Não é Comigo! Uma Parábola para os nossos Dias.


Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo?
                                                                                            Lc 10:29


Lc 10:25-37
O bom Samaritano.
     Nossos dias são caóticos, parece que estamos dormindo, ou pior ,que andamos como zumbis em meio a outros zumbis, precisamos de uma couraça de insensibilidade porque todos são suspeitos até que se prove ao contrário. Uma vez presenciei uma cena que seria Hilária se não fosse triste, uma Kombi de escape furado fez várias pessoas em uma parada de ônibus jogarem-se no chão. As pessoas estavam julgando ser um rajada de metralhadora.
No texto que acabamos de ler, presenciamos uma cena chocante até mesmo para os nossos dias. Quando o  evangelista Lucas escreveu seu livro o Espírito Santo o guiou de tal maneira que o livro veio a se tornar uma bomba na vida dos "religiosos" mais famosos daquela  época, os fariseus.
Vejamos que no verso 29 querendo por Jesus a prova começam a provocá-lo. O intérprete da lei tinha regras bem definidas e sabia quem era seu "proximo" ,ele considerava próximo apenas os judeus, ou seus familiares e ninguém mais.(Lv 19:17-18) os rabinos tinham um ditado que dizia: Que os heréticos, os delatores e renegados sejam  empurrados para o fosso e não devem ser tirados de lá.
outro midrash (interpretação da lei por parte dos rabinos) circulava nos tempos de Jesus que dizia:  Dos gentios, com quem não temos guerra, bem como os que são guardadores de ovelhas entre os israelitas, e outros semelhantes, não devemos planejar a morte; mas estiverem em algum perigo de morte, não somos obrigados a livrá-los; por exemplo, se algum deles cair no mar, você não precisará tirá-lo.



A resposta do nosso mestre à indagação do intérprete da lei, como sempre, foi surpreendente! Jesus faz uma parábola justamente tendo o  samaritano como herói, que além de não ser o próximo ainda era completamente odiado pelos Judeus. O auditório esperava que Jesus seguisse o ensino da maioria e se conformasse com as opiniões que eram proferidas por religiosos de grande influência e respeito como era o caso dos escribas.



Acompanhando o texto vemos logo no verso 31 que o sacerdote passou de largo.  Viu o corpo em estado de quase morte e passou para outro lado da via e ficamos a nos perguntar por que? Ao analisar-mos mais detalhadamente a história da Palestina naqueles tempos entendemos logo que o sacerdote veio de uma semana de purificação em Jerusalém, ele não podia  contaminar-se com um semi-morto. além do mais havia uma outra regra entre os rabinos que dizia: Por isto sabemos que se um homem vê o seu próximo morrendo afogado, sendo atacado por feras ou ladrões é obrigado a savá-lo! (B.T. Sanhedrin 73a)

 Com esses dados fica mais claro não é mesmo? Em primeiro lugar precisamos entender que os Sacerdotes eram ricos naquela sociedade, possuíam muitos bens e dinheiro, com certeza não percorreriam aquele caminho a pé e sim montado em um cavalo. o percurso total era de 27km. Havia também o perigo de ele próprio ser assaltado porque essa estrada é repleta de ladrões até os dias de hoje. Em segundo lugar Os Sacerdotes viviam em um código rígido  de leis que dizia o que deviam ou não deviam fazer, eram como robôs. Em terceiro lugar ele não teria como identificar  se a pessoa ferida era próximo porque muito provavelmente os ladrões haviam levado as suas roupas(os judeus poderiam ser facilmente identificados por suas roupas) tecido era algo caro e raro nesse período, também não poderia tocá-lo por parecer  morto! Continuemos nossa análise.
Segue o caminho logo atrás do sacerdote um levita (Quando acabava uma festa religiosa em Jerusalém, em primeiro lugar saíam os sacerdotes seguidos dos levitas e depois o povo.) logicamente que o levita também não ajuda àquele necessitado, ele sabia que havia passado um sacerdote, portanto, se o mestre espiritual (seu pastor) não teria feito nada,porque ele teria que fazer? Ele que era um simples levita! e outra coisa o sacerdote tinha um cavalo! Poderia até ter pensado consigo --Eu, um singelo levita, levarei um defunto, que não sei nem se é meu próximo ou não, nas costas e a pé? De forma alguma! isso não é comigo!
O terceiro a passar era o mais improvável de todos, um samaritano! deixe eu lhe contar caro leitor o que era um samaritano na cabeça de um Judeu da época, pelas frases abaixo você logo terá uma Idéia do ódio que Jesus estava levantando e da ferida infectada que ele estava tocando.
Livro chamado sabedoria de Ben Sirach 2000 anos antes de Cristo afirmava:
Dois povos aborrecem minha alma, e o terceiro não é um povo: os que habitam no monte Seir, e os filisteus, e o povo insensato que havia em Siquém(samaritanos).

