Vinde,
irmãos, louvar a Deus,
Criador
da terra e céus.
Exaltemos
o Senhor!
Infinito
é seu amor!
Glória
e honra ao grande Rei;
Alta
e santa é sua lei.
Age
com poder real,
Com
grandeza divinal.
Dia
e noite a sua mão
Desenvolve
o tenro grão.
Com
os dons do seu poder
Nossas
vidas faz crescer.
(S.
P. Kalley)
O Breve Catecismo, um dos mais importantes Símbolos de Fé da Teologia ancorada na Tradição Reformada,
assevera-nos, logo em sua pergunta inaugural, que a finalidade precípua do homem é glorificar a Deus e desfrutá-lo para
sempre. Nisso reside a sua bem-aventurança eterna, fonte suprema de alegria
e plenitude existencial. De fato, Deus é digno de toda honra, glória, louvor e
adoração, não apenas por causa dos seus e grandes e poderosos feitos na
história, seu absoluto, providencial, santo e soberano controle sobre toda a
história, mas, sobretudo, porque Ele é Deus, Ser sumamente amável e adornado
com os mais sublimes e gloriosos atributos morais.
Louvar a Deus, portanto, é tanto
um dever quanto um privilégio do seu povo, que é convocado pelo próprio Deus
para cultuá-lo em Espírito e em verdade: ouvindo a sua Palavra, a ela
respondendo com fé, oração, obediência e amor, expressões indeléveis de
corações que têm como anelo supremo viver de maneira inteiramente agradável ao
Senhor. O hino em foco, uma verdadeira obra-prima do Novo Cântico Presbiteriano,
admirável consórcio entre poema e sólida teologia, é um santo chamamento ao
povo de Deus para louvar ao Senhor e exaltá-Lo, realçando alguns dos aspectos
mais notáveis do seu grandioso Ser.
O primeiro ponto que releva no
texto é o que sinaliza para a dimensão comunitária de que se deve revestir a
adoração pública que a igreja realiza em seus ajuntamentos solenes. Esse traço
conceitual, doutrinariamente falando, é sobremaneira pedagógico, pois nos
ensina que o cantar para Deus, na realidade concreta do culto, é uma atividade
rigorosamente congregacional. Não há, no culto que prestamos ao Senhor,
justificativa teológica para apresentações individuais que, por causa de nossa
congênita pecaminosidade, facilmente descambam para o desfile exibicionista de
vaidades tolas, apropriações indébitas de uma glória somente passível de ser
tributada a Deus. Quem se julga imune a essas tentações é porque nutre uma
imagem muito positiva de si mesmo e, na outra ponta, desconhece o quanto é “enganoso e desesperadamente corrupto o
coração humano”. (Jeremias 17.9).
Na congregacionalidade do culto
público, acentua-se em nós uma forte relação de pertencimento ao corpo de
Cristo, uma compreensão tanto intelectiva quanto experimental de que,
verdadeiramente, Deus fez uma aliança conosco, exemplarmente manifestada na
igreja, da qual Jesus Cristo é o Cabeça, e na qual o Espírito Santo habita,
sempiternamente. Prossegue o hino, pondo em realce o poder de Deus revelado na
criação de todas as coisas.
O Credo Apostólico enfatiza, em sua proposição inicial, a
onipotência criadora de Deus. O brilho aqui recai sobre o fato de Deus ter
criado tudo do nada, valendo-se, unicamente, da proferição livre e soberana da
sua Palavra. Desse poder magnífico dá-nos o Livro de Gênesis vislumbres
impressionantes e belos. Ali, vemos Deus falando, e, imediatamente, o universo
todo, em sua assombrosa diversidade, sendo formado; tal inspirado escrito foi,
mais tarde, pelo mesmo Espírito Santo, esculpido nas páginas neotestamentárias,
mais precisamente as que emergiram da pena do autor da Epístola aos Hebreus,
que, ao tratar da matéria em foco, assim se pronunciou: “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de
maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”. (Hebreus
11.3).
