A REDENCAO PLANEJADA
EFESIOS 1:3-14. Introdução. Decreto - Ordem ou resolução emanada por autoridade superior; resolução. Manifestação de vontade. Desígnio- ideia de realizar algo, intenção, proposito, vontade. Os decretos de Deus abrangem tudo que existe(exemplificar, eleições, catástrofes, avanços científicos, sua vida, seu emprego, etc). As obras de Deus são as realizações de seus decretos no decorrer da história Isaías 44:28 que digo de Ciro: Ele é meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; que digo também de Jerusalém: Será edificada; e do templo: Será fundado. Isaías 45:1 Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se fecharão. Isaías 45:13 Eu, na minha justiça, suscitei a Ciro e todos os seus caminhos endireitarei; ele edificará a minha cidade e libertará os meus exilados, não por preço nem por presentes, diz o SENHOR dos Exércitos. Isaías 48:14 Ajuntai-vos, todos vós, e ouvi! Quem, dentre eles, tem anunciado estas coisas? O SENHOR amou a Ciro e executará a sua vontade contra Babilônia, e o seu braço será contra os caldeus. Profecia 116 anos antes dele nascer. Conquista a babilônia, liberta os judeus, refaz o templo. E ele não se converteu. . As obras divinas se revelam na criação, na preservação, e na condução da história. A redenção (libertação da danação eterna que nada mais é do que a decadência moral ou material completa; condenação as penas do inferno). Na redenção a total ação é de iniciativa divina. Se origina em Deus e é executada por ele 1Desde a fundação do mundo: Preposição é a palavra que estabelece uma relação entre dois ou mais termos da oração. o sentido da expressão é dependente da união de todos os elementos que a preposição vincula. Ef:1.4. assim como nos escolheu (eklegomai) nele antes da fundação do mundo, para sermos santos(útil, benéfico; seguro, eficaz) e irrepreensíveis (que não dá margem a censura ou a repreensão) perante ele; e em amor( unido ao seu amor pela mediação do E.S.) – Deus Pai que escolhe os cristãos como aqueles que ele separa da multidão sem religião como seus amados, aos quais transformou, através da fé em Cristo, em cidadãos do reino Messiânico:(#Tg 2.5) de tal forma que o critério de escolha arraiga-se unicamente em Cristo e seus méritos. Antes da fundação do mundo, ou seja, na eternidade. Antes de todas as coisas. Então não é por obra nenhuma nossa. Tg 2.5 deixa isso claro. O aparente problema da dificuldade em conciliar eleição e evangelização. A evangelização é o meio ordinário pelo qual Deus salva os pecadores. Eleição e evangelização não são opostos e não se separam. O aparente problema da “injustiça” divina. Ex 33.19. a má compreensão surge por cremos que nascemos neutros. A bíblia nos ensina que já nascemos pecadores. E somos merecedores das punições da aliança. Devido a falha do nosso representante federal. Que foi Adão. Romanos 5:12 Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Romanos 5:18-19; Efésios 2.5. Deus não tinha obrigação de salvar nenhum de nós. Concede salvação a quem lhe apraz e comunica vida a quem desejar. 2- Para sermos santos. V4 b para sermos santos(útil, benéfico; seguro, eficaz) e irrepreensíveis (que não dá margem a censura ou a repreensão) perante ele; e em amor( unido ao seu amor pela mediação do E.S.) – Fp. 2.13 santificação é parte do caminho da regeneração. É um processo que nunca deve ser negligenciado. Romanos 8:30. Fp 1.6 ate o dia da nossa morte. 3- para adoção de filhos verso 5 Deus nos da um nome, uma nova condição social a ela, nos faz entrar na sua família, e nos da o Seu ESPIRITO. Nessa adoção nós temos privilégios e deveres. Efésios 5:8. 4- para louvor da glória de sua graça verso 6 o objetivo final da salvação é o louvor ao próprio Deus. A salvação não tem como centro o ser humano mas o próprio Deus e o louvor da sua glória. Efésios 2:8.9. 5- Eleitos e selados. Verso 13. Na antiguidade o selo era usado para a- Garantir a autenticidade. b- Marcar uma propriedade. c- Proteger um objeto contra violação. Aplicações: o fato de saber que foi escolhido por Cristo para a salvação e selado com o ES da promessa tem alguma influência em sua vida? Qual?
Uma Confissão Reformada
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto em: Monergismo.com
1. Creio que meu único objetivo na vida e na morte deve ser glorificar a Deus e gozá-lo para sempre; e que Deus me ensina a como glorificá-lo em sua santa Palavra, isto é, a Bíblia, que ele deu pela inspiração infalível do seu Espírito Santo, para que eu pudesse saber com certeza no que crer concernente a ele e quais deveres ele requer de mim.
2. Creio que Deus é um Espírito, infinito, eterno e incomparável em tudo o que ele é; um Deus, mas três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo; meu Criador, meu Redentor, e meu Santificador; em cujo poder e sabedoria, justiça, bondade e verdade posso depositar minha confiança com segurança.
3. Creio que os céus e a terra, e tudo o que neles há, são obra das mãos de Deus; e que tudo o que ele fez, agora dirige e governa em todas as suas ações; de forma que cumprem o fim para o qual foram criados; e eu, que confio nele, não serei envergonhado, mas posso descansar com segurança na proteção de seu amor Todo-Poderoso.
4. Creio que Deus criou o homem segundo a sua imagem, em conhecimento, justiça e santidade, e entrou num pacto de vida com ele sobre a condição única de obediência, que era o seu dever: de forma que foi por pecar deliberadamente contra Deus que o homem caiu no pecado e miséria no qual nasci.
5. Creio que, tendo caído em Adão, meu primeiro pai, sou por natureza um filho da ira, sob a condenação de Deus e corrompido no corpo e alma, tendente ao mal e suscetível à morte eterna; de qual estado terrível não posso ser liberto, salvo por meio da graça imerecida de Deus meu Salvador.
6. Creio que Deus não deixou o mundo perecer em seu pecado, mas por causa do grande amor com o qual o amou, desde toda a eternidade escolheu graciosamente para si uma multidão que ninguém pode contar, para livrá-los do seu pecado e miséria, e deles edificar novamente no mundo seu reino de justiça: no qual reino posso estar seguro ter minha parte, se me apego a Cristo o Senhor.
