ALGUMAS COISAS QUE DEUS NÃO PODE FAZER
O título da presente meditação dominical, lido de bate pronto e sem o acompanhamento cuidadoso do seu desenvolvimento argumentativo propriamente dito, pode parecer estranho e despropositado, afinal das contas, já temos, formulada em nossas mentes, a ideia de que Deus pode fazer todas as coisas, nada ficando de fora da esfera do seu onipotente poder.
Contudo, antes de refletirmos sobre o que Deus pode ou não fazer, temos de nos desvencilhar das concepções urdidas pela pecaminosa imaginação humana e, ato contínuo, aferrarmo-nos, incondicional e submissamente, à Revelação que Ele fez acerca de Si mesmo nas Escrituras Sagradas: nossa regra única de fé e de prática, fonte autoritativa e suficiente em tudo quanto diz respeito a Deus, seu caráter santo, atributos gloriosos e propósito redentor estendido, graciosamente, ao povo por Ele amado e escolhido, antes da fundação do mundo, para ser herdeiro da grande salvação que, no Pacto da Redenção, Pai, Filho e Espírito Santo arquitetaram.
Assim, examinando as credenciais e indisputáveis prerrogativas do Deus das Escrituras Sagradas, damo-nos conta de que Ele pode fazer todas as coisas, sim, mas todas as coisas que se harmonizam com a essência do seu ser e com o conselho da sua boa, perfeita e agradável vontade. Tendo tais pressupostos teológicos como parâmetros inafastáveis do nosso sentir/pensar, podemos afirmar que há algumas coisas que Deus não pode fazer.
Em primeiro lugar, Deus não pode, em hipótese alguma, pecar. Nesse sentido, é bastante emblemático constatarmos que o único atributo de Deus que aparece referenciado três vezes consecutivas é o que se vincula ao território sublime da sua ontológica santidade. “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; e toda a terra está cheia da sua glória” (Isaías 6.3b). Foi esse o saldo mais impressionante da singular visão que o profeta Isaías teve de Deus:
Ele é santo, não havendo, em todas as vastas latitudes do seu ser, o mais leve vestígio de imperfeição.
A impecabilidade de Deus foi pontuada pelos profetas Isaías: “não posso suportar iniquidade associada ao ajuntamento solene” (Isaías 1.13b) e Habacuque: “Tu és tão puro de olhos que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar” (Habacuque 1.13b). Tal impossibilidade de haver em Deus qualquer nesga de erro e pecado tem implicações práticas profundas para a nossa fé, visto que nos confere a inabalável e consoladora convicção de que todos os atos de Deus são adornados pela luminosa beleza da sua santidade. A bondade de Deus é santa. O amor de Deus é santo. Os juízos de Deus são santos. Santidade, eis o traço indelével do Deus das Escrituras Sagradas.
O apóstolo João, na mesma direção revelacional, sentenciou: “Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (Primeira Epístola de João 1.5b). Sendo assim, como assim é, “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem para que se arrependa, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” (Números 23.19). Desse modo, não há o menor risco de que as promessas de Deus não sejam plenamente cumpridas: “E esta é a promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna” (Primeira Epístola de João 2.25).
Em segundo lugar, Deus não pode deixar de ser Deus, isto é, o que Ele é hoje é o que Ele foi ontem; e o que será para sempre, até porque sendo um Espírito eterno e autoexistente, Deus não está sujeito às contingências da temporalidade. Tal verdade teológico-doutrinária, por sua sobrante evidência escriturística, não deveria ser objeto de qualquer espécie de controvérsia. Não deveria, mas, lamentavelmente, é. Basta que nos reportemos aos arautos do teísmo aberto/teologia relacional que, ressuscitando velhas e rechaçadas heresias, insistem em afirmar que Deus, voluntária e deliberadamente, abriu mão de alguns atributos, tais como a sua onisciência, por meio da qual Deus sabe de todas as coisas; o fim, antes do começo. Ao abrir mão desse seu atributo incomunicável, Deus, na ótica dessa estranha teologia, sabe sobre o futuro, exatamente o que cada ser humano sabe: nada.
Por esse viés, o máximo que Deus pode fazer, em sua autoconsentida insciência sobre todas as coisas, é estar ao nosso lado, a fim de construir conosco o futuro, encarado, nessa perspectiva, como uma realidade inteiramente aberta. Houve mesmo um famoso pregador brasileiro que afirmou que quando o devastador tsunami matou milhares de pessoas em geografias asiáticas, Deus não sabia de coisa alguma a esse respeito, tendo sido pego de surpresa.
Estamos, decisivamente, diante de uma canhestra caricatura do Deus soberano e glorioso que se revela nas Escrituras Sagradas, em cujas inspiradas páginas aprendemos exatamente o oposto, isto é, aprendemos que Deus é onipotente, onisciente e onipresente; e governa todas as coisas de modo soberano, sábio, santo e providencial. Um Deus que desconhece o futuro não é o Deus único, vivo e verdadeiro; não é o Deus dos santos profetas e apóstolos; não é o Pai do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo; antes, é um ídolo fabricado pela pecaminosa mente dos homens.
Em terceiro lugar, Deus não pode tomar o culpado por inocente; não pode ignorar que o pecado é algo sobremaneira hediondo, que fere a santidade do criador e é passível de morte: morte física, espiritual e, a pior de todas, a morte eterna, separação definitiva entre a alma e Deus. Separação essa que é fonte de indescritível e perene sofrimento. Por fim, Deus não pode jamais deixar de amar o seu povo, menina dos seus olhos, sua particular e preciosa herança.
O amor de Deus por seu povo é tão grande que Ele não hesitou em dar o seu Filho amado para morrer a mais terrível das mortes: a morte de cruz, por meio da qual fomos redimidos e libertados da opressiva escravidão do pecado e, de igual modo, transportados para a gloriosa liberdade do “reino do Filho do seu amor”. Meditar em tais verdades é fundamental para a vivência de um cristianismo saudável e rigorosamente bíblico. O ponto seminal é conhecermos realmente quem é Deus, a fim de que, instruídos por sua Palavra, possamos adorá-lO em espírito e em verdade; cultuá-lO e viver para o seu louvor e glória. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER.
JOSÉ MÁRIO DA SILVA
PRESBÍTERO
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