afirmação de Eichrodt, há um motivo para se prestar essa ação de graça: qualquer tipo de auxílio ou benefício; O salmo 100 nos mostrará um benefício para a prática desse tipo de gratidão. Em particular, o salmo aponta à bondade de Deus. Este benefício, gracioso, de Deus em nós é o real motivo para adorarmos ao SENHOR.
    De acordo com Sellin e Càssio Murilo Dias, o salmo de ações de graça é constituído por alguns elementos que, por sua vez, formam uma estrutura, a saber:

  1. Convite ao louvor;

  2. Motivação – "porque"; e

  3. Novo convite ao louvor (geralmente na conclusão).
Entretanto, estes elementos nem sempre aparecem na mesma ordem dada acima, mas se fazem presente.
O salmo começa com o primeiro elemento – convite ao louvor – quando diz: "Celebrai ao SENHOR toda a terra". Contudo, o motivo para adorarmos não aparece como o segundo elemento, mas, apenas, no fim. A conjunção "porque", responsável por introduzir, nestes tipos de salmos, o motivo para a adoração, é encontrada na última linha poética, onde está escrito: "Porque o SENHOR é bom. O salmista nos diz que a razão da nossa adoração, em forma de gratidão, é pela bondade de Deus.
A expressão "o SENHOR é bom", que se encontra na posição predicativa, tem a sua idéia repetida, na sequência, quando o salmista diz que a sua bondade e a sua fidelidade duram para sempre. Desse modo a frase tem o significado de 'bondade verdadeira' ou algo do gênero. A bondade de Deus é fiel e jamais acaba e também nunca falha é algo verdadeiro na vida do seu povo. Com isso, o salmista nos ensina a louvar a Deus consoante ao fato dele ser bom e usar de bondade e de fidelidade para conosco. O versículo poderia ficar assim traduzido: "Porque o Senhor é bom e a sua bondade verdadeira dura para sempre".
    A palavra traduzida por "bondade" é ds,x, (hesed). De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia (DAT), o melhor caminho para entendermos o significado desta palavra é seguir o conceito secular, ou seja, a relação entre uma pessoa e outra.
O ponto central está ligado a atitude de uma pessoa para com a outra, onde aquele que se encontra numa posição de ajudar o faz com base na sua liberdade de querer usar de bondade para com a outra pessoa. Por exemplo: Boaz reconheceu a atitude de Rute para com a sua sogra como sendo um ato de bondade. Rute não tinha a obrigação de ajudar e nem estava presa por uma aliança, mas tomou tal atitude com base na sua liberdade de agir e por um ato de bondade com a sua sogra. Isto é ds,x, (hesed).
Quando chegamos a bondade (ds,x,) divina, ela se refere à sua aliança ou aos seus atos de bondade provenientes do seu próprio Ser? Deus é obrigado a ser bom conosco?
De acordo com o DAT

é óbvio que Deus encontrava-se numa aliança com Israel, que ele também expressava essa relação em hesed, que a hesed de Deus era eterna (observe-se o refrão do Sl 136). Está claro que a hesed não envolve necessariamente uma aliança e nem significa fidelidade a uma aliança...