7. Creio que Deus redimiu o seu povo para si através de Jesus Cristo nosso Senhor; que, embora fosse e sempre continua ser o eterno Filho de Deus, todavia nasceu de uma mulher, nascido sob a lei, para que pudesse redimir aqueles que estavam sob a lei: creio que ele suportou a penalidade devida aos meus pecados em seu corpo no madeiro, e cumpriu em sua pessoa a obediência que eu devia à justiça de Deus, e agora me apresenta ao seu Pai como sua possessão comprada, para o louvor da glória de sua graça para sempre: portanto, renunciando todo o mérito meu, coloco toda a minha confiança no sangue e justiça de Jesus Cristo meu redentor.
8. Creio que Jesus Cristo meu redentor, que morreu por minhas ofensas, ressuscitou para a minha justificação, e subiu aos céus, onde se assenta à mão direita do Pai Todo-Poderoso, faz contínua intercessão pelo seu povo, e governa o mundo todo como O cabeça sobre todas as coisas para a sua Igreja: de forma que não preciso temer nenhum mal e posso saber com segurança que nada pode me arrebatar das suas mãos, e nada pode me separar do seu amor.
9. Creio que a redenção realizada pelo Senhor Jesus Cristo é eficazmente aplicada a todo o seu povo pelo Espírito Santo, que opera fé em mim e através da qual me uno a Cristo, renova-me no homem completo segundo a imagem de Deus, e me capacita mais e mais a morrer para o pecado e viver para a justiça; até que essa obra graciosa tenha sido completada em mim, e eu seja recebido na glória – na qual grande esperança habita –, devo esforçar-me para aperfeiçoar a santidade no temor de Deus.
10. Creio que Deus requer de mim, sob o evangelho, em primeiro lugar, que, como resultado de um verdadeiro senso do meu pecado e miséria e apreensão da sua misericórdia em Cristo, devo me voltar com tristeza e ódio do pecado, e receber e descansar em Jesus Cristo somente para a salvação; assim, ao ser unido a ele, posso receber perdão para os meus pecados e ser aceito como justo aos olhos de Deus somente pela justiça de Cristo imputada a mim, e recebida pela fé somente; e assim, e somente assim, creio que posso ser recebido no número e ter direito aos privilégios dos filhos de Deus.
11. Creio que, tendo sido perdoado e aceito por causa de Cristo, é adicionalmente requerido de mim que ande no Espírito que ele adquiriu pra mim, e por quem o amor é derramado em meu coração; cumprindo a obediência que devo a Cristo meu Rei; realizando fielmente todos os deveres que me são impostos pela santa lei de Deus, meu Pai celestial; e sempre refletir em minha vida e conduta, o perfeito exemplo que foi estabelecido por Cristo Jesus meu Líder, que morreu por mim e me concedeu o seu Espírito Santo, de forma que eu possa fazer as obras que Deus de antemão preparou para que eu andasse nelas.
12. Creio que Deus estabeleceu a sua Igreja no mundo e concedeu-lhe o ministério da Palavra e as santas ordenanças do Batismo, a Ceia do Senhor e a Oração; para que através desses como meios, as riquezas de sua graça no evangelho possam ser feitas conhecidas ao mundo, e, pela bênção de Cristo e a operação do seu Espírito naqueles que pela fé recebem esses meios, os benefícios da redenção possam ser comunicados ao seu povo: razão pela qual é requerido de mim também que participe desses meios de graça com diligência, preparação e oração, para que por meio deles eu possa ser instruído e fortalecido na fé, e na santidade de vida e em amor; e que eu use meus melhores esforços para comunicar esse evangelho e transmitir esses meios de graça ao mundo todo.
13. Creio que como Jesus Cristo veio uma vez em graça, assim também ele virá uma segunda vez em glória, para julgar o mundo em justiça e designar a cada um sua recompensa eterna: e creio que se eu morro em Cristo, minha alma será na morte aperfeiçoada em santidade e voltará para o Senhor; e quando ele retornar em sua majestade, serei ressuscitado em glória e feito perfeitamente bendito no pleno gozo de Deus por toda a eternidade: encorajado por essa bendita esperança, requer-se de mim tomar alegremente minha parte no duro sofrimento aqui como soldado de Cristo Jesus, estando certo que se morro com ele também viverei com ele, se sofro, também reinarei com ele.
E a Ele, meu Redentor,
com o Pai,
e o Espírito Santo,
Três Pessoas, um Deus,
seja glória eternamente,
para todo o sempre,
Amém, e Amém.
Fonte: Selected Shorter Writings of Benjamin B. Warfield – Volume I, pp. 407-410. John E. Meeter, editor (Nutley, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1970); via Monergismo.com.com o Pai,
e o Espírito Santo,
Três Pessoas, um Deus,
seja glória eternamente,
para todo o sempre,
Amém, e Amém.
CONVITE AO LOUVOR
Vinde,
irmãos, louvar a Deus,
Criador
da terra e céus.
Exaltemos
o Senhor!
Infinito
é seu amor!
Glória
e honra ao grande Rei;
Alta
e santa é sua lei.
Age
com poder real,
Com
grandeza divinal.
Dia
e noite a sua mão
Desenvolve
o tenro grão.
Com
os dons do seu poder
Nossas
vidas faz crescer.
(S.
P. Kalley)
O Breve Catecismo, um dos mais importantes Símbolos de Fé da Teologia ancorada na Tradição Reformada,
assevera-nos, logo em sua pergunta inaugural, que a finalidade precípua do homem é glorificar a Deus e desfrutá-lo para
sempre. Nisso reside a sua bem-aventurança eterna, fonte suprema de alegria
e plenitude existencial. De fato, Deus é digno de toda honra, glória, louvor e
adoração, não apenas por causa dos seus e grandes e poderosos feitos na
história, seu absoluto, providencial, santo e soberano controle sobre toda a
história, mas, sobretudo, porque Ele é Deus, Ser sumamente amável e adornado
com os mais sublimes e gloriosos atributos morais.
