Orai sem Cessar (final)

ORAI SEM CESSAR (FINAL) Conforme dissertamos na meditação dominical da semana passada, a oração é um componente inseparável da vida cristã, um imperativo da graça, uma clara ordenança do Senhor ao seu povo; e não uma mera opção a ser ou não seguida por cada um de nós, de acordo com as nossas subjetivas decisões. Assim, é simplesmente inconcebível que alguém se declare um servo de Deus, alcançado por sua salvífica graça, regenerado pelo onipotente poder do seu Espírito Santo e, mesmo assim, não ore, não sinta prazer em investir precioso tempo da sua vida cotidiana numa convivência amorosa com Deus por meio da oração. Assim como um infante chora, tão logo deixa o aconchegante casulo do útero materno, o crente deve orar, ao constatar que passou das trevas para a maravilhosa luz do seu Senhor. Por esse prisma, a oração é um ato sublime de amor, por intermédio do qual, o crente deve expressar, com toda a intensidade dos afetos presentes em sua alma, o seu amor a Deus, em justo reconhecimento ao que o Senhor fez, ao estender as suas misericordiosas mãos a um desvalido, que jazia no imundo chão da iniquidade e, ato contínuo, caminhava, celeremente, para uma completa e eterna perdição. Ora, considerando que a oração é um diálogo permanente da alma com o bendito criador, na medida em que, em nosso viver diário, nós desprezamos a oração, na prática, nós estamos asseverando que o nosso amor pelo Senhor é bem diminuto, visto que não nos apraz cultivar, o mais demoradamente possível, a companhia daquele que dizemos ser a razão primacial da nossa vida. Nesse sentido, convém fixarmos, indesviavelmente, os nossos olhos na pessoa do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cujo indeclinável e ardente amor pelo Pai expressou-se, dentre outros aspectos, por uma vida que, ao longo de trinta e três anos, foi sumamente dedicada à oração, na qual ele consumiu-se e consumou-se, ao cumprir, cabalmente, todo o seu ministério. Além de um ato de amor, a oração também é um poderoso instrumento que Deus nos concede, a fim de podermos combater a ansiedade que, frequentemente, insiste em rondar-nos e fazer do nosso coração a sua morada mais privilegiada. Na epístola endereçada aos irmãos da cidade de Filipos, de modo enfático e consolador, Paulo exorta: “Não andeis ansiosos por coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças (Filipenses 4.6). A santa e providencial recomendação apostólica em tudo se harmoniza com as palavras proferidas por Jesus Cristo no grandioso Sermão do Monte: “Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir” (Mateus 6.25a). Depreende-se, claramente, das palavras do Filho de Deus, que a ansiedade humana radica nas milenares preocupações que nos assaltam no tocante à nossa sobrevivência terrena, cercada, toda ela, por variada espécie de necessidades: comer, vestir, dentre outras. Nesse contexto de multiplicadas e recorrentes pressões, ávidas por transformar a nossa vida num barquinho indefeso e sacudido para todos os lados pelos inclementes vendavais da existência, a oração pontifica como um antídoto contra o desespero; um eficaz remédio contra as massacrantes e inúteis preocupações; um lenitivo seguro contra a ansiedade que oprime o peito; rouba a alegria; planta a malfazeja semente da incredulidade; extingue a paz; faz do presente sinônimo de completo desassossego; e, do futuro, uma aflitiva e irrespondível indagação. Contra todos esses flagelos que atormentam a alma, a oração emerge como um poderoso recurso de Deus, com o qual nós lutamos e com o qual nós vencemos. Ato de amor, remédio para a ansiedade, a oração, de igual modo, é uma arma imprescindível na batalha que os pregadores travam, tendo como alvo a conquista de vidas para o Senhor. Conquanto estejamos bem persuadidos de que, em última análise, a tarefa de conversão de uma alma é prerrogativa indisputável de Deus, que nela exerce as irresistíveis operações do seu Santo Espírito, dobra a sua congênita dureza e a conduz, arrependida, aos pés do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, não estamos menos conscientes da responsabilidade de orarmos por todos aqueles a quem vamos evangelizar. Tal verdade teológico-doutrinária, de que é Deus quem regenera o coração de um pecador, amplamente chancelada pelas Escrituras Sagradas, não anula as responsabilidades que pesam sobre os que trazem em seus ombros a missão de proclamar o evangelho a todas as criaturas. Como bem sentencia o apóstolo Paulo, devemos “anunciar todo o conselho de Deus (Atos 20.27b), na inteira dependência do Espírito Santo, traduzida no exercício contínuo da oração. Na epístola encaminhada aos crentes da cidade de Éfeso, Paulo pede oração “para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo” (Filipenses 6.19b-20). A petição apostólica é nítida em seu escopo: ele anela por autoridade na transmissão do evangelho da graça de Deus. Autoridade essa que somente lhe será concedida por meio da oração. Oração que expõe diante de Deus a nossa insuficiência e, de igual modo, descansa na completa suficiência de Deus. O problema é que, às vezes, nós confiamos em nossa suposta cultura bíblica; em nosso aparentemente lógico e irresistível poder de argumentação; na presumível eficácia de nosso método comunicacional. Assim procedendo, esquecemo-nos de que, sem a imprescindível assistência do Espírito Santo de Deus, pela qual devemos rogar em perseverante oração, os nossos esforços, por mais bem intencionados que sejam, resultarão inteiramente malogrados. A oração, à luz das Escrituras Sagradas, também nos auxilia a cultivar, num mundo confuso e eivado de erros de toda a espécie, a atitude de discernimento diante da babel de vozes que se elevam e querem conquistar nossas mentes e corações. É nesse patamar que aprendemos que oração e Palavra de Deus nunca podem andar desconectadas uma da outra; antes, devem ser faces indissociáveis. Escola do Espírito, no lúcido dizer do Reformador João Calvino, a Palavra de Deus é nossa Regra Única de Fé e de Prática, legislação autoritativa e suficiente para todas as áreas da nossa vida. A Escritura, sem oração, pode tornar-nos ortodoxos frios e racionalistas, perigo que sempre rondou a teologia em sua feição mais acadêmica e escolástica. A oração, sem a Escritura, é uma porta escancarada para o misticismo mais desarrazoado e para o fanatismo mais destruidor. Pautada pelas Escrituras Sagradas, a nossa vida de oração encontrará instrução sólida, a fim de que nos harmonizemos com a “boa, perfeita e agradável vontade de Deus” (Romanos 12.2b). Em suma: orando tendo como balizamento supremo a Palavra de Deus, obteremos a graça do discernimento espiritual, que nos capacitará o ouvir, tão somente, a voz do Bom Pastor, o único que nos “restaura a alma e nos conduz aos pastos verdejantes” (Salmo 23.2,3). Por fim, a oração fortalece a nossa alma e nos capacita para enfrentarmos as duras e necessárias provações que Deus, em sua providência misteriosa e santa, nos destina, a fim de provar-nos e aprovar-nos na caminhada da fé. Num dos mais belos versículos da Palavra de Deus, o apóstolo Paulo sentencia: “Regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes” (Romanos 12.12). Quando somos visitados por uma rigorosa professora chamada tribulação, alegramo-nos na esperança da glória de Deus, que é Jesus Cristo, e somos instados a perseverar na oração. Oremos sem cessar, amados irmãos e cumpramos, desse modo, um explícito mandamento do Senhor. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER. JOSÉ MÁRIO DA SILVA PRESBÍTERO

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