Ao Deus Criador de todas as
coisas, com especialidade do homem, feito à sua imagem e semelhança, “vinde, irmãos, louvar”. Continuando em
sua argumentação, damo-nos conta de que o Deus Criador é, também, amor em sua
essência; e que ama infinitamente a sua criação, tanto que, mesmo depois de
caída e rebelada contra o seu senhorio, Ele ainda a sustenta, renova sobre ela
as suas misericórdias, causa de não sermos consumidos por seu justo furor,
conforme sinaliza o profeta Jeremias; e, em amor incomparável e sem fim,
providenciou para o seu povo, urdida nos bastidores da eternidade e consumada
no palco concreto da história e do tempo, uma grande, perfeita e eterna
salvação. Salvação, assim adjetivada, não porque a sua eficácia radica no
presumido e falacioso poder do supostamente livre arbítrio humano, mas sim na
ação harmônica e soberana da misteriosa Trindade: do Pai, que elege; do Filho,
que redime; e do Espírito Santo, que sela e torna-se o definitivo e irrasurável
penhor dos eleitos de Deus. Ao Deus, que é puro amor, e que ama tão pura e
infinitamente, “vinde, irmãos, louvar”.
O Deus Criador e amoroso é, de
igual modo, Rei supremo do universo. A figura de Deus como um rei perpassa as
Escrituras Sagradas de uma a outra ponta, com ênfase no Antigo Testamento.
Quando o povo de Israel, ávido por imitar o comportamento das nações
circunvizinhas, pediu ao profeta Samuel que lhes concedesse um rei, tal anelo,
mais do que ao servo de Deus, desagradou ao próprio Deus, que tinha a
prerrogativa maior e indisputável de reinar sobre o seu povo.
No Novo Testamento, a figura de
Deus como rei avulta, e de modo emblemático, no modo como Jesus Cristo, que é
Deus, é descrito na carta de Paulo aos irmãos da cidade de Filipos, mais
precisamente no capítulo dois. Nele, depois de ser mostrado em seu estado de
extrema humilhação, Jesus Cristo é glorificado e recebe do Pai um nome que está
acima de todo nome, e diante de quem, na consumação da história, a gosto ou a
contragosto, todo joelho se dobrará e toda língua entoará uma submissa e
monofônica sinfonia: Jesus Cristo é o
Senhor, o que promoverá a glória do Deus Pai.
Vê-se aqui, claramente, o Filho
de Deus entronizado como o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Sendo Jesus
Cristo o nosso grande Rei, sejamos os seus súditos leais e prontos para fazer a
sua boa, perfeita e agradável vontade. Ao nosso Deus, que é Rei absoluto do
universo, “vinde, irmãos, louvar”.
Criador, amoroso e Rei soberano, o nosso Deus, para cujo louvor todos somos
convocados, é um Deus que se revelou para nós: na ordem natural da criação (Revelação Geral) e nas Escrituras
Sagradas (Revelação Especial), , “sua alta e santa lei” por meio da qual
conhecemos quem é Deus; tomamos ciência do seu caráter; discernimos os seus
grandes e redentivos atos espalhados pela história; recebemos, enfim,
informações suficientes, embora não exaustivas, sobre o Senhor, as quais nos
habilitam a amá-Lo e servi-Lo corretamente.
Não tivesse Deus se revelado a
nós e, como cegos, viveríamos tateando na mais abismal escuridão, cultuando
falsos deuses, dado que, como bem pontua João Calvino: “nosso coração é uma fábrica de ídolos”, em tudo carente da
iluminação somente de Deus procedente; da sua suficiente Palavra, “Escola do Espírito”, ainda de acordo
com o notável exegeta da Reforma Protestante. Ao Deus revelado nas Escrituras
Sagradas, “vinde, irmãos, louvar”.
O nosso Deus é, também, o Deus
da soberana providência. Tomamos por empréstimo ao teólogo presbiteriano Heber
Carlos de Campos o justo conceito de “providência
divina como a atividade do Deus triúno por meio do qual ele (a) provê as
necessidades de suas criaturas, (b) preserva todo o universo criado, (c) dirige
todos os caminhos individualmente, (d) governa toda a obra de suas mãos, (e)
retribui todas as obras más e (f) concorre em todos os atos de suas criaturas
racionais, sejam atos bons ou maus, de modo que nada escapa ao seu controle”.
Os três dísticos finais do hino
em apreço sinalizam nessa direção. Deus é grande, poderoso, de tudo cuida com
cirúrgica precisão. Do grão mais ínfimo que fecunda a terra, ao homem, coroa da
sua criação, a muitos dos quais salva, a eles concedendo a profusão dos seus
dons maravilhosos. Ao Deus da providência, “vinde, irmãos, louvar”. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER.
JOSÉ
MÁRIO DA SILVA
PRESBÍTERO
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