Louvar a Deus, portanto, é tanto
um dever quanto um privilégio do seu povo, que é convocado pelo próprio Deus
para cultuá-lo em Espírito e em verdade: ouvindo a sua Palavra, a ela
respondendo com fé, oração, obediência e amor, expressões indeléveis de
corações que têm como anelo supremo viver de maneira inteiramente agradável ao
Senhor. O hino em foco, uma verdadeira obra-prima do Novo Cântico Presbiteriano,
admirável consórcio entre poema e sólida teologia, é um santo chamamento ao
povo de Deus para louvar ao Senhor e exaltá-Lo, realçando alguns dos aspectos
mais notáveis do seu grandioso Ser.
O primeiro ponto que releva no
texto é o que sinaliza para a dimensão comunitária de que se deve revestir a
adoração pública que a igreja realiza em seus ajuntamentos solenes. Esse traço
conceitual, doutrinariamente falando, é sobremaneira pedagógico, pois nos
ensina que o cantar para Deus, na realidade concreta do culto, é uma atividade
rigorosamente congregacional. Não há, no culto que prestamos ao Senhor,
justificativa teológica para apresentações individuais que, por causa de nossa
congênita pecaminosidade, facilmente descambam para o desfile exibicionista de
vaidades tolas, apropriações indébitas de uma glória somente passível de ser
tributada a Deus. Quem se julga imune a essas tentações é porque nutre uma
imagem muito positiva de si mesmo e, na outra ponta, desconhece o quanto é “enganoso e desesperadamente corrupto o
coração humano”. (Jeremias 17.9).
Na congregacionalidade do culto
público, acentua-se em nós uma forte relação de pertencimento ao corpo de
Cristo, uma compreensão tanto intelectiva quanto experimental de que,
verdadeiramente, Deus fez uma aliança conosco, exemplarmente manifestada na
igreja, da qual Jesus Cristo é o Cabeça, e na qual o Espírito Santo habita,
sempiternamente. Prossegue o hino, pondo em realce o poder de Deus revelado na
criação de todas as coisas.
O Credo Apostólico enfatiza, em sua proposição inicial, a
onipotência criadora de Deus. O brilho aqui recai sobre o fato de Deus ter
criado tudo do nada, valendo-se, unicamente, da proferição livre e soberana da
sua Palavra. Desse poder magnífico dá-nos o Livro de Gênesis vislumbres
impressionantes e belos. Ali, vemos Deus falando, e, imediatamente, o universo
todo, em sua assombrosa diversidade, sendo formado; tal inspirado escrito foi,
mais tarde, pelo mesmo Espírito Santo, esculpido nas páginas neotestamentárias,
mais precisamente as que emergiram da pena do autor da Epístola aos Hebreus,
que, ao tratar da matéria em foco, assim se pronunciou: “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de
maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”. (Hebreus
11.3).
Ao Deus Criador de todas as
coisas, com especialidade do homem, feito à sua imagem e semelhança, “vinde, irmãos, louvar”. Continuando em
sua argumentação, damo-nos conta de que o Deus Criador é, também, amor em sua
essência; e que ama infinitamente a sua criação, tanto que, mesmo depois de
caída e rebelada contra o seu senhorio, Ele ainda a sustenta, renova sobre ela
as suas misericórdias, causa de não sermos consumidos por seu justo furor,
conforme sinaliza o profeta Jeremias; e, em amor incomparável e sem fim,
providenciou para o seu povo, urdida nos bastidores da eternidade e consumada
no palco concreto da história e do tempo, uma grande, perfeita e eterna
salvação. Salvação, assim adjetivada, não porque a sua eficácia radica no
presumido e falacioso poder do supostamente livre arbítrio humano, mas sim na
ação harmônica e soberana da misteriosa Trindade: do Pai, que elege; do Filho,
que redime; e do Espírito Santo, que sela e torna-se o definitivo e irrasurável
penhor dos eleitos de Deus. Ao Deus, que é puro amor, e que ama tão pura e
infinitamente, “vinde, irmãos, louvar”.
O Deus Criador e amoroso é, de
igual modo, Rei supremo do universo. A figura de Deus como um rei perpassa as
Escrituras Sagradas de uma a outra ponta, com ênfase no Antigo Testamento.
Quando o povo de Israel, ávido por imitar o comportamento das nações
circunvizinhas, pediu ao profeta Samuel que lhes concedesse um rei, tal anelo,
mais do que ao servo de Deus, desagradou ao próprio Deus, que tinha a
prerrogativa maior e indisputável de reinar sobre o seu povo.
No Novo Testamento, a figura de
Deus como rei avulta, e de modo emblemático, no modo como Jesus Cristo, que é
Deus, é descrito na carta de Paulo aos irmãos da cidade de Filipos, mais
precisamente no capítulo dois. Nele, depois de ser mostrado em seu estado de
extrema humilhação, Jesus Cristo é glorificado e recebe do Pai um nome que está
acima de todo nome, e diante de quem, na consumação da história, a gosto ou a
contragosto, todo joelho se dobrará e toda língua entoará uma submissa e
monofônica sinfonia: Jesus Cristo é o
Senhor, o que promoverá a glória do Deus Pai.
Vê-se aqui, claramente, o Filho
de Deus entronizado como o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Sendo Jesus
Cristo o nosso grande Rei, sejamos os seus súditos leais e prontos para fazer a
sua boa, perfeita e agradável vontade. Ao nosso Deus, que é Rei absoluto do
universo, “vinde, irmãos, louvar”.
Criador, amoroso e Rei soberano, o nosso Deus, para cujo louvor todos somos
convocados, é um Deus que se revelou para nós: na ordem natural da criação (Revelação Geral) e nas Escrituras
Sagradas (Revelação Especial), , “sua alta e santa lei” por meio da qual
conhecemos quem é Deus; tomamos ciência do seu caráter; discernimos os seus
grandes e redentivos atos espalhados pela história; recebemos, enfim,
informações suficientes, embora não exaustivas, sobre o Senhor, as quais nos
habilitam a amá-Lo e servi-Lo corretamente.
Não tivesse Deus se revelado a
nós e, como cegos, viveríamos tateando na mais abismal escuridão, cultuando
falsos deuses, dado que, como bem pontua João Calvino: “nosso coração é uma fábrica de ídolos”, em tudo carente da
iluminação somente de Deus procedente; da sua suficiente Palavra, “Escola do Espírito”, ainda de acordo
com o notável exegeta da Reforma Protestante. Ao Deus revelado nas Escrituras
Sagradas, “vinde, irmãos, louvar”.