Portanto a bondade verdadeira de Deus atua na nossa vida não porque Deus está obrigado a fazer isso por causa da aliança, mas porque ele nos ama e tem prazer em agir, bondosamente, em nosso favor. O SENHOR é o Deus de Israel (referindo-se a todos os que lhe pertencem por meio de Cristo) para sempre e a sua bondade (ds,x,), para com o seu povo, também, dura para sempre. Por esta razão o salmista nos convida a aclamar, celebrar este maravilhoso Deus.
Compreendendo o motivo de louvarmos ao SENHOR de todo o nosso coração, fica mais fácil de entendermos o porquê do salmista, antes de dizer o motivo do louvor, escreve a sequência de imperativos progressivos.
O versículo um começa com o imperativo "celebrai". Esta palavra hebraica era usada no contexto de guerra e traduzida por "gritar" (cf. Js 6.5; 1Sm 17.52). Por isso, a tradução da Bíblia de Jerusalém e da NVI, que usam a palavra "aclamai", parece uma melhor opção de tradução. Neste primeiro versículo encontramos o convite para que todos louvem a Deus.
Esta afirmação é embasada pela qualidade da ação verbal encontrada no salmo 100 que indica uma causa para este convite. O verbo está no hifil, isto é, existe uma causa para que este aclamar aconteça; neste caso, é a bondade de Deus. O salmista ordena que todos os povos explodam em louvor, deem gritos de vitórias para louvar a Deus porque ele é bom. A causa deste convite é a bondade de Deus.
O versículo dois nos mostra que estes adoradores da terra são os seus servos e que estes deveriam servir ao seu Deus apresentando-se diante dele para este serviço, como retribuição a sua bondade. Com a presença da expressão com alegria, isso nos indica que este serviço não era algo pesado e, sim, prazeroso na vida daquele que serve ao SENHOR. A segunda parte reforça a idéia da primeira ao dizer: "apresentai-vos diante dele com cântico".
Este tipo de serviço, quando oferecido a Deus, ele consistirá de uma obediência ao SENHOR. Eu obedeço a Deus, e demonstro isso, o servindo com alegria e me apresentando diante dele com cântico de louvor porque eu sei que Deus é bom e a sua bondade verdadeira dura para sempre.
No versículo 3 encontramos um jogo de idéias muito interessante. Na primeira parte da linha poética o salmista apresenta Deus como sendo a força criadora e o Ser que sempre está presente. Ele se utiliza dos nomes hwhy (Yaveh) e ~yhiîl{a,< (elohim).
O salmista diz que nós somos obra das mãos de Deus porque foi ele quem nos fez; neste caso, esta afirmação tem ligação com a palavra ~yhiîl{a>, .
Esta é a mesma palavra usada em Gênesis, no capítulo um, para mostrar Deus como criador de todas as coisas, inclusive do homem. A força criadora do universo é a mesma força que fez o homem a partir do pó da terra e a mulher de sua costela.   
Nesta mesma linha poética temos a afirmação que não somos apenas feitura de Deus, mas constituído seu povo, onde ele é feito nosso pastor. Somos parte do seu pastoreio. Isso denota a idéia de um Deus presente e que cuida de seu povo. A declaração está relacionada com o primeiro nome
que aparece; o nome impronunciável de Deus hwhy, o Deus presente; aquele que se faz presente.
É o mesmo nome que Deus se apresentou a Moisés em Êx 3 e o mesmo nome que esteve presente na vida de Israel em toda a sua história e o nome da Aliança com este povo. O Deus que se faz presente e que criou todas as coisas age de maneira bondosa com a sua criação e com o seu povo escolhido.
    O versículo quatro nos mostra que os adoradores deveriam entrar por suas portas. Parece que o salmista, neste caso, faz uma referência ao Templo, o símbolo da presença de Deus no meio do seu povo. O Templo é tido como o centro religioso da nação de Israel. Entrar pelas portas do Templo, ou como a outra cola poética nos diz: "no seu pátio", era, simbolicamente, entrar na presença deste Deus, visto que a Arca da aliança estava no Templo.
Eles, na presença deste Deus, deveriam dar graças e bendizer. O verbo dar enfatiza o reconhecimento e a declaração de um fato, seja ele bom ou mal; o salmista usa este verbo, pois o salmo é um cântico de louvor pelo aspecto real da bondade de Deus.
O verbo encontra-se no hifil, logo existe uma causa para este louvor, neste caso, como já vimos, a bondade de Deus. Por causa desta bondade, aqueles que vinham ao Templo para adorar, o faziam declarando esse fato na vida deles.
O verbo bendizer encontra-se no piel (uso mais comum deste verbo bendizer). A raiz deste verbo é traduzida por "abençoar". Normalmente, a bênção era transmitida de uma pessoa que estava numa posição maior para uma na posição inferior.
Tal tratamento tornou-se um meio formal de expressar agradecimento e louvor a uma pessoa por ter compartilhado um benefício de sua vida. É bastante comum que o SENHOR seja tratado dessa forma. A bênção no AT está diretamente ligada à natureza bondosa de Deus. Por esta razão Deus deveria ser bendito.
Portanto, no caso do salmo 100, essas palavras não aparecem como duas ações distintas, mas elas formam um paralelismo sinonímico (transmitem uma mesma idéia). Com isso, Aqueles que entram na presença do SENHOR, dão graças a ele porque realmente Deus tem sido bondoso com a vida de seu povo e lhe bendizem o nome por saberem que Deus, infinitamente superior ao seu povo, tem usado de bondade para com eles.
    Resumidamente, poderíamos dizer:
"Aquele que celebra ao SENHOR o faz porque Deus é bom!
Aquele que serve com alegria o faz porque o SENHOR é bom!
Aquele que tem conhecimento que faz parte do povo e é cuidado por este Deus, sabe que o SENHOR o faz porque ele é bom!
Aquele que entra na sua presença tem a certeza de que está na presença do maravilhoso Deus, porque o SENHOR é bom!
Aquele que glorifica o seu bendito nome, o faz porque o SENHOR é bom!"
3.2 Implicações do Salmo 100 para a vida do Cristão
1. Deus é o único alvo da nossa adoração. Não há outro Deus que importa ser adorado que não seja o nosso SENHOR;
2. O nosso serviço a Deus demonstra uma forma de adorarmos ao SENHOR por causa da sua bondade.
3. Chegamos à conclusão que Deus não é apenas o Ser criador de todas as coisas, inclusive do homem, mas é o Ser sustentador de tudo – a natureza e o seu povo.
4. Toda a nossa gratidão e hino de louvor são motivados pela bondade verdadeira de Deus na vida de seu povo. Assim como Deus é eterno; eterna é a sua bondade para conosco, então como não adorá-lo.
CONCLUSÃO
O Salmo 100 apresenta-nos uma oportunidade de pensar sobre a teologia e a prática de adoração. Nos cinco versículos deste hino, encontramos uma breve, mas poderosa expressão de adoração aceitável ao Senhor. Nos versos que o salmista apresentou, nestas poucas palavras líricas, podemos ver um modelo de culto que une alguns dos atos e atitudes mais importantes de adoração bíblica: o culto na presença do SENHOR e para o SENHOR; louvar a Deus por aquilo que ele fez e por aquilo que ele é; reconhecimento da grandeza de Deus no universo e na vida pessoal; entoar-lhe cânticos de adoração; etc.
Em uma única frase poderíamos descrever tudo aquilo que desejávamos transmitir na análise do poema:
De maneira simples e viva este Salmo diz para nós, Deus é Deus, somos dele. Ele é eternamente bom; adoremo-lo e louvemo-lo. É mensagem que qualquer um pode entender e mensagem a que todos devem obedecer.
A esse Deus seja dada toda a gratidão desde agora e para todo o sempre!
Amém!

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