Os samaritanos eram publicamente amaldiçoados nas sinagogas; diariamente era feita uma petição a Deus para que os samaritanos não fosse participantes da vida eterna.

Jesus bem  que poderia ter feito uma parábola de um Judeu nobre ajudando um samaritano, não é mesmo? assim o público o aplaudiria! Mas graças a Deus Jesus gosta de contrariar a lógica humana. Além de transformar o bandido em mocinho, ele fala de sentimentos que os judeus achavam serem inexistentes em  samaritanos, eles simplesmente tinham os samaritanos por porcos apesar de serem Judeus e possuírem a Torá.
Aqui o samaritano demonstra  a compaixão! a palavra grega é mais forte que a tradução para o português  splanchnizomai dá a idéia de mexer as entranhas, mexer por dentro,sabe aquele frio na barriga ao ver meninos no meio de um lixão ou a dor no peito em ver um caso muito chocante, aquela profunda vontade de fazer algo? foi justamente esse sentimento que tomou aquele homem, um rebuliço, uma agitação gigantesca dentro da alma ao ver outro ser humano jogado, parecendo um morto e nú na beira de uma estrada perigosa como aquela!

O samaritano sabia que ele próprio poderia estar correndo perigo de vida! Este homem inconsciente era provalmente um judeu que descia da festa religiosa que eles não podiam entrar. E ele também correria o risco de censura por parte da sua família e amigos. a despeito de todas essas considerações, ele sente profunda compaixão pelo homem ferido, e essa compaixão é imediatamente traduzida em atos concretos. O samaritando limpa e suaviza as feridas com óleo e depois desinfeta com vinho. apesar de parecer muito simples o óleo e o vinho usados nesta parábola eram uma outra "afronta" da parte de jesus para com os religiosos da época, porque todos sabiam que óleo e vinho eram apenas usados pelos sacerdotes para as libações religiosas, ou seja, eram derramados no altar para limpar as feridas da alma e curá-las.
Jesus põe na mão de um odiado, a misericórdia que Deus requer dos que se dizem religiosos em todas as épocas.
Portanto meus irmãos, se nos dizemos crentes e estamos congelados com relação às necessidades do nosso próximo, se não mais ouvimos o  clamor,se não mais nos importamos, estamos exatamente iguais aos judeus, vivendo apenas um ativismo religioso sem vida. Lembremos do que nos diz Tiago Tiago 2:26  Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta.
Em conclusão, podemos dizer que a parábola do bom Samaritano denuncia a traição cotidiana do amor em nome de muitas e 'sérias razões': "não é comigo", "não tenho tempo"… Esta traição deu-se no passado e continua no presente: «ver e passar ao lado», «seguir adiante», faz parte do nosso cotidiano!
Foi um odiado, um rejeitado, pense em algum grupo da sociedade desprezado em nossos dias, o samaritano de hoje poderia ser um nordestino de fala feia e roupas esfarrapadas, poderia ser uma drag queen com seu jeito pouco ortodoxo, poderia ser um índio "preguiçoso" , poderia ser um "negro safado" mas é justamente esses que parecem não se encaixar com nossos padrões que Cristo mais gosta de usar. àquele quem todos desprezam foi o que se mostrou sensível ao drama do ferido e fez o que era preciso: parou, não perguntou pela identidade, mas deixou que falasse o coração, e este sugeriu-lhe o comportamento acertado; ao contrário do doutor da Lei que pretendia um serviço ao próximo bem controlado.
Ore a Deus peça que mude sua dura cerviz, peça que você deixe de olhar para si mesmo e passe a olhar para o outro com os olhos do outro. Essa é a verdadeira religião:fé e ação! Deus nos Ilumine.

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