O nosso Deus é, também, o Deus
da soberana providência. Tomamos por empréstimo ao teólogo presbiteriano Heber
Carlos de Campos o justo conceito de “providência
divina como a atividade do Deus triúno por meio do qual ele (a) provê as
necessidades de suas criaturas, (b) preserva todo o universo criado, (c) dirige
todos os caminhos individualmente, (d) governa toda a obra de suas mãos, (e)
retribui todas as obras más e (f) concorre em todos os atos de suas criaturas
racionais, sejam atos bons ou maus, de modo que nada escapa ao seu controle”.
Os três dísticos finais do hino
em apreço sinalizam nessa direção. Deus é grande, poderoso, de tudo cuida com
cirúrgica precisão. Do grão mais ínfimo que fecunda a terra, ao homem, coroa da
sua criação, a muitos dos quais salva, a eles concedendo a profusão dos seus
dons maravilhosos. Ao Deus da providência, “vinde, irmãos, louvar”. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER.
JOSÉ
MÁRIO DA SILVA
PRESBÍTERO
OS ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS DE DEUS
Semana retrasada dissertamos,
nesta coluna dominical, sobre os atributos incomunicáveis de Deus, que são
prerrogativas indisputáveis do Senhor, e não podem ser compartilhadas, em
nenhuma hipótese, com os seres humanos. Como emblemáticos exemplos de atributos
radicados no cerne essencial e intransferível da divindade, apontamos a
onipotência, a onisciência e a onipresença. Deus tudo pode, tudo sabe e em
todos os lugares manifesta a sua gloriosa presença.
Já os atributos comunicáveis de
Deus são aqueles que ele compartilha com as suas criaturas, conferindo a elas
as possibilidades efetivas para encarná-las e manifestá-las em seu viver
cotidiano. É claro que, na realidade concreta e experiencial dos homens, tais
atributos comunicáveis nunca se operacionalizam de modo pleno e isento de
imperfeição, dado que os homens se encontram, ontologicamente, contaminados
pela corrupção do pecado. Em suma: os atributos comunicáveis de Deus
incorporam-se à condição humana e materializam-se de forma limitada.
No viver prático das pessoas
regeneradas, renascidas pelo poder do Espírito Santo de Deus e do transformador
evangelho da graça do Pai e do Filho, tais atributos comunicáveis de Deus devem
ser reais, visíveis e progressivos, uma espécie de antecipação gloriosa daquilo
que nós seremos e faremos quando, completamente glorificados e sem o mais leve
vestígio do pecado, estivermos, definitivamente, na presença do Senhor, com
corpos plenamente renovados e almas totalmente purificadas.
A Escritura Sagrada diz-nos que
Deus é amor. Essa é a imutável essência do seu ser. Amor que, antes mesmo de
ser explicitado nos grandes atos da criação do mundo e do homem, e, depois, na
redenção dos seus eleitos, já se constituía na natureza intrínseca do
relacionamento que, na eternidade, Pai/Filho/Espírito Santo vivenciavam entre
si. O Deus revelado nas Escrituras Sagradas é, sobretudo, um Deus relacional.
Na belíssima Oração Sacerdotal
que realizou, Jesus Cristo fala ao Pai acerca da glória que lhe foi conferida,
porque me “amaste antes da fundação do
mundo” (João 17.24). Pois é exatamente esse amor que norteia o maravilhoso
relacionamento exponenciado pelas pessoas da Trindade que Deus, por meio da
obra regeneradora do seu Santo Espírito, comunica ao seu povo para que ele o
pratique de forma genuína, facilmente perceptível, de modo a fazer com que as
pessoas com as quais nós convivemos percebam, claramente, que, em nós, o
evangelho é uma verdade comprovada por nossos exemplos e gestos; e não um mero
discurso, peça retórica bonita para ser ouvida, mas realidade feia demais para
ser acatada, dado que, flagrantemente, negada pelas nossas atitudes.
Num dos últimos sermões que
pregou aos seus discípulos, Jesus Cristo, de modo luminosamente incontroverso
sentenciou: “Novo mandamento vos dou:
que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos ameis, que também vos ameis uns
aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor
uns aos outros”. (João 13.34,35).
Ao criar o homem à sua imagem e
semelhança, Deus o fez com propósitos distintos, mas rigorosamente
complementares: que ele amasse a Deus com todas as dimensões do seu ser; o
glorificasse em todos os seus atos; e, e igual modo, amasse o seu próximo,
irreservada e altruisticamente, transformando o viver na terra numa experiência
comunitária marcada pelos indeléveis signos da fraternidade, da solidariedade e
do amor recíproco.
O flagelo abominável do pecado,
contudo, conforme conta-nos o santo livro, entrou na história humana, envenenou
os corações e infeccionou as almas com o vírus do desamor, do ódio e da
indiferença. No lugar da cooperação amistosa, instalou-se a competição
predatória; no lugar do cuidado de uns para com os ostros, entronizou-se o
egoísmo e a lógica perversa do cada um por si. Que o diga Caim, que, ao ser perguntado
por Deus acerca do seu irmão Abel, insolentemente respondeu: “Não sei; acaso, sou o tutor de meu irmão?”.
(Gênesis 4.9b).
A Escritura Sagrada nos afirma
que “o amor de Deus é derramado em nosso
coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado”. (Romanos 5.5b). Amar,
portanto, irmãos queridos, não é uma opção a ser acolhida ou rejeitada por nós,
de conformidade com a nossa vontade, mas sim um mandamento do Senhor, para cujo
cumprimento recebemos de Deus a capacitação do seu Espírito Santo.
Assim como o amor, a
misericórdia também é um atributo que Deus nos comunica. Misericórdia é um
atributo moral que faz com que Deus tenha uma disposição permanentemente
benévola para colocar em seu coração um ser miserável, completamente despojado
de qualquer merecimento. Por meio da misericórdia, Deus estende a sua mão
bondosa a quem nada faz para desse ato gracioso tornar-se merecedor. Mesmo
quando arrepende-se dos seus pecados e clama a Deus pela sua misericórdia,
ainda assim, ele não se torna portador de mérito algum, dado que o
arrependimento somente pode brotar no coração do pecador pela ação do Espírito
Santo.
