O
S FUNDAMENTOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS DA FÉ EM JESUS CRISTO
Crer em Jesus Cristo é um
conceito que tem ganhado, no território mais afeito ao senso comum, as mais
diversas acepções semânticas, aparentemente inofensivas, mas, na realidade,
padecedoras de uma grave inconveniência, a de não serem respaldadas pelas
Escrituras Sagradas, regra única de fé e de prática do cristão, fonte infalível
e suficiente da verdade absoluta que, graciosamente, Deus revelou ao homem a
fim de que por mio dela ele conhecesse não apenas o estado espiritual em que se
encontra, matizado por pecado e condenação, mas também a grande e eterna
salvação que o Senhor nos oferece em Cristo Jesus, Salvador e Senhor nosso.
Para muitos, expressiva parte da
humanidade, crer em Jesus Cristo significa admitir, vaga, histórica e convencionalmente,
que Ele existe, criou todas as coisas existentes e habita alguma galáxia
distante do planeta terra, de onde governa todas as coisas. Para outros, crer
em Jesus Cristo significa acreditar que Ele tem poder para interferir na vida
das pessoas, de preferência para dar solução a todos os problemas existenciais
que as afligem.
Para os que se encontram com as
suas contas no vermelho, Jesus Cristo se afigura como o mais abalizado
economista. Para os que se sentem demasiadamente incomodados com a solidão
afetiva, Jesus Cristo se credencia como um inexcedível consultor sentimental.
Para os que são alcançados por súbitas e insanáveis enfermidades, Jesus Cristo
é um eficaz curandeiro, com disponibilidade de atendimento vinte e quatro horas
por dia.
Na mente e coração de muitas
pessoas, impregnadas todas elas de acendrado sentimento religioso, essas são
algumas das compreensões exibidas acerca do que julgam e presumem ser o ato de
crer em Jesus Cristo, o sublime e glorioso Filho de Deus. O coração do homem,
contudo, conforme o inspirado dizer do profeta Jeremias, “é enganoso e desesperadamente corrupto” (Jeremias 17.9a), daí a
imperiosa e indescartável necessidade que ele tem de compatibilizar,
permanentemente, o seu pensar/sentir/agir, não com os (anti)valores corrompidos
que infestam todas as dimensões constitutivas da sua natureza, mas sim com as
Escrituras Sagradas, nas quais encontramos sólida e santa orientação para todas
as áreas configuradoras da vida humana.
Assim, caso verdadeiramente
queiramos ser instruídos a respeito do que significa crer em Jesus Cristo, é
somente na Palavra de Deus, em cujo centro Jesus pontifica como a personagem
mais sublime e relevante, que podemos deslindar tal verdade. Dado que o ser
humano em sua integralidade se constitui de dimensões afetivas, intelectivas e
volitivas, o ato de crer em Jesus Cristo, de conformidade com a Escritura
Sagrada, passa por cada uma delas.
Desse modo, crer em Jesus Cristo
pressupõe um entendimento correto acerca de quem Ele é; uma confiança
inteiramente depositada em sua pessoa e na obra expiatória por Ele consumada no
calvário, proveniente de um coração liberto e desejoso de em Cristo Jesus
depositar toda a confiança no tocante à salvação; e, por fim, uma vinculação de
todos os sentimentos e afeições a Cristo Jesus, aquecidos por um relacionamento
vivo, dinâmico e profundo com Aquele que nos amou a ponto de entregar a sua
vida em favor do resgate das nossas pobres e pecadoras almas.
Pontua-se aqui, de modo
indelével, o crer em Jesus Cristo como a expressão de uma convivência
inseparável com o Salvador, adubada pela fé, que é um dom da graça, e norteada
pela Escritura Sagrada. Vê-se, portanto, que a verdadeira crença em Jesus
Cristo deve operacionalizar-se nos estritos termos demarcados pela Palavra de
Deus. Assim, é necessário que o homem saiba quem é Jesus Cristo. Pela Escritura
Sagrada, aprendemos que Jesus Cristo é Deus; que, desde toda a eternidade, numa
cronologia inapreensível pela finita mente humana, Ele sempre habitou com a
Trindade, desfrutando, na corte celestial, da glória somente a Ele devida.
Aprendemos, de igual modo, que, voluntariamente, por obediência ao Pai e sacrificial
amor por seu povo, Ele aceitou a humilhação de se fazer carne; vir a este mundo
amaldiçoado pela presença do pecado; ser alvo de todos os escárnios e
ignomínias dos pecadores; e, por fim, morrer numa cruz de horrores e
ressuscitar ao terceiro dia, a fim de conceder vida eterna a todos os que,
atraídos eficazmente por seu Santo Espírito, são convencidos dos seus pecados,
levados ao arrependimento e, ato contínuo, à fé salvadora que os une, para
sempre, ao bendito Filho de Deus.
Em suma: crer em Cristo Jesus
significa conhecê-lo de perto e profundamente. Conhecimento esse que,
transcendendo em muito a perspectiva meramente intelectual, radica, conforme
sinaliza Geehardus Vos em sua exponencial Teologia Bíblica, “na realidade
de alguma coisa estar interligada com a experiência íntima de vida”.
Diante, pois, dessas verdades
cristalinamente reveladas pela Palavra de Deus, alguns questionamentos da mais
alta seriedade e urgência, inevitavelmente, afloram tanto à consciência do
redator desta meditação quanto à dos que a lerem. Já cremos genuinamente em
Jesus Cristo? Já O conhecemos do modo como Ele se revelou nas Escrituras
Sagradas ou, ao contrário, temos firmado as nossas bases de fé na areia e
fumaça de cristo falsos e desamparados da chancela da Palavra de Deus? Já
abandonamos de uma vez por todas a fútil e pecaminosa crença de podermos ser
aceitos por Deus por meio dos trapos imundos das nossas corrompidas obras? Já
nos convencemos da imprestabilidade da nossa religiosidade vincada em meras
tradições? Já passamos mesmo a confiar unicamente no Filho de Deus como Aquele
que, por meio da vida santa, da morte substitutiva e ressurreição histórica,
visível e corporal, conquistou para nós a justificação, a redenção, a
reconciliação, enfim, a graça da vida eterna?Que Deus, pela instrução da sua
Palavra e pela ação iluminadora do seu Santo Espírito, nos faça, uma vez mais,
compreender o que significa crer em Cristo Jesus. Que haja em cada um de nós a
renovada alegria da salvação, sinal superlativamente evidenciador de um coração
perdoado e galardoado pelo bem maior: Jesus Cristo. SOLI DEO GLORIA NUNC ET
SEMPER.
JOSÉ
MÁRIO DA SILVA
PRESBÍTERO
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