Um dos exemplos mais
impressionantes da misericórdia de Deus, nós encontramos na dramática história
do rei Manassés. Depois de fazer da iniquidade o seu mais acalentado projeto de
vida, Manassés tornou-se prisioneiro de um exército adversário de Israel;
objeto do escárnio público e símbolo de um líder derrotado por sua própria
maldade. Mas, arrependido, ele roga ao Senhor, que se apieda dele, concede-lhe
perdão; enfim, é misericordioso para com ele.
O crente em Jesus Cristo, alvo
da misericórdia de Deus, deve também ser misericordioso com as pessoas que o
cercam e com as quais convive, notadamente com as que mais sofrem,
principalmente, o sofrimento maior, vivenciado pelos que se encontram longe de
Deus e do evangelho da salvação, caminhando, céleres, para uma eternidade de
eterno sofrimento. Um coração duro, frio e insensível à dor alheia, desprovido
de misericórdia, não combina em nada com quem se diz renovado pelo poder do
evangelho.
Outro atributo comunicável de
Deus é o que aponta para a sua gloriosa santidade. A Escritura Sagrada nos
apresenta Deus como um ser santo, santo e santo; aliás, esse é o único atributo
de Deus que aparece repetido três vezes. Alguns intérpretes sugerem que essa
reiteração, para além da intensidade argumentativa de que se reveste, sinaliza
para as três pessoas da Trindade. Seja como for, o ponto evidenciado radica na
absoluta perfeição moral que envolve todo o ser de Deus.
O Livro de Levítico, por
exemplo, está, o tempo todo, lembrando ao povo de Israel, que Deus é santo; e
que ninguém pode se aproximar dele desassistido do ministério de um mediador
eficaz e suficiente chamado Jesus Cristo, tipologicamente, representado por
todo o sistema sacrificial instituído pelo próprio Deus para assegurar ao seu
povo livre acesso à sua presença.
Deus é santo e, de igual modo,
exige santidade dos que se dizem seus servos. Na Oração do Pai Nosso, Jesus nos
ensina a santificar o nome do Senhor em nosso viver. O apóstolo Pedro, em sua
primeira epístola, exorta-nos dizendo: “segundo
é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o
vosso procedimento, porque escrito está: sede santos, porque eu sou santo”
(1 Pedro 1.15b-16).
Na vida prática de um cristão, a
santidade, cultivada de modo progressivo é tão importante, que o autor da
epístola aos Hebreus sentencia: “Segui a
paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. (Hebreus
12.14). O apóstolo João, por sua vez, afirma que quem nutre, em seu coração, a
esperança viva de um dia estar com o Senhor, em sua refulgente glória, “a si mesmo se purifica, assim como ele é
puro” (I João 3.3b).
Amor, misericórdia e santidade,
eis, aqui, três atributos comunicáveis de Deus, que devem fazer parte da nossa
vida aqui na terra, até o dia em que, no céu, se manifestarão de modo pleno e
perene. Certamente, amados irmãos, dada a nossa inata pecaminosidade, nenhum de
nós “é suficiente para essas coisas”,
mas, pela mediação de Jesus Cristo e pelo munificente poder do Espírito Santo,
“em todas essas coisas somos mais do que
vencedores”. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER.
JOSÉ
MÁRIO DA SILVA
PRESBÍTERO
OS SUTIS SUBSTITUTOS DA PREGAÇÃO
Começo a
meditação bíblica deste domingo conferindo o devido crédito à sua matriz
inspiradora: um alentado estudo bíblico ministrado pelo presbítero-teólogo
Solano Portela, uma das referências da Igreja Presbiteriana do Brasil na área
do ensino bíblico, notadamente o que se direciona para o fascinante território
da Educação Cristã em suas múltiplas modalidades manifestativas. “Os sutis substitutos da pregação” foi o
sugestivo título do estudo bíblico empreendido pelo aludido presbítero, tendo
como suporte escriturístico o inspirado texto escrito pelo apóstolo Paulo e,
ato contínuo, endereçado ao seu companheiro de caminhada cristã, o jovem
pastor-evangelista Timóteo.
Estamos no âmbito da segunda
epístola encaminhada pelo bravo timoneiro do cristianismo ao jovem pastor
Timóteo, mais precisamente no conteúdo presente no capítulo quatro da aludida
carta. O contexto no qual Timóteo estava inserido, e no qual tinha sido
vocacionado por Deus para o exercício do seu ministério evangelístico, não era
dos melhores.
Ao contrário, a conjuntura
dominante era bem adversa. Internamente, isto é, na esfera da igreja, parecia
pairar sobre Timóteo certa suspeição quanto às suas reais possibilidades de
levar a bom termo as suas responsabilidades ministeriais. O ponto principal de
tal desconfiança residia na juventude de Timóteo, na sua pouca experiência para
o enfrentamento dos graves desafios que o aguardavam pela frente. A esse
respeito, na primeira epístola que enviou ao jovem pastor, assim se pronunciou
o apóstolo Paulo: “Ninguém despreze a
tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no
procedimento, no amor, na fé, na pureza” (1 Timóteo 4.12).
Externamente, a corrupção
doutrinária já exibia a sua face perversa, por meio da instrumentalidade de
falsos mestres que, despidos do mais leve vestígio de temor a Deus e apreço por
sua Palavra, não hesitavam em fazer da disseminação do erro o seu paradigma
comportamental predileto. Tais homens, no dizer apostólico, “são de todo corrompidos na mente, réprobos quanto
à fé” (2 Timóteo 3.8b). Numa quadra assim, hegemonizada pelo flagelo da
mentira teológica e de toda espécie de adulteração da Revelação do Senhor, dois
eram, dentre outros, os perigos que cercavam Timóteo. O primeiro seria,
simplesmente, fugir do campo da batalha, desertar do imperioso e claro
chamamento do Senhor para ser um proclamador incansável das transformadoras
verdades do seu glorioso evangelho. Contra tal possibilidade, de modo firme
sentencia Paulo: “Por esta razão, pois,
te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas
mãos. Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor
e de moderação” (2 Timóteo 1.6,7).
O segundo perigo a rondar o
ministério de Timóteo, tão ou mais nefasto ainda quanto o primeiro, era o que
poderia ser traduzido pela tentação do jovem pastor em reagir à situação
circundante utilizando-se daqueles expedientes a que Paulo, noutra porção
escriturística, chamou de “armas carnais”
(2 Coríntios 10.4a). No caso em foco, tais armas se corporificariam na adoção
de um evangelho comprometido em sua inalterável essência, no núcleo duro do seu
inamovível conteúdo bíblico-teológico. Um evangelho humanista, facilmente
digerível por pecadores “mortos em seus
delitos e pecados” (Efésios 2.1b). Um evangelho psicológico, terapêutico,
massageador do ego e nada confrontador do pecado. Evangelho sem cruz, sem
sangue, sem a glória de Deus, sem a majestade de Jesus Cristo, sem necessidade
de arrependimento, sem novo nascimento, sem renovado compromisso com o
crescimento em santidade. Enfim, um evangelho aprovado pelos homens e reprovado
por Deus.
Em
nossos dias, não têm sido poucos os pastores que, enredados pela falácia de uma
igreja mais relevante – como se a relevância da igreja não decorresse do
simples fato de ela ser o corpo de Cristo, “coluna e baluarte da verdade” (2 Timóteo 3.16 b)- têm se afastado
do padrão fixado pelas Escrituras Sagradas para o ser/fazer da igreja e, em
direção diametralmente oposta, enveredado pela estranha senda da absorção de
metodologias mercadológicas e empresariais, supondo ser a igreja uma mera
organização humana, movida pelo braço e pela força dos homens. Por tal viés
desviante, os resultados a serem obtidos pela igreja, em sua práxis
evangelizadora cotidiana, são mais importantes do que a fidelidade à Palavra de
Deus, numa demonstração evidente de capitulação ao império da filosofia
pragmática, em cujo estuário o que vale não é o que é certo, porque Deus diz em
sua Palavra que é certo, mas sim o que funciona e atrai, carnalmente, o maior
número de pessoas.
Timóteo corria, sim, o risco de
adotar, em seu ministério, o que, com muita propriedade, Solano Portela
classificou como “os sutis substitutos
da pregação”, declinando do dever de “anunciar
todo o conselho de Deus” (Atos 20.27b), preferindo, em seu lugar, a
harmonia com a vontade pecaminosa dos que o ouviam. Contudo, a exortação
apostólica para o caminho a ser seguido por Timóteo foi claríssima: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste
e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância,
sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação pela fé em
Cristo Jesus” (2 Timóteo 3.14,15). O ponto nodal, aqui exponenciado, é que,
contra todos os modismos, invencionices e heresias, Timóteo deveria permanecer
firme no sólido terreno das Escrituras Sagradas, nas quais ele encontrou a
suficiente salvação somente propiciada pela pessoa e obra expiatória do Senhor
Jesus Cristo.
O apóstolo Paulo, em seguida,
faz uma exortação solene a Timóteo, tomando como testemunhas Deus Pai e Deus
Filho, tamanha era a seriedade de que se revestia o apelo direcionado a
Timóteo: “Prega a palavra, insta, quer
seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e
doutrina” (2Timóteo 4.1). A ênfase aqui não é que Timóteo deveria ser
agressivo e desrespeitoso para com as pessoas a quem destinaria a sua pregação,
nem muito menos inconveniente e insuportavelmente chato. Nada disso. O ponto é
que, quer em circunstâncias favoráveis, quer em ocasiões adversas, a Palavra de
Deus tem de ser anunciada em sua integralidade, de forma longânima e
doutrinária. O argumento seguinte apresentado pelo apóstolo é espantoso: “Haverá tempo em que os homens não
suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as
suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a
dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2 Timóteo 4.3,4). Tendo
para com a Palavra de Deus uma atitude tão resistente e desprezível, tais
ouvintes, na busca frenética pelos “sutis
substitutos da pregação”, valorizarão pregações alicerçadas na leviandade e
na superficialidade de enfoques suaves, tingidas de altas doses de subjetivismo
existencialista, com um mínimo de exposição bíblica séria; e um quase nada de
confrontação com o pecado, exigência de arrependimento e fé em Jesus Cristo.
Valorizarão a cultura hedonista do entretenimento, ancorada em cultos
antropocêntricos, feitos para a satisfação dos frequentadores de igreja, aqui
concebidos não como adoradores penitentes e prostrados diante da majestade do
Pai, pela mediação do Filho, no poder do Espírito Santo, mas sim como
consumidores exigentes, pródigos em atravessar a calçada e procurar outros
arraiais ditos evangélicos, ao menor indício de contrariedade das suas
intocáveis vontades. Valorizarão o ativismo emocional, o correr de um lado para
o outro, intenso e irrefletido, produzido para apaziguar a consciência e dar
uma enganosa sensação de bem-estar. Valorizarão a opulência de estruturas
organizacionais eclesiásticas alheias às prescrições bíblicas, mas aplaudidas
pelos homens como indesmentíveis signos de êxito e da suposta bênção de Deus,
esquecidos de que Deus vela pelo cumprimento da sua Palavra, conforme Ele bem o
disse ao profeta Jeremias e não pela satisfação de nossas caprichosas e
rebeldes vontades. Que Deus preserve o nosso coração e nos impeça de anelarmos,
um segundo que seja, por qualquer coisa que, pecaminosamente, intente
substituir, ainda que sutilmente, os inexauríveis tesouros da sua suficiente
Palavra. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER.
JOSÉ
MÁRIO DA SILVA
PRESBÍTERO
VIDA QUE NASCE DA MORTE
VIDA QUE NASCE DA MORTE
Comecemos a nossa meditação de hoje com um pressuposto: a Escritura
Sagrada não exibe contradições, mas paradoxos. A distinção semântica entre uma
realidade e outra é flagrantemente ostensiva. Numa contradição, em qualquer que
seja o campo em que ela se manifesta, um elemento conceitual finda invalidando
o outro, com o qual estabelece uma dada relação de sentido.
A linguagem da contradição é
muito referencializada, por exemplo, no território de um depoimento que se
presta em juízo, diante de uma autoridade constituída. Quando o que se afirma
num determinado momento conflita, abertamente, com o que se asseverou noutro,
então o relato resulta carente de integridade, revelando-se, portanto, falso. O
paradoxo, ao contrário, conquanto lide com realidades aparentemente antagônicas
e de difícil harmonização por parte da finita e pecaminosa mente humana, põe,
lado a lado, conceitos que são igualmente verdadeiros.
Afirmamos que as Escrituras
Sagradas estão impregnadas de paradoxos. E, de fato, elas estão. Dentre os
muitos que enxameiam as inspiradas páginas do santo livro de Deus, invoquemos,
à guisa de exemplificação, um que nos parece ser um dos mais impressionantes e
eloquentes, exatamente, o que sinaliza para a soberania de Deus e suas
indeslindáveis vinculações com a responsabilidade humana. A Palavra de Deus, de
Gênesis a Apocalipse, ensina, sobrantemente, que Deus é soberano; é o
controlador supremo de toda a história delineada no universo que ele mesmo
criou para o seu louvor e glória; que tudo quanto acontece e haverá de
acontecer não é fruto do acaso; antes, obedece a um plano que, santa e
sabiamente, foi decretado pelo Senhor, nos invisíveis bastidores da eternidade.
Esse é um lado da verdade,
cristalino e irrefutável. De igual maneira, a Escritura Sagrada ensina que o
homem é um ser responsável, não age como uma máquina programada mecanicamente;
antes, é portador de inalienável moralidade. Como se harmonizam essas duas
instâncias conceituais teológicas, é tarefa complexa e inalcançável para o ser
humano, mas, perfeitamente, solucionada na mente infinita do Criador. Em toda a
parte da Revelação, encontramos o Senhor, por meio dos seus porta-vozes,
exortando os homens ao arrependimento e ao abandono dos pecados. Contudo, na
Escritura Sagrada também aprendemos que é Deus, pela ação benévola do seu Santo
Espírito, que concede ao homem a graça do arrependimento, dado que, “morto em delitos e pecados” (Efésios
2.1b), sem o monergístico agir divino, o homem jamais esboçará qualquer gesto
de inclinação em direção a Deus.
Dentre esse repertório de
paradoxalidade de que se impregna o texto bíblico, deparamo-nos com o ponto de
que o cristianismo, encarado em seu cerne doutrinário, é, ao mesmo tempo, vida
e morte, dependendo do ângulo por meio do qual ele é encarado. Num sentido,
digamos, positivo, o cristianismo é vida; vida plena; vida eterna; vida
genuinamente feliz; pelo simples fato de ser enraizada naquele que, não somente
possui a vida, mas é a própria vida.
O evangelista João, na parte
prolegumenar do seu livro, ao discorrer sobre Jesus Cristo, afirma,
solenemente, que “a vida estava nele e a
vida era a luz dos homens” (João 1.4). Noutra porção do seu inspirado
relato, ouvimos dos lábios do Filho de Deus a confortadora assertiva: “O ladrão vem somente para roubar, matar e
destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância” (João
10.10). Todos nós estávamos mortos nos nossos delitos e pecados, conforme
doutrina o apóstolo Paulo na epístola endereçada aos efésios. “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por
causa do grande amor com que nos amou” (Efésios 2.4), nos concedeu vida, ao
aplicar em nossos corações, pela instrumentalidade da pregação do evangelho e
do agir do Espírito Santo em nós, as virtudes gloriosas do sacrifício redentivo
que Jesus Cristo realizou na cruz do calvário em nosso favor.
Entretanto, numa acepção
negativa, cristianismo também é morte, na medida em que, biblicamente falando,
viver para Deus pressupõe, inevitavelmente, o morrer para nós mesmos, para o
nosso congênito egoísmo e senso de independência de Deus, coração intocável do
pecado, visto como uma condição e um estado do homem diante do Criador. Morrer
para os velhos apetites da carne, que, mesmo crucificada com Cristo Jesus,
ainda insiste em manifestar as suas indesejáveis obras. Morrer para um estilo
de vida autocentrado e idolátrico, que, em vez de ter na justa promoção da
glória de Deus o seu indesviável alvo, consagra-se à satisfação de um ego
orgulhoso e amante de si mesmo.
Na exuberante epístola que
endereçou aos cristãos da cidade de Colossos, o apóstolo Paulo enfatiza que a
união mística do crente com Jesus Cristo produz, naturalmente, morte para o
pecado e vida para Deus. Por esse viés, a santificação, por meio da qual Deus
nos salva e continua a nos salvar do poder escravizador do pecado residente em
nós, numa dimensão bem prática, constitui-se num morrer diário para o pecado e
num viver contínuo para Deus e para os santos valores do seu reino.
Certa feita, numa atitude
diametralmente oposta à que hegemoniza a filosofia pragmático-marqueteira do
nosso tempo, sempre ávida por satisfazer, incondicionalmente, os desejos e
caprichos de consumidores cada vez mais exigentes, principalmente os que
abarrotam o inflacionado mercado religioso, Jesus Cristo “convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se
negue, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser, pois, salvar a sua vida,
perdê-lá-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-lá-á”
(Marcos 8.34,35).
Aqui está, ratificado nas
palavras do Filho de Deus, um dos grandes paradoxos da fé cristã, alicerçado
numa perda, que é ganho; e numa vida, que nasce da morte. A grande e simples
questão que se impõe é a seguinte: o que o mundo julga ser um ganho, Deus
afirma que é perda; e o que o mundo considera perda, Deus assegura que é um
ganho eterno. Cristianismo é vida que
nasce da morte. Eis, aqui, um paradoxo que pode fazer toda a diferença, não
somente para o que aqui e o agora, mas para toda a eternidade. Morramos para
nós mesmos e vivamos para Deus. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER.
JOSÉ
MÁRIO DA SILVA
PRESBÍTERO
A RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO
A RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO
A doutrina da ressurreição física e histórica do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo constitui-se num dos pilares fundamentais do Cristianismo, não podendo, em hipótese alguma, ser removida, nem alterada, em sua essencialidade conceitual, sob pena de resultar inteiramente desfigurada a fé cristã.
Ao longo da história, não poucas foram as vozes que se levantaram para questionar o fato concreto de ter o Filho de Deus, depois de ter passado três dias agasalhado no seio frio da terra, ressuscitado, corporalmente, e se apresentado, “com infalíveis provas”, aos seus discípulos, conforme o incontroverso testemunho das Escrituras Sagradas.
Primeiro, de acordo com o relato dos evangelhos, houve uma fraudulenta tentativa de falseamento dos fatos. A estratégia mentirosa era se divulgar que os discípulos de Jesus Cristo haviam roubado o corpo de Jesus Cristo e, posteriormente, o ocultado e propagado a tese da sua ressurreição, contando, para o êxito do referido engodo, com a credulidade ingênua das massas ávidas por qualquer forma de expressão da esperança.
Mais adiante, considerando que o Diabo nunca se cansa de atentar contra a verdade, dado que é o Pai da Mentira, os teólogos liberais encarregaram-se de produzir uma versão de cariz existencialista para a ressurreição de Jesus Cristo. Para esses apóstolos da incredulidade, Jesus Cristo não ressuscitou dos mortos literalmente, mas, sim, espiritualmente, no coração das pessoas que ouvem o seu evangelho; tomam conhecimento da sua mensagem; e, ato contínuo, acolhem-na; dão-lhe crédito e, assim, tornam melhor a si mesmas e o mundo no qual estão inseridas.
Vê-se, aqui, claramente, que essa (des)crença radica em pressuposições puramente subjetivistas, carentes de qualquer dimensão de objetividade e historicidade. Para esses arautos consumados da incredulidade, que negam qualquer estatuto de sobrenaturalismo na Palavra de Deus, Jesus Cristo não morreu para salvar ninguém; antes, com a sua vida santa, amorosa, e morte solidária, deu-nos um grande exemplo, a fim de, inspirados nele, podermos nos aperfeiçoar moral e espiritualmente.
Conquanto supostamente refinadas intelectualmente e matizadas por uma falsa piedade, inescondivelmente tingidas de exacerbado humanismo, tais pontos de vista são inspirados por aquele que, desde o princípio, tem-se oposto a Deus e à verdade da sua santa Palavra.
Diferentemente dessas ideias contrárias à Palavra de Deus, aprendemos nas Escrituras Sagradas que a ressurreição de Jesus Cristo, operada pelo prodigioso e poder de Deus, foi corpórea, visível e histórica. Jesus Cristo, como ele mesmo afirmou e prometeu aos seus discípulos, ressurgiu dentre os mortos corporalmente, sendo visto e tocado por muitos no palco concreto da história.
Examinada, à luz das Escrituras Sagradas, a ressurreição de Jesus Cristo sinaliza para uma série de verdades extremamente significativas para a vida do cristão. Em primeiro lugar, a ressurreição de Jesus Cristo ratifica a suficiência das Escrituras Sagradas, dado que, em várias passagens, ela é ensinada com inquestionável clareza.
No Antigo Testamento, por exemplo, mais precisamente no poético Livro dos Salmos, aprendemos que Deus não permitiria jamais que o corpo do seu Filho amado experimentasse a corrupção inerente à morte física, numa indicação clara de que o foco, aqui, é o da ressurreição de Jesus Cristo.
Em segundo lugar, a ressurreição de Jesus Cristo aponta para a sua completa vitória, na condição de verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, sobre a morte, o pecado e o Diabo. A morte de Jesus Cristo, na Bíblia Sagrada, não é encarada como um fatalismo histórico, contra o qual o Senhor Jesus Cristo nada pôde fazer, mas, sim, como uma entrega sacrificial voluntária, pois, como bem disse Jesus Cristo, ele recebeu do Pai um duplo mandamento: doar a sua vida em favor dos seus eleitos e, depois, reassumi-la na ressurreição.
Em terceiro lugar, a ressurreição de Jesus Cristo é um indício claro de que a sua obra redentiva, em benefício do seu povo, foi plenamente aprovada pelo Pai, que o ressuscitou dentre os mortos, o glorificou e lhe conferiu um nome que está acima de todo nome; e diante de quem, na consumação de todas as coisas, todos os seres humanos haverão de se curvar e reconhecer o seu absoluto senhorio, conforme assevera o apóstolo Paulo em sua Epístola aos Filipenses.
Em quarto lugar, a ressurreição de Jesus Cristo escancarou as portas do céu e propiciou a vinda, em plenitude, do Espírito Santo, para batizar a igreja, selá-la, fazer-se o penhor da sua herança eterna, e nela permanecer eternamente. Não que o Espírito Santo, no Antigo Testamente, fosse um ilustre desconhecido. Nada mais falso e desarmonizado com uma boa compreensão acerca da doutrina do Espírito Santo. O ponto, aqui, é a intrínseca relação que há entre a obra salvífica de Jesus Cristo e a descida do Espírito Santo.
Em quinto lugar, a ressurreição de Jesus Cristo é o fundamento inabalável da nossa justificação, pois, de acordo com o inspirado escrito do apóstolo Paulo endereçado aos Romanos, Jesus Cristo “por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Romanos 4.25b).
Por último, a ressurreição de Jesus Cristo é a antecipada garantia de que nós haveremos também de ressuscitar e receber das mãos do nosso Salvador bendito, conforme as promessas infalíveis da sua Palavra, um corpo glorioso, completamente renovado, não mais sujeito às contingências terrenas, às tentações que nos angustiam, ao pecado que nos envergonha, à dor que nos maltrata, ao sofrimento que nos aflige e, por fim, à morte. Assim, rendamos ao Senhor Jesus Cristo, que morreu, mas está vivo pelos séculos dos séculos, hoje e sempre, todo louvor, honra, glória e adoração. Vivamos para o seu completo agrado, servindo-o, amando-o e a ele obedecendo irreservadamente. SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER.
JOSÉ MÁRIO DA SILVA
PRESBÍTERO
Assinar:
Postagens (Atom)
Tipos de sermões que atrapalham o culto
Tipos de sermões que atrapalham o culto Robson Moura Marinho A Arte de Pregar – A Comunicação na Homilética. São Paulo: VIDA NOVA, 1999....

-
O "apóstolo" René Terra Nova, do Ministério Internacional da Restauração (MIR), no dia 19 de junho foi reconhecido publicament...
-
No nosso estudo de hoje analisaresmos à luz da bíblia por que os crentes, em geral, e os presbiterianos em particular não guardam o